Mais uma vez o racismo brasileiro mostrou a sua cara. E foi uma cara feia, cheia de ódio e escárnio. Desta vez, a vítima foi a “moça do tempo” do Jornal Nacional, Maria Júlia. Mulher, negra e bem sucedida. “Será que ela não sabe o seu lugar?”, se perguntaram os inconformados. E a resposta veio pelas redes sociais: xingamentos, ofensas, “piadas” racistas. Imediatamente, milhares de internautas se manifestaram em sua defesa, adotaram o “somos todos Maju”, mandaram emails e mensagens de apoio. Os colegas da Rede Globo fizeram o mesmo, e houve até palavras de desagravo no JN.
O episódio foi sintomático em vários aspectos. Primeiro, quanto a um fenômeno que tem sido bastante debatido, que é o uso da internet e das redes sociais para disseminar palavras de ódio e preconceito. Outra coisa interessante é uma espécie de rebeldia com o que as pessoas chamam de “politicamente correto”, em nome da liberdade de expressão e do humor. “Que chatice, não se pode mais falar nada!”. Quem nunca escutou isso? Na verdade, ao contrário do que muitos dizem, o “politicamente correto” é uma consequência da liberdade de expressão, pois, quem se sente ofendido tem o direito de se manifestar e ser ouvido. Muitas vezes, isso gera polêmica. E assim se vive nos regimes democráticos…
O caso de Maju também vem explicitar o nosso racismo cultural, que nos remete à colonização, á escravidão e à desqualificação das chamadas “raças inferiores”. Ao negro, sempre foram reservadas as funções subalternas, braçais – por que o trabalho era considerado degradante. Os viajantes estrangeiros ficavam horrorizados com as nossas sinhás que não se levantavam para pegar um copo de água, mas ordenavam que suas mucamas o fizessem. Esse tipo de pensamento se cristalizou em nosso imaginário e, ainda hoje, causa estranhamento quando aparece um negro em uma situação de comando ou destaque. “Que negrinho (negrinha) atrevido!”, surge aquela voz interna e ancestral a gritar.
Em relação às mulheres, a situação é mais difícil. Ser mulher, em uma sociedade patriarcal, era ser inferior. A mulher tinha como função servir o homem: as brancas como parideiras e donas de casa; as negras para trabalhar e para os apetites sexuais. “Branca para casar, negra para trabalhar, mulata para f…”, era o ditado da época. Hoje, passados mais de 120 anos da abolição da escravidão ainda pagamos um preço alto pelo nosso passado. Somos racistas, mas negamos veementemente (conheço poucos brasileiros que admitem abertamente o racismo). Queremos crer que vivemos na tal “democracia racial”.
Usamos o anonimato das redes sociais para botar para fora nosso recalque, ou o anonimato da multidão das torcidas de futebol para xingar jogadores e juízes de “macacos”. No fundo, muita gente ainda sonha com aquele ideal de sociedade hierarquizada, em que todos supostamente sabem o seu lugar. Mas, você deve estar se perguntando, indignado: “Eu não sou racista, nunca fiz tais coisas, apoiei o Aranha (goleiro) e agora estou me manifestando a favor da Maju”. Ótimo. Na minha opinião, porém, a luta contra o racismo e contra a discriminação é também interna. Em algum momento, toda essa carga do passado pode e vai se manifestar. Se temos um pensamento preconceituoso – e todos temos, de vez em quando – devemos reconhecer a nossa mesquinhez e nos envergonhar dele.
Colocar frases de apoio a uma linda moça negra é importante, claro, mas devemos ter consciência que o combate ao racismo – e ao machismo também – vai muito além disso. O primeiro passo, a meu ver, é aceitar que somos herdeiros de uma cultura preconceituosa e racista, somente assim poderemos efetivamente combater esse mal que impede nossa sociedade de se tornar mais justa e igualitária. Apoiamos Maju, com certeza, mas quantos de nós irão pressionar as emissoras de TV a contratar mais negros? Quantos iremos realmente trabalhar pela inclusão social? Ou será que nosso apoio a essa ideia termina quando descobrimos que algumas vagas nas universidades e repartições públicas são destinadas a negros?
Texto de Márcia Pinna Raspanti.
“Feitores castigando escravos, de Jean-Baptiste Debret”.
Racismo não existe o que existe é recalque, os brancos não tem culpa dos “Afro descendentes” não se aceitarem ou não gostarem da cor da própria pele, quando chamam um branco de branquelo ou até mesmo de loira burra eles não se ofendem, as loiras tiram de letra, porquê? porque gostam do que são e não tem nenhum tipo de recalque, ai vão dizer: os Afro coitadinhos foram escravizados blá,blá,blá,blá… sendo que os próprios brancos também sofreram com a escravidão em uma época um pouco mais distante (exemplo idade medieval). E isso de ficar falando de racismo não vai adiantar nada, quem gosta gosta quem não gosta não gosta e não adianta não tem nada que mude, a lei pode até silenciar e oprimir ideias, mas só isso.
Pode não ser só racismo como vemos em:
http://saudepublicada.sul21.com.br/2014/08/04/1-o-antissemita-o-racista-o-machista-e-a-inveja/
O racismo é uma doença arraigada no coração das pessoas, que quando não expresso em palavras, se manifesta em ações. E pior que o racismo, é viver numa sociedade hipócrita que segrega seu povo de maneira óbvia e quando lhe é conveniente se diz “não racista”.
Mais uma vez, parabéns!
O texto da amiga Márcia Pinna Raspanti me representa.