Por Natania Nogueira.
Um ponto em que praticamente todas as pessoas que trabalham com educação patrimonial concordam é que a conscientização da sociedade civil passa pela necessidade da comunidade se identificar com o local, se sentir parte integrante de uma sociedade específica. Não devo me cegar àquilo que minha localidade tem de ruim, mas não devo por conta disso desprezar o que ela tem de bom. O indivíduo deve se sentir como parte de algo maior. Este sentimento de pertencimento deve ser trabalhado desde cedo.
Essa é uma realidade ainda muito distante mas que precisa ser alcançada se quisermos realmente atingir um desenvolvimento real, que envolva amplamente as esferas econômica, política, social e cultural. É preciso ter em foco a necessidade de despertar o sentimento de pertencimento, pois ele está ausente na nossa sociedade.
No fim de semana, tive uma experiência que mostrou isso de forma evidente. Acompanhei um grupo de adolescentes a um passeio a uma cidade maior, de porte médio, que fica na minha região. Lá eles marcaram de se encontrar com outros jovens. O encontro foi organizado pela internet. Fui como convidada. Não estava lá como responsável.
Logo na chegada fomos recebidos com piadinhas do tipo:
– Vocês vieram de ônibus ou de carroça?
Uma alusão ao fato da nossa cidade ser pequena e interiorana. Muitas risadas e mais piadas. Fiquei incomodada e constrangida. O passeio para mim acabou ali. Não porque me importasse com a opinião de adolescentes de 14 anos, mas porque alguns dos meninos e meninas que estavam no nosso grupo não apenas riram, mas incentivaram esse tipo de brincadeira. Outros até fizeram colocações jocosas negativas com relação à cidade, colocações estas que nem mesmo correspondem à realidade.
Onde estava o sentimento de pertencimento?
Estava naqueles que não riram e não fizeram piadas de mau gosto para se enturmar. Não vamos esquecer a questão da autoestima. O que eu devo pensar de um menino ou uma menina entre 15 e 17 anos que precisa menosprezar o lugar onde mora para ser aceito por um grupo? Aquele episódio revelou pouco ou nenhum apego ao regional, ao local e uma tremenda falta de autoestima de jovens inteligentes mas pouco conscientes.
Não estou pregando uma ovação pública e histérica de amor à cidade ou à localidade onde uma pessoa reside. Longe disso. Entretanto, chamo a atenção para o fato de que o grau de valorização que se tem do local é fundamental para seu (e para o meu) desenvolvimento. É um fato. Quando valorizo o lugar onde moro, luto para que ele fique melhor, conservo o patrimônio público, valorizo a cultura e a história. O jovem é o alicerce futuro de uma nação e uma nação começa numa localidade, seja ela urbana ou rural.
Por isso, a importância de conhecer para valorizar. Conhecer a história local é uma forma valorizar o presente encontrando no passado os exemplos que inspirem ações futuras. Quem conhece também cuida, preserva.
Meu lado historiadora me diz que é preciso estimular a pesquisa em história regional como forma de construir um conhecimento histórico que possa alicerçar um ensino de história local mais amplo eficiente. Meu lado professora me diz que é preciso investir mais na formação do professor de educação básica. E não me refiro apenas ao professor de história. Sou um tanto radical nesse ponto. Acho que todo profissional da educação deve ter pelo menos um conhecimento básico de história local. Não que todos eles tenham que dar aulas sobre isso, mas o professor é um formador de opinião, seja qual for a disciplina que ministre. Ele deve ser o primeiro a ser conscientizado, o primeiro a ter em si o sentimento de pertencimento formado e consolidado.
Como fazer isso?
Acho que começamos com o ensino da história local durante toda a Educação Básica, e não apenas no Fundamental I. Os professores da rede municipal deveriam ter, todos os anos, uma cursos, palestras ou oficinas que envolvessem não apenas o aprendizado da história mas noções de educação patrimonial e de preservação.
Também precisamos mudar nosso discurso. Parar de apontar apenas as falhas e valorizar o lugar onde moramos, trabalhamos, onde construímos nossa vida, formamos nossas famílias. Começar a chamar os nossos filhos e alunos a participarem mais da vida da comunidade, a valorizar nossas instituições de ensino, a mostrar que eles podem progredir e prosperar sem ter que partir para um grande centro. A exigir que o poder público ampare o jovem, oferecendo a ele não apenas oportunidades de estudo mas, também, de trabalho.
Enfim, pensar que quanto melhor for minha cidade, minha localidade, melhor a condição de vida para mim e para minha família. Tão lógico, tão racional: basta que a comunidade participe mais, basta que se exija um educação de qualidade, que se faça sentir para além dos muros das escolas.
normal, foi apenas brincadeira entre adolescentes. não se trata de um preconceito real, algo excludente e malicioso. às vezes a interpretação pessoal pode supervalorizar algo que foi dito sem tanta malícia. é muito relativo. nem brincar pode mais?
Olá, amei seu texto, estou escrevendo um TCC que aborda essa temática. Você possui referenciais teóricos que posso estar utilizando de base?
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Olá!
Quem são os administradores do site/blog, e, como entrar em contato?
Obrigado.
Olá, qual o ano de publicação deste texto ?
olá li com muita atenção esse texto, sou Agente de Saúde e no meu fazer diário esse sentimento e entendimento do pertencer e primordial. parabens pelo texto.
Estava procurando entender o que significa pertencimento. Encontrei seu artigo. Adorei. Estou escrevendo sobre o assunto e queria entender porquê argentinos e espanhóis (em suas regiões), especialmente, tem esse sentimento extremamente desenvolvido.
Obrigada por me aclarar o nascedouro do sentimento.
Maria Christina Marcello
Foço minhas essas palavras!!
Lindo e verdadeiro esse texto. Parabéns!!!
Muito obrigada, Lilian!
Lindo e verdadeiro esse texto. Estou maravilhada Parabéns Professora!!!
Muito bom! Irei utiliza-lo na minha próxima aula. Em 21/05/18 em Una – Ba.
Muito obrigada, Luiz Henrique!
Excelente texto!
Mas infelizmente muitas pessoas não se preocupam com o sentimento de “pertencimento”, a maioria delas não sabe oque isso significa.
Pois é! Imagino como nosso país poderia ser melhor se o nosso povo, em geral, lhe desse mais valor e fosse mais participativo. Infelizmente, formar cidadãos nunca foi uma prioridade para nossos governantes.
Parabéns! excelente texto, exatamente o meu tema de TCC. Moro em uma cidade pequena com 14 mil habitantes, e é o maior sítio histórico do Estado(ES). Fico feliz em saber que existem mais pessoas com o mesmo pensamento que eu. Sucesso!!
Obrigada!
Cidades pequenas, acredito, são lugares férteis para se desenvolver um trabalho de educação patrimonial pois, geralmente, a comunidade é unida e preserva boa parte da sua memória e tradições. Estou certa? Sua realidade é assim?
Acho interessante seu ponto de vista.
Hoje se faz importante desenvolver nossa percepção nacionalista desde pequeno.
Conhecer para amar- eis a questão.
Vc já leu Dellors?
Obrigada!
Não li. Há alguma obra em especial que possa me indicar?
Parabéns ! Partilho da sua reflexão e concordo plenamente! PrecisamosAchei muito legal ! Bom de ser imitado.
E seu Tonico da conta de fazer! despertar desde muito cedo este sentimento em nossas criancas e jovens.
Muito obrigada!
Que bom saber que outras pessoas compartilham da minha modesta opinião.
Eu tenho realmente esperança nos jovens. Eles tem potencial, só precisam de quem os ajude a achar uma forma de desenvolvê-lo. Infelizmente, são os adultos que têm se tornado um problema, não apoiando boas iniciativas, não valorando o local e dando aos nossos jovens exemplos nada edificantes.
Excelente reflexão. Discursamos sobre o quão obsoleto é a História dos grandes líderes, dos grandes heróis, mas ainda não está presente, na educação básica, uma história que propõe ao alunado sua condição de sujeitos da História. O resultado é essa indiferença com seu entorno e a sensação do não pertencimento. Parabéns pela análise, precisamos destas “sacudidas”. Abçs
Obrigada,Eulália!
🙂
Que texto procedente. Parabéns, professora. Sou sua fã. Abraço grande!
Obrigada, Fátima!