Quem tem medo das feministas?

Até hoje, muita gente tem uma imagem negativa e distorcida do feminismo. E não falo apenas dos homens…Mal-amadas, feias, masculinizadas, recalcadas, solitárias, oportunistas, invejosas – esses são alguns dos adjetivos empregados para definir as feministas. Depois de séculos de lutas, muitos direitos conquistados com dificuldade, ainda existem muitas mulheres (e homens) que rejeitam a ideia do feminismo. Infelizmente, uma parte das pessoas insiste em classificar as feministas como inimigas dos homens.

Na virada do século XIX e nas primeiras décadas do século passado, as feministas e sofriam um preconceito terrível. Na Inglaterra, as sufragistas eram duramente reprimidas.  Ao final do post, você pode encontrar um link com uma série de ilustrações de 1909 que registram o movimento de greve de fome das mulheres pelo direito de voto, o que as levava à prisão, onde eram forçadas a ingerir alimentos, geralmente amarradas.  As inglesas conquistaram o direito a voto em 1918; no Brasil, isso ocorreria em 1932, no governo Getúlio Vargas.

Entre nós, a situação também era muito complicada. Trabalhar fora era malvisto, assim como ser intelectual, sufragista ou independente:

“Na imprensa, nas conversas, culpava-se a mulher que abandonava o lar para ganhar a vida. Até os periódicos comunistas e anarquistas acusavam-nas de frequentar não fábricas, mas ‘lupanares’ – bordéis. A maior liberdade da mulher foi compensada com maior vigilância e preconceito. O desafio era trabalhar, mantendo a reputação impecável!

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Nas primeiras décadas da República, o celibato associava-se ao feminismo. E este, à feiura e masculinização. No entender da imprensa da época, quem não era agraciada com beleza física suficiente para se casar vingava-se aderindo aos movimentos de emancipação. Num artigo intitulado ‘Leilão de moças’, em que se apregoavam os leilões matrimoniais como solução para as feias, a revista Fon-Fon dava um exemplo: “Talvez fosse o único, excelente, maravilhoso meio de acabar de uma vez com as sufragistas, as literatas, as neurastênicas, as cochichadeiras, as beatas, horríveis espécies femininas da classe imensa, descontente, vingativa e audaz das vieilles filles” – moças-velhas, nome que se dava para solteironas.

O medo da mulher inteligente, preparada, da que lia ou escrevia era visível. A emancipação era percebida nos mais diversos setores políticos e sociais como ameaça à ordem estabelecida e ao domínio masculino”, resume Mary del Priore, em “Conversas e Histórias de Mulher”.

Pois, bem. Tanto tempo se passou, a sociedade mudou, mas a desconfiança em relação às feministas parece inabalável. Há algumas semanas, uma atriz da TV americana declarou não ser “nenhum pouco feminista” porque gosta de “preparar o jantar para o marido”(?) – nas redes sociais o apoio foi maciço. Um “filósofo” brasileiro, que faz relativo sucesso na mídia seguindo a linha do politicamente incorreto, afirmou várias vezes que as feministas são desonestas e querem apenas desfrutar de privilégios. Além disso, repete o clichê antiquíssimo de que o feminismo só atrai as “feias e encalhadas”.

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Nesses textos que circulam pela internet, em que misóginos tentam dar a receita de como os rapazes poderão encontrar uma mulher que valha a pena namorar, eles sempre aconselham: fiquem longe das perigosas feministas (além das “rodadas”, é claro). Muitas amigas e conhecidas também torcem o nariz para feminismo por considerá-lo “vitimismo feminino”.  A verdade é que um estudo recente do BID demonstra que o Brasil apresenta um dos maiores níveis de disparidade salarial entre os sexos. No país, os homens ganham aproximadamente 30% a mais que as mulheres de mesma idade e nível de instrução. Ou seja, não estamos falando de sensibilidades exacerbadas ou de busca de privilégios, mas de uma desvantagem no mercado de trabalho bastante injusta e inexplicável. Está errado tentar mudar isso?

Alguma mulher acha que merece ganhar menos que um homem nas mesmas condições? Os homens realmente acreditam que devem ganhar mais simplesmente por serem do sexo masculino? É justo uma mulher trabalhar o dia todo e ter que arcar sozinha com as tarefas domésticas quando chega em casa? É certo que a educação dos filhos fique sob a responsabilidade exclusiva da mãe? Se você respondeu “não” a essas questões, você é feminista, querendo ou não.

Feminismo é lutar pelo direito de escolha, tendo como base condições iguais. Você gosta de fazer o jantar? Faça. Você odeia cozinhar? Não cozinhe. Em se tratando de vida a dois, o importante é buscar o entendimento e dividir as obrigações e prazeres. E isso só é possível quando duas pessoas estão em pé de igualdade.

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– Márcia Pinna Raspanti.

Confira as ilustrações no link abaixo:

http://www.ideafixa.com/inacreditavel-propaganda-contra-o-voto-feminino-em-1900/

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Série de ilustrações inglesas, de 1909, que registram o movimento de greve de fome das mulheres pelo direito de voto, o que as levava à prisão, onde eram forçadas a ingerir alimentos, muitas vezes, amarradas.

 

 

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