Hoje, dia 27 de janeiro, é o aniversário de 70 anos da liberação do campo de concentração de Auschwitz. Segundo a grande historiadora Annette Wieviorka, o evento é fundador para a história da Shoah (aniquilação ou destruição, em hebraico). Porém, no imaginário coletivo, seu forte simbolismo mascara a realidade tão diversa do universo concentracionário nazista. «A história dos campos está para ser feita», ela diz. Em seu último livro 1945 – A descoberta, (Paris, Seuil, 2014), Wieviorka acompanha a abertura dos campos pelo exército americano. Para concluir: houve campos e campos… Aqueles a Leste, onde foram assassinados milhares de judeus e onde os batalhões russos chegaram em 1944. E os a Oeste, chamados campos da morte – como os denominou o historiador Raul Hillberg – com pouquíssimos sobreviventes. À época, em Auschwitz, por exemplo, restavam apenas 7.000 prisioneiros, quando se sabe que ali houve mais de um milhão de mortos e que cerca de 67 mil pessoas foram jogadas nas estradas, entre 17 e 19 de janeiro de 1945.
Se os soviéticos não fizeram quase nenhum esforço para tornar pública a descoberta dos campos; os Aliados ocidentais, ao contrário, mediatizaram-na ao máximo. Segundo Weviorka, sempre se soube que existiam campos de concentração na Alemanha, com os quais os nazistas aterrorizavam as populações. O que se desconhecia era a «Solução Final» ou seja, a destruição dos judeus. «Está na moda dizer que Stalin, Roosevelt e Churchill sabiam de tudo, graças às informações passadas pela Resistência. Mas não é porque se têm informações esparsas que se consegue traçar um quadro preciso da situação», ela explica.
A originalidade do livro consiste em apontar a variedade de formas de confinamento. De prisioneiros enclausurados no castelo de Itter, não longe de Dachau, caso do conhecido tenista Jean Borotra ou do político Daladier, aos deportados submetidos a trabalho forçado e toda a sorte de privação, existiu um mundo de possibilidades. As fotos tiradas em Buchenwald por correspondentes de guerra revelaram uma parte de prisioneiros em relativo bom estado. Nos campos do Oeste, houve uma gama de situações que foram, segundo ela, mascaradas em proveito dos esterótipos que conhecemos ou seja, de imagens rapidamente propagadas de «cadáveres vivos». Outras situações passaram sob silêncio ou desapareceram.
A visita dos generais Eisenhower e Patton ao campo de Ohrdruf seria o que hoje chamaríamos de operação de comunicação… Eles exibiram o campo às tropas, aos prefeitos e moradores dos arredores, a fim de que esses enterrassem os corpos. Vivia-se um momento de expectativas em relação à Alemanha. Com o inicio da Guerra Fria, cessou a estigmatização do país, pois, era preciso uma Alemanha forte à Oeste. E a lembrança dos campos só emergiu a partir de 1950. Uma das razões para essa memória tão tardia, explica Annette, foi a recomendação aos judeus sobreviventes de não falarem no assunto. Pensava-se, facilmente, então, que um sobrevivente era suspeito. O que teria feito para ficar vivo? Roubado pão ao vizinho? Trabalhado como kapo? Prestado favores sexuais? Passado informações? Os sobreviventes se calaram por si só. Foi somente a partir de 1960 que eles passaram a ter status de dignidade, e que o genocídio mudou da periferia ao centro dos estudos sobre a guerra. A Shoa passou a representar toda a criminalidade nazista, levando, inclusive, a erros históricos. Quando Barack Obama visitou o campo de Buchenwald em 2009, afirmou que ali foram asfixiados por gás milhares de judeus. Errado! Foi um campo de concentração onde se enclausuravam principalmente os opositores de Hitler, notadamente os comunistas. Segundo Weviorka, há muito sobre a Shoah e muito pouco sobre os campos de concentração. Essa é uma história a ser feita, para a qual ela já deu fundamental contribuição. Seu livro é obrigatório para quem quer entender o tema.
– Mary del Priore.
Criança sobrevivente sendo retirada de uma das barracas do campo por soviéticos especialistas em primeiros socorros, logo após a libertação pelos aliados. Auschwitz, Polônia, foto tirada depois de 27 de janeiro de 1945.
Recentemente fiquei sabendo que existiam muitos negros (talvez milhares) na Alemanha, os quais foram sofreram ou foram exterminados por ocasião da ascensão nazista. O Nazismo, então, não é apenas uma triste realidade histórica do passado, mas uma barbárie que continua a nos horrorizar. A seguir, recorte sobre a informação. “Esta parte da história alemã está apresentada agora na primeira exposição do mundo sobre o tema. ‘Identificação especial: preto – Negros no Estado Nazista’ (Besonderes Kennzeichen: Neger – Schwarze im NS-Staat) reúne pôsteres, panfletos, filmes, áudios e fotos e está à disposição do público num local mais do que autêntico: o Centro de Documentação do Nazismo em Colônia. O velho prédio pertenceu à Gestapo, a polícia secreta de Hitler, que ali interrogava e torturava suas vítimas”.