Natal no Brasil Imperial: a influência europeia

No Brasil o trabalho de cuidar das crianças pequenas ainda era feito por escravas, amas de leite. A vida familiar, entre as classes altas, era facilitada por comodidades até então desconhecidas como a água encanada, a eletricidade, o aquecimento a gás ou o water-closet. Neste clima burguês, de consumo e prosperidade, havia espaço de sobra para férias, festas familiares como aniversários, batizados e o Natal. Esta, uma ocasião única para mimar os pequenos e surpreendê-los com árvores iluminadas por velas.

A privacidade, esta descoberta maravilhosa, era vivida pelos ricos com todos os artefatos do conforto: casas agradavelmente decoradas com madeiras polidas, tapetes, pinturas e afrescos. Aos adornos se somava a ampla oferta de roupas e móveis. Quadros, estatuetas e presentes que despertassem lembranças sentimentais eram bem-vindos. Acessórios em porcelana, cristal e prata criavam um clima sensual durante as refeições. A limpeza e o perfume, além do banho semanal satisfaziam os sentidos. Tudo era deleite: a música, o paladar, o olfato, a decoração. A riqueza estimulava o companheirismo entre marido e mulher, bem como entre pais e filhos. A tranquilidade, a disponibilidade, a doçura de viver, a paz eram valores cultivados.

O clima natalino tomava conta da cidade: o menino sobre a palha da manjedoura, a missa do galo, os presépios de Belém, as cantigas singelas. Nos arredores da corte, inclusive São Cristóvão, as capelinhas abriam as portas; a luz dos círios, os sons do órgão e o murmúrio das vozes enchiam os templos. Nas igrejas, abundavam as toilettes novas, e os jovens aproveitavam para dizer graças, e bolir uns com os outros. Na festa do Club Guanabarense, em Botafogo, houve queima de fogos à meia-noite. Seguiam-se as trocas de cadeaux – os presentes comprados, de preferência, nas lojas de nome francês. Seguiu-se a noite de Reis, com ceias lautas e menus europeus à base de ostras, maionese e gelatina.

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Paris dominava o mundo. O Rio de Janeiro se contagiava por imitação. Nos diferentes bairros, proliferavam Sociedades com títulos preciosos: Vestal, Sílfide, Ulisseia. Rapazes pareciam sonhar com um charuto entre os lábios, enquanto a jovem atacava uma valsa no piano. Lia-se Byron, solfejavam-se óperas como Nabuco ou Otelo. Tudo era pretexto para reuniões e encontros: São João, Reis, Natal com dança depois da missa, bailes à fantasia em que mimosas pastoras ou lindas escocesas, iluminadas por velas, eram tiradas para dançar.

  • Texto de Mary del Priore (edição: Márcia Pinna Raspanti).
Imagens: “Os Banquetes do Imperador”

Imagem: “Os Banquetes do Imperador”, de Francisco Lellis e André Boccato (Editora Senac, 2013).

 

 

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  1. Erik Ceratti

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