FEB foi o nome dado à força militar brasileira constituída em 9 de agosto de 1943 para lutar na Europa ao lado dos países Aliados, contra os países do Eixo. Integrada inicialmente por uma divisão de infantaria, a FEB acabou por abranger todas as tropas brasileiras envolvidas no conflito. Adotou como lema “A cobra está fumando”, em resposta àqueles que consideravam ser mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra. Com o ataque japonês à base norte-americana de Pearl Harbor no dia 7 de dezembro de 1941, o governo Roosevelt condicionou a cooperação técnica e econômica ao envolvimento direto do Brasil no conflito. O fator decisivo entrou em cena entre fevereiro e agosto de 1942, quando navios mercantes brasileiros foram torpedeados por submarinos alemães, provocando indignação generalizada: manifestações de rua animadas pela campanha movida pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e pela Liga de Defesa Nacional passaram a exigir a declaração de guerra – explica a historiadora Regina da Luz Moreira.
E ela acrescenta: no dia 22 de agosto, caiu por terra a neutralidade do Brasil, primeiro com a declaração de rompimento das relações diplomáticas, e, em seguida, com a declaração do estado de guerra contra a Alemanha e a Itália, através do Decreto nº 10.358. Quando o Ministério da Aeronáutica foi criado, em 20 de janeiro de 1941, o Decreto-Lei N° 2.961 já citava a criação da “Forças Aéreas Nacionais”, que deveriam reunir aeronaves e militares das aviações da Marinha e do Exército Brasileiro. Em 22 de maio daquele ano, um novo Decreto-Lei, N° 3.302, mudou a denominação da arma aérea, que passaria a se chamar “Força Aérea Brasileira”.
A ideia de se criar uma força militar para participar do conflito surgiu em fevereiro de 1943, no encontro dos presidentes dos Estados Unidos e do Brasil, Franklin Roosevelt e Getúlio Vargas, na cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte. Na ocasião, Getúlio argumentou que o envio de tropas dependeria exclusivamente do reaparelhamento bélico das Forças Armadas Brasileiras.
Experiências pessoais ou de amigos desejosos de integrar as forças armadas marcaram as memórias de Otávio Gomes. Sobre um deles, certo Rui, que se queria aviador, contou: “Seria voluntário, entre os primeiros a seguir para guerra. – Seguirei para a Itália, dizia ele, usando o emblema do avestruz no braço, “Senta a Pua!”. Os nazistas vão aprender que essa besteira de ariano puro é pura fantasia. Nós, os mestiços do Brasil, ou dos aliados, vamos lhes dar uma surra de criar bicho, como diz o caboclo da minha terra”.
Ou sobre outro colega, certo Wilson: “O Wilson terminou o ginásio. Fomos para o Rio de Janeiro na mesma época. Inscreveu-se para o vestibular na Escola Militar do Realengo. Dois mil candidatos para duzentas vagas. […] Terminado o curso na Escola Militar, cada um escolhia onde ia servir de acordo com as vagas. Quando chegou a sua vez, teve de ir para Belém do Pará – era a guerra. Por pouco não naufragou no Baependi, um dos navios afundados pelos alemães”.
No jornal em que trabalhava, O Imparcial, Wilson Lins atacava a pusilanimidade do governo naqueles que considerou “dias de agitação e violência”:
“Além das grandes reportagens de interesse social e dos editoriais tópicos sobre os problemas que mais atingiam o povo, cuidávamos da arregimentação popular contra o Eixo nazifascista. As administrações estaduais e municipais sofriam com o combate sistemático. Com o torpedeamento dos navios mercantes nacionais no litoral baiano, a campanha antinazista cresceu de intensidade no jornal que vinha vinculando o situacionismo estadual ás atividades da quinta-coluna. […] Com o traiçoeiro ataque japonês a Pearl Harbour e a conseqüente Reunião de Consulta dos Chanceleres Americanos no Rio de Janeiro nos primeiros meses de 1942, o Brasil teve de tomar as primeiras medidas em vista de colaborar com os Estados Unidos na guerra contra o nazifascismo!”.
Em 1941, nasceu a primeira base aérea em Recife. Em 1942, as de Salvador e de Natal. Por sua vez, a FAB se encarregou de dar proteção aérea à navegação costeira, de Porto Alegre até Belém, pois a guerra submarina, “perversa e implacável, prosseguia num crescente vertiginoso”, como registrou Ivo Gastaldoni, piloto de patrulha da Força Aérea e veterano da Segunda Guerra.
A estruturação da FAB propriamente dita teve início com o envio de oficiais brasileiros aos Estados Unidos, para treinamento. Tratava-se de familiarizá-los com os métodos e táticas militares empregadas pelas tropas norte-americanas, substituindo os franceses, já ultrapassados, que ainda predominavam. Esses oficiais permaneceram por três meses na Escola de Comando e Estado-Maior de Fort Leavenworth – sublinha Regina da Luz Moreira. Pilotos seguiam para o San Antonio Aviation Cadet Center e, em seguida, para a Advanced Flying School e Harding Field em Baton Rouge.
- PRIORE, Mary del. “Histórias da Gente Brasileira: República Memórias (1889-1950)” – vol. 3, editora LeYa, 2017.