Dia Internacional da Mulher: origens e lendas

          Há muitas histórias sobre a origem do Dia Internacional das Mulheres. Afinal, por que foi escolhida esta data? Muitos afirmam que foi devido a um incêndio ocorrido em uma fábrica Nova York, em 1857, onde teriam morrido mais de cem trabalhadoras em greve. Mas, não há consenso quanto às datas: este terrível acontecimento teria ocorrido no dia 25 de março e em 1911…enfim, há muitas versões diferentes. Na Rússia, no dia 8 de março de 1917, as mulheres organizaram um protesto contra a fome, o czar Nicolau II e a participação do país na I Guerra Mundial – manifestação que teve fundamental importância da Revolução Russa. Pode ser este o motivo da escolha.

          Sem dúvida, a “comemoração” está diretamente ligada à questão dos direitos das mulheres operárias no início do século XX. Na verdade, trabalhadoras de diferentes países não suportavam mais as jornadas de 14 horas, com salários até três vezes menores que os dos homens. As fábricas daqueles tempos, pouco mais de um século após a Revolução Industrial, estavam cheias de homens, mulheres e crianças. O movimento operário reagia à exploração desenfreada organizando protestos, muitos com cunho socialista. Entre as reivindicações, o fim do emprego infantil e remuneração adequada. As mulheres ficavam meio esquecidas nas lutas trabalhistas (ver: “Mundos do Trabalho”, de Eric Hobsbawm). Nesse contexto de eclosão popular, sindical e feminista surge o Dia Internacional da Mulher.

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          Os Estados Unidos foram um dos palcos dessa luta. Desde meados do século XIX, os operários organizavam greves para pressionar os proprietários das indústrias, principalmente as têxteis. Em terras americanas foi registrado o primeiro Dia da Mulher, em 3 de maio de 1908. Segundo o jornal The Socialist Woman, “1.500 mulheres aderiram às reivindicações por igualdade econômica e política no dia consagrado à causa das trabalhadoras”. No ano seguinte, a data foi oficializada pelo partido socialista e comemorada em 28 de fevereiro. Em Nova York, reuniu cerca de 3 mil pessoas em pleno centro da cidade, na ilha de Manhattan.

          A celebração foi mais um dos elementos no contexto político que resultou na greve geral dos trabalhadores do vestuário, em sua maioria mulheres jovens, em novembro de 1909. A paralisação durou 13 semanas e provocou o fechamento de mais de 500 fábricas de pequeno e médio portes. Infelizmente, as mudanças não ocorreram rapidamente. Os proprietários das indústrias continuaram a impor jornadas de trabalho desumanas. Muitos trancavam as portas durante o expediente e cobriam os relógios de parede.

         Há registros de que o Dia Internacional da Mulher já havia sido proposto em 1910 durante a II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, realizada em Copenhague, Dinamarca. Clara Zetkin, militante e intelectual alemã, apresentou uma resolução para que se criasse uma “jornada especial, uma comemoração anual de mulheres”. A inspiração nas trabalhadoras do outro lado do Atlântico é explícita: para Clara, elas deveriam “seguir o exemplo das companheiras americanas”.

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   – Texto de Márcia Pinna Raspanti.

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Protesto das operárias russas.

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