Por Natania Nogueira.
Já é praticamente uma tradição a Petite Galerie, espaço de educação artística e cultural do Museu do Louvre, apresentar uma exposição com algum tema relacionado à programação do Napoleon Hall _, um amplo espaço sob a pirâmide de IM Pei, inaugurado em 1989 _, e os programas escolares franceses. Em sua quarta temporada, a exposição oferecida pela Petite Galerie nos brinda com um maravilhoso diálogo entre arqueologia e quadrinhos, com a mostra intitulada L’Archéologie em Bulles, que foi aberta em 26 e setembro de 2018 e se estende até 1º de julho de 2019.
A proposta da exposição é, a partir da abordagem arqueológica, entender como os criadores de quadrinhos se apropriam dos estudos arqueológicos para compor sua narrativa verbal e visual. A exposição estabelece uma ponte entre a ficção e as descobertas arqueológicas realizadas nos últimos séculos a partir de coleções do Louvre de originais de quadrinhos de autores consagrados como Enki Bilal e Frank Miller.
Os responsáveis pela exposição conseguiram realizar uma perfeita simbiose entre ciência e ficção, trazendo desde documentos originais, como cadernos de anotações de arqueólogos, alguns deles remontando as primeiras expedições francesas realizadas ao antigo Egito, sob o comando de Napoleão Bonaparte. A exposição coloca lado a lado, por exemplo, originais do personagem Martin Mystère, o arqueólogo e aventureiro dos quadrinhos ao lado de cadernos de pesquisas de arqueólogos egípcios. É muito interessante a forma como cada original, seja ele de uma história em quadrinhos ou de uma expedição arqueológica real, é apresentado. É feita toda uma contextualização a partir da qual é possível identificar nos personagens e na narrativa proposta pelos autores dos quadrinhos a essência da ciência que é a arqueologia.
Por outro lado, a exposição demonstra a presença da narrativa sequencial, característica dos quadrinhos, que utilizam imagens em sequencias para contar histórias, está presente não apenas relíquias arqueológicas ou em registros antigos, como as pinturas rupestres e hieróglifos encontrados egípcios, mas, também, nos cadernos de registro de arqueólogos, que usaram do recurso da imagem desenhada como forma de catalogar e organizar suas descobertas.
L’Archéologie em Bulles nos leva a refletir sobre o papel do museu no que diz respeito à promoção da cultura e da educação, e nos mostra que a cultura pop também tem seu espaço nos museus, nas galerias de arte e nas escolas. É uma exposição pedagógica, que une algo tão comum no cotidiano de milhões de pessoas em todo o mundo à uma ciência extremamente complexa como a arqueologia, demonstrando que museu pode ser um lugar dinâmico no qual a história está sempre em movimento e conectada com as demandas da sociedade.
O Louvre disponibiliza uma visita à exposição, sala por sala, para quem não mora em Paris por meio do seu site, que pode ser acessada clicando aqui. A comissão responsável pela exposição é composta pelo curador, Jean-Luc Martinez, presidente e diretor do Museu do Louvre, o co-curador: Fabrice Douar, e o gerente de Projetos, Florence Dinet.

“L’Archéologie em Bulles”, aberta em 26 e setembro de 2018 e vai até 1º de julho de 2019.