O Dia das Bruxas ou Halloween é uma tradição dos Estados Unidos que se tornou popular em diversas partes do mundo, inclusive entre os brasileiros. As feiticeiras não são estranhas à nossa cultura, tendo tradicionalmente as características das bruxas europeias medievais. Mas que peculiaridades elas adquiriram por aqui? A “bruxa” sempre fez parte de nosso folclore, assustando as crianças e adultos. A sua figura veio com os portugueses: “velha, magra, alta, enrugada, horrorosa de feiura e hedionda de sujeira, coberta de trapos, com um saco cheio de coisas misturadas e confusas, andando de noite, misteriosa, sinistra, silenciosa”, descreve Câmara Cascudo. Uma de suas funções “clássicas”, é a de feiticeira, que representa as angústias noturnas infantis, aterrorizando os pequenos que se recusam a dormir nos horários determinados pelos pais. Cascudo acreditava que o arsenal “histórico dos esconjuros e defesas” contra as bruxas está desaparecendo.
Vejamos algumas formas tradicionalmente usadas pelo Brasil para espantar a perversidade das feiticeiras ou identificá-las:
- – Lâmina virgem escondida nos cômodos: as bruxas fogem das lâminas de aço
- – Camada de sal na soleira das portas não as deixa entrar. Elas não pisam no sal por lhes recordar o Mar-Sagrado, local onde suas forças são anuladas
- – Quarto com criança recém-nascida deve ser protegido com estrela de cinco pontas ou uma cruz feita de palhas-bentas do Domingo de Ramos
- – Para identificá-las, nas igrejas, deixava-se o missal aberto, isso impedia a bruxa de sair (ela só consegue deixar o recinto com o livro fechado). Suspender o ferrolho da porta teria o mesmo efeito.
- – Bruxas não conseguem atravessar a água corrente
- – No Nordeste, acreditava-se que uma surra com pinhão-de-purga acabava com os poderes das feiticeiras
Câmara Cascudo lembra que as bruxas têm diversas funções na nossa cultura tradicional, entre elas fazer feitiços amorosos para atrair ou manter a pessoa amada, por meio de rezas, orações fortes ou poções, além de receitar remédios e simpatias para cura de diversos males (medicina popular). “Em cada povoação e vila, cidade e sede do município, haverá sempre uma velha misteriosa, rezadeira, cercada pelo halo da prestigiosa fama de sabedoria e poder. É a Bruxa, a Feiticeira, paupérrima, faminta, miserável, poderosa e digna de esmolas”, conclui o folclorista.
Texto de Márcia Pinna Raspanti.
Referência Bibliográfica: CASCUDO, Luís da Câmara. “Dicionário do Folclore Brasileiro”, Instituto Nacional do Livro, Rio de Janeiro, 1962.
“Bruxa e mandrágora”, de Henry Fuseli.
SAIBA MAIS:
Quando era criança, sonhava que tinha uma bruxa escarrando debaixo da minha cama.