O evento social mais famoso do Segundo Reinado, que entrou para a História como o prenúncio melancólico do regime, foi o Baile da Ilha Fiscal que ocorreu seis dias antes do golpe que derrubou D. Pedro II. O motivo oficial da grande festa foi prestar uma homenagem aos oficiais do navio chileno Almirante Cochrane, mas a ideia era tentar melhorar as relações com a aristocracia e o Exército. Foram distribuídos mais de dois mil convites e as lojas que comercializavam roupas finas no Rio de Janeiro logo tiveram seus estoques esgotados. O imperador chegou ao baile acompanhado da família real, trajando uma casaca preta folgada e o visual severo que ele tanto apreciava. Conta-se que durante o baile D. Pedro II o imperador tropeçou no tapete e foi amparado por um jornalista. Espirituoso, teria dito: “a monarquia escorregou, mas não caiu”, porém, o seu governo já estava com os dias contados.
No caminho para o baile, já havia ocorrido um incidente desagradável: a carruagem do imperador teve que parar porque a coroa havia caído na estrada. Muitos dos convidados que desfrutaram da festa ao lado da família imperial, já estavam esperando ansiosamente pelo momento do golpe republicano.Vejamos a descrição do baile no livro “Castelo de Papel”, de Mary del Priore:
“O ruge-ruge das sedas, a pelúcia dos veludos, as pedras preciosas, o dourado das fardas, os penachos ondulantes dos capacetes da Guarda Nacional: ‘A dançar, Santo Deus, a dançar’. Uns bailavam de espada à cinta. Outras deixaram, nos toillettes, espartilhos, ligas e meias , pois as danças estavam animadíssimas, prolongando-se até o amanhecer. Nas entrelinhas de dezenas de jornais, voavam farpas. (…) Depois do baile da Ilha Fiscal, um relógio invisível bateu as horas. Os últimos acordes da festa marcaram alegremente o enterro de um mundo do qual muitos não queriam mais ouvir falar. Os ponteiros da história empurraram o fim do Império brasileiro. E anunciaram o início do que se acreditou que fosse o progresso”.
Caricatura ridicularizando o exílio de D. Pedro II, de Rafael Bordalo Pinheiro (1890).
Estou lendo Castelo de Papel. Õtimo, como todos os outros livros de Mary Del Priori.
Há algum registro fotográfico desse famoso baile? Só encontro gravuras.
Não me lembro de ter visto alguma foto do evento.