Ser uma mulher “rodada” ou não?

Existem assuntos sobre os quais eu não gostaria de escrever. Queria que fossem apenas ideias idiotas que se dissipassem devido à sua insignificância e total falta de sentido. Essa história do rapaz que postou nas redes sociais um cartaz dizendo que tinha direito de não querer uma mulher “rodada” é um desses assuntos. Gostaria que estivéssemos em um estágio de civilização em que isso seria apenas uma frase infeliz, uma bobagem.

O caso, entretanto, virou polêmica: imediatamente muitos homens aderiram ao “movimento” e, pior, houve mulheres que apoiaram a ideia. Do outro lado, as feministas e defensoras dos direitos femininos resolveram adotar a bandeira do “sou rodada, e com orgulho”. Para muitas, essa seria uma forma de reforçar a liberdade sexual das mulheres. O tema rendeu uma série de textos e manifestações bem humoradas, muitas delas ridicularizando a história. Mas existem também as teorias sérias…Tive o desprazer de ler alguns artigos “ensinando” os homens a se proteger das mulheres “rodadas e desesperadas para não ficarem encalhadas” ou bobagens parecidas. Machismo, grosseria e um total desconhecimento das relações humanas, na minha opinião.

Agora, o que chama a atenção são duas coisas. A primeira é que ainda existam tantas pessoas, inclusive do sexo feminino, repetindo esse tipo de discurso que separa as mulheres entre as que são “para casar” e aquelas “para se divertir”. Que preguiça, estamos em pleno século XXI! Outra questão, que talvez seja mais preocupante, é que a vida sexual das mulheres continue a ser o aspecto mais relevante na hora de alguém opinar sobre seu caráter. Afinal, sejamos sinceros, é melhor ou pior ser “rodada”?  A trajetória de cada um depende de tantos fatores, tantas circunstâncias…Ter mais ou menos experiência sexual faz de alguém mais independente ou não, mais feliz ou não, mais respeitada ou não?

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Concordo com Mary del Priore, quando ela afirma que o fato de “dar ou não dar” não deve ser a medida das conquistas femininas. Afinal, o importante é ter liberdade de escolha. O fato de fazermos sexo com vários parceiros não significa que somos liberadas, penso eu. O que nos torna realmente independentes é quando podemos decidir o que fazer e com quem fazer, sem pressões. Não é uma questão de quantidade. Podemos ter um parceiro ou milhares deles, o que importa é que nós decidamos assim, sem ter que interpretar um papel que nos é imposto.

Segundo Mary, a brasileira continua a construir sua identidade através do olhar do homem: do macho ou do príncipe. “É ele quem escolhe a liberta ou a libertina. A pergunta que fica é: quando vamos ser nós mesmas, sem pensar em como ou quanto os homens nos desejam? Sem ter que escolher entre ser santa ou p…?”. Ainda temos um longo caminho a percorrer, mas de uma coisa temos certeza, não é a o número de parceiros que nos define. Somos muito mais do que isso.

E para finalizar: dizemos NÃO a homens que classificam as mulheres como “rodadas” ou não. Esses indivíduos deveriam se dedicar a dar dicas para quem quer comprar um carro, porque de nós, eles não entendem nada…

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– Márcia Pinna Raspanti.

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As bailarinas de Degas: rodopios no palco.

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