Conhecer a história de nossas irmãs do passado nos ajuda a entender o que somos, por que somos e como somos. A sociedade brasileira sofreu inúmeras transformações ao longo do tempo. A partir dos anos 70, por exemplo, a disseminação da pílula anticoncepcional, as migrações campo-cidade e a entrada massiva da mulher, de todas as classes sociais, no mercado de trabalho deram à brasileira uma liberdade que ela desconhecia. Liberdade material e sexual. Ao mesmo tempo, ela convivia com padrões éticos que eram os de sua avó: sonho com o príncipe encantado, o marido mantenedor da casa, segurança, fidelidade. Teve, portanto, que conciliar tendências muito diferentes.
Se não somos sensíveis a estas transformações, corremos o risco de não perceber o esforço tremendo que as brasileiras estão fazendo para se adaptar a condições de trabalho cada vez mais exigentes e às mudanças nas estruturas familiares. Até os anos 50, os casais dormiam de pijama e só faziam amor de luz apagada. Hoje, a televisão bombardeia os lares com imagens cruas e palavreado chulo. É interessante nos perguntarmos por que tudo mudou e que mecanismos de adaptação estamos usando para nos moldarmos à esta realidade.
A mulher brasileira é uma trabalhadora incansável que coloca todos os seus esforços na manutenção de suas famílias. As verdadeiras heroínas de nossa história são mulheres sem rosto. Não são rainhas ou cortesãs conhecidas, mas, sim anônimas que se dedicam à difícil tarefa de sobreviver. Os primeiros documentos que temos sobre a presença feminina no Brasil Colonial demonstram que, independentemente de sua condição, livre ou escrava, as mulheres trabalhavam e muito. Ofereciam todos os serviços que pudessem, numa sociedade agrícola e de pouco consumo. Eram costureiras, lavadeiras, doceiras, lavradoras, vendeiras, donas de pequenos comércios e prostitutas. Com seus ganhos mantinham famílias e agregados.- Mary del Priore.