O fim da Belle Époque

O Brasil começava a mudar rapidamente na segunda década do século XX. O país, que antes exportava 97% da produção mundial de borracha, enfrentaria a concorrência asiática; a pianista Guiomar Novaes dava seus primeiros concertos em Paris; imigrantes japoneses começavam a se espalhar ao longo das terras da Estrada de Ferro Sorocabana; eclodiu a Revolta da Chibata; teve início a construção do Palácio das Indústrias em São Paulo; o Fluminense Football Club levava o título de 1911; o Jornal do Commercio passava a publicar o folhetim “O Triste Fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto, e Hermes da Fonseca foi eleito presidente, substituindo Nilo Peçanha.

A campanha de hermistas contra os civilistas, representados por Rui Barbosa, recolocou na cena política os militares, que tinham se afastado desde 1898. As casernas, antes silenciosas, se manifestaram na defesa do soldado-cidadão, salvador da pátria mergulhada em corrupção, coronelismo e cangaço. De nada adiantou os paulistas financiarem a campanha de Rui, que percorreu o país procurando o respaldo popular, fato inédito na vida republicana brasileira. Hermes da Fonseca foi o primeiro militar a se eleger por voto direto e ao assumir utilizou tropas federais para garantir a “política das salvações”. As “salvações” substituíam nos governos locais, sobretudo no Norte e Nordeste, candidatos favoráveis ao governo central, em detrimento de oligarquias que mandavam e desmandavam em benefício próprio.

Entre intelectuais e camadas desfavorecidas da população, engordava um sentimento de desgosto com o conservadorismo político representado pelo presidente Hermes. A belle époque dos anos posteriores à proclamação da República não era tão bela. A criminologia, que antes avalizava a igualdade dos homens perante delitos e penas, passou a considerar delinquentes quase como um gênero humano singular, um sinônimo de perigo! A obsessiva europeização, levada a sério tanto no ambiente doméstico quanto no das políticas públicas, enrijeceu os papéis de gênero. Homens só podiam ser pais e provedores. Mulheres, mães e esposas. Todos “perfeitos”. Quem rompesse a norma se comprometeria.

Ver mais  "Varre, varre a bandalheira"

As transformações urbanas obrigavam a remodelagem do casamento como instituição social. Contra “os surtos grandiosos do progresso”, que “faziam oscilar o mundo”, era preciso procurar no lar “o ser estável que nenhum acontecimento pode abalar”, recomendavam educadores. Um sistema rígido de valores exigia a coerência de comportamentos, o que era difícil numa época de mudanças aceleradas. Ainda assim, as inovações introduzidas pela tal “vida moderna” incentivavam a defesa da família. E, nos jornais e revistas, se fustigava a “onda de imoralidade e perversão dos costumes que tenta levar de vencida tudo o que a humanidade possui de melhor”. – Mary del Priore

Rio de Janeiro 1900b

Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro: a cidade deveria ser transformada na “Paris tropical”.

Deixe uma resposta