Já nos tempos coloniais, as mulheres procuravam dissimular, apagar e substituir as imperfeições graças ao uso de pós, perucas, unguentos, volumes e espartilhos. A pele azeitonada, a robustez física, as feições delicadas e as longas cabeleiras passavam por processos feitos de bens e serviços, utensílios e técnicas, usos e costumes capazes de traduzir gostos e rejeição, preceitos e interditos. Muitos destes recursos eram bem conhecidos na Europa moderna, Lá, desde o século XVI, circulavam livros de receitas de beleza.
A cosmética evoluía. A depilação das sobrancelhas, a pintura dos olhos e dos lábios, a coloração das maçãs do rosto, o relevo dado à fronte atestavam uma nova representação da mulher. Preparações variadas desdobravam-se em maquilagens pesadas, muito parecidas com máscaras. Difíceis de manejar, muitos pós precisavam ser diluídos em água de rosas, servindo para cobrir o rosto todo. Elaborado a partir de pau-brasil ou conchinila, e mais raramente de cinabre, o rouge apresentava-se em forma líquida ou de unguento, quando se lhe adicionava gordura de porco ou cera.
Complexas ou onerosas, boas e baratas, tais receitas eram feitas a partir de ingredientes diversos. A virtude de alguns atravessou os séculos. A ação depilatória do sulfato de arsênico, malgrado sua toxidade, é uma delas. O leite de cabra e a gordura de cavalo garantiam cabelos soberbos e sedosos. A pele e a gordura de cobra prometiam renovar a pele feminina. Pérolas esfregadas aos dentes garantiriam a brancura e o brilho, assim como a pedra-pomes em pó dormida no vinho. Pomadas e pentes davam forma perfeita aos pelos faciais restantes. Era preciso cobrir as marcas no rosto, deixadas por doenças muito comuns na época, como varíola, catapora, acne, e por excesso de sol.
Os cabelos longos eram moda nos tempos coloniais – modismo que duraria muito tempo. A cabeleira presa em tranças e birotes era alvo de todas as preocupações. Os penteados mais conhecidos eram o “tapa-missa” e o “trepa-moleque”. Apesar da pobreza que caracterizava a vida na colônia, a preocupação feminina com a aparência não era pequena – mas sempre controlada pela Igreja, que condenava a vaidade. Apesar das advertências dos pregadores católicos, a mulher sempre quis ser ou fazer-se bela. – Mary del Priore.
Modismos: tinta branca no rosto de Elizabeth I; rouge para colorir a face das damas.