Desde a chegada dos portugueses por aqui – onde encontraram as “robustas e morenas” índias – o conceito de beleza mudou muito. Moda, elegância, higiene, sexualidade e comportamento passaram por grandes transformações. Se hoje discutimos a ditadura da moda e da boa forma, e lutamos contra esses padrões rígidos, não podemos nos esquecer que as mulheres fazem grandes sacrifícios em nome da beleza há muito tempo. Preparamos uma cronologia com alguns dos principais fatos que marcaram essa busca pela perfeição:
1500 – Chegada dos portugueses às costas do Brasil e Carta de Caminha, mencionando a beleza física de nossas tupi-guaranis. Em meados do século XVI, os africanos escravizados começam a ser trazidos para servir de mão de obra. Com isso, as africanas se juntaram às índias como objetos sexuais dos portugueses, “inferiorizadas por sua condição feminina, racial e servil no imaginário colonial”, como explica o historiador Ronaldo Vainfas.
-“Mulher Tapuia” e “Mulher Africana”, Albert Eckhout.
1552 – Veronese pinta A Bela Nani, ideal de beleza feminino do Renascimento. O ideal de beleza europeu exaltava as loiras, de cabelos ondulados, pele clara, bochechas rosadas, corpo cheio e carnudo.
1554 – Aparece em Veneza o primeiro manual de beleza: Il Libro della bella donna, de F. Luigi, cheio de segredos e truques de maquilagem. No Brasil, preparações variadas desdobravam-se em maquilagens pesadas, muito parecidas com máscaras; muitos pós precisavam ser diluídos em água de rosas, servindo para cobrir o rosto todo. Elaborado a partir de pau-brasil ou conchinila, e mais raramente de cinabre, o rouge apresentava-se em forma líquida ou de unguento.
1587 – Gabriel Soares de Souza critica as despesas exageradas das colonas com roupas importadas.
– Carlos Julião, século XVIII.
1630 (circa) – Início da moda de perucas e do uso de farinha para montar as cabeleiras.
–“História Ilustrada do Vestuário”, org. Melissa Leventon, Publifolha, 2009.
1670 – Na comédia O burguês gentilhomem Molière caricaturiza os que querem vestir-se como aristocratas sem sê-lo.
1748 – Morelly publica em Amsterdã. Física da beleza e poder sobrenatural de seus charmes.
1750 (circa) – Agudiza-se, na França, a obsessão com a roupa branca ou íntima; o uso do lenço branco se difunde.
– “O Balanço”, de Jean-Honoré Fragonard (1767).
1750 – Primeiros textos médicos atacando a prática de comprimir o dorso e a cintura. A obsessão pela cintura fina popularizou o espartilho, que podia trazer sérios problemas à saúde, segundo os médicos da época.
–D. Maria I de Portugal (1750).
1770 – Surgem anquinhas que duram, com altos e baixos, até 1895.
– (Peterson’s Magazine)
1778 – Maria Antonieta lança, na corte francesa, a moda de vestir-se fantasiada: à armênia, à turca, à italiana, etc.
1787 – Surgem, em Paris, os primeiros números de Le cabinet des Modes, pioneiro jornal de moda e beleza.
1805 – Após a Revolução Francesa, a silhueta feminina se transforma: vestidos femininos perdem amplitude, e como camisolas, pendem ao longo do corpo. Os decotes arredondam-se e as cinturas deslocam-se para cima: é o estilo império.
1810 (circa) – Os primeiros espartilhos à Ninon, só para separar os seios, como exigia a moda.
1830 – As saias abrem-se em corolas armadas sobre anáguas e crinolinas. O volume das saias volta a ser moda, depois da febre do vestido tipo império.
1850 – Aparecimento da escarpolette, ancestral das atuais calcinhas.
–“O inoportuno”, Almeida Júnior, 1850.
1885 – A exposição universal de Paris, expondo artefatos de países exóticos, lança a moda do xaile que se beneficiava das anquinhas sobre as quais expunha seus arabescos com esplendor.
–“A lareira”, de Jacques Tissot (1869).
1890 (circa) – Loja de Madame Coulon, no Rio de Janeiro, vendendo lingérie enquanto a célebre loja de departamentos Au Printemps, de Paris, oferecia, por catálogo, seus produtos aos consumidores brasileiros.
1895 (circa) – Registros da importação de bidets e water-closets. A medicina descobre os benefícios dos exercícios físicos. As bicicletas se tornam populares entre as mulheres, inclusive no Brasil. As mais ousadas começam a usar as bloomers (abaxo), espécie de calça folgada que dava mais liberdade de movimentos.
1900 (circa) – Voga da Água de Flórida, do sabonete Reuter, do perfume Houbigant e da substituição do carmim pelo rouge no rosto. O famoso estilista francês Paul Poiret, o maior nome da moda na época, apresenta em seus desfiles a calça odalisca ou à turca, de inspiração oriental.(abaixo)
1913 – A Sociedade Hípica Paulista organiza caças à raposa com a presença de várias amazonas. As brasileiras já praticavam equitação muito antes da moda da ginástica feminina. D. Carlota Joaquina costumava andar a cavalo muito bem, dizia-se na época.
– D. Carlota Joaquina, Taunay, 1817.
1918 – A Belleza Feminina e a Cultura Physica. “A beleza só pode coexistir com a saúde”, pregava o autor. As mulheres precisavam se movimentar e fazer exercícios para serem belas.
– “A Moda da Década 1920”, de Charlotte Fielle Emmanuelle Dirix, 2014, Publifolha.
1920 – Lançada a Revista Feminina que se manterá até 1929. Na década de 20, as linhas retas inspiradas na art déco e as cinturas baixas, combinadas com cabelos mais curtos, eram vistas como indícios da rebeldia feminina.
– Melindrosa na caricatura de J. Carlos.
1922 – Chanel abandona as sombrinhas e lança a moda da pele dourada pelo sol. A estilista, que já havia modificado o conceito de elegância, ajuda também a popularizar as calças compridas.
1925 – Baton em escala industrial.
1928 – A revista Sports comenta o estilo das tenistas brasileiras.
1927 – Catálogo de roupas brancas e colletes Rejane.
1939 – Chegada do maillot de tricô com perninhas, para uso nas praias e piscinas. No final da década de 40, surge o bikini. A ousada peça só ganharia as praias brasileiras nos anos 50.
1937-45 _ Com a II Guerra Mundial, houve a necessidade das mulheres assumirem os postos de trabalho deixados pelos homens, e a calça comprida passou a ser usada pelas cidadãs comuns. O estilo masculino invade o guarda-roupa feminino.
–Greta Garbo, influência do guarda-roupa masculino.
1947 – New look: voltam vestidos armados a rodados.
– Dior, 1947; e dois modelos de 1958.
1950 – Desodorante em escala industrial.
1960 – Minissaia: roupas curtas e retas acompanhadas de cabelos longos.
1967 – Roland Barthes a partir da semiologia, pensa o corpo e a roupa no seu Sistema da Moda.
1970 – (circa) Chegam ao Brasil o body business e a boneca Barbie.
- Texto de Márcia Pinna Raspanti e Mary del Priore.
- Referências bibliográficas: “Corpo a Corpo com a Mulher”, de Mary del Priore (Editora Senac, 2000). “Vestindo o corpo: breve história da indumentária e da moda no Brasil, desde os primórdios da colonização até o final do Império”. in: História do Corpo no Brasil, org. Mary Del Priore e Márcia Amantino, (Editora Unesp, 2011).
Gosto muito de moda, este artigo são multissimo bom
Obrigada!
Ola gostei desse artigo acho ele muito relevante e me ajudou muito, e vou ver outros artigos.obrigado.
Admiro muito o seu trabalho e sensibilidade de vincular a história do passado com as necessidades do tempo presente.
Sou absolutamente fascinada pelo seu trabalho, e admiro tudo que voce produz.e cada vez melhor….È um orgulho sempre conferir suas obras, Angela Bechara