A novela “Novo Mundo” da rede Globo é baseada em um período crucial da História do Brasil: o período que antecede a proclamação da independência e o Primeiro Reinado. A trama – ficcional – tem centrado suas forças no casamento de D. Pedro e D. Leopoldina, e no romance do futuro imperador com Domitila, que se tornaria a marquesa de Santos. Como era esperado, muitas licenças “poéticas” e imprecisões históricas têm sido cometidas. Uma novela tem por objetivo entreter e não ensinar História, argumentam os defensores da trama. E eles têm certa razão. Porém, acredito que alguns limites devem ser respeitados.
Recentemente, insinuou-se um possível romance entre Leopoldina e José Bonifácio, homem de confiança de D. Pedro e figura importante no processo de independência. Um (quase) beijo entre os dois personagens para “apimentar” a trama causou desconforto entre muitos espectadores. Muita gente está se perguntando se seria possível haver algo de verdadeiro nesse affair. A resposta é não, nunca houve indício desse envolvimento. Leopoldina era apaixonada pelo marido, era uma mulher extremamente religiosa, e apesar das infidelidades de D. Pedro, não se envolveria com outro homem. Teve uma gravidez atrás da outra. E Bonifácio era um homem consciente de suas responsabilidades e de seu lugar a corte. Foram próximos, amigos até, mas acredito que a novela passou dos limites ao insinuar o romance.
Mary del Priore, em “A Carne e o Sangue”, destaca que entre Bonifácio e Leopoldina havia uma simpatia mútua. “Ele a tratava de boa e incomparável ama que o céu nos quis dar como presente seu”. Havia admiração entre os dois, e confiança. Ambos tinham muito em comum. A princesa vivia isolada, tratada com desconfiança pelas damas portuguesas e com distância pelo marido. Provavelmente encontrava em Bonifácio alguém com quem conversar, principalmente sobre a paixão sobre história natural.
Quando perdeu o filho, solicitou a Bonifácio que dispusesse sobre o caixão do “querido filho” um epitáfio de seu próprio punho: “emende-o se não estiver bem”, pediu. Conta Mary:
“Mal enterrou o filho, Leopoldina ficou só. No final de fevereiro, a conselho de José Bonifácio, D. Pedro foi a Minas apaziguar os ânimos e garantir a adesão daquela rica porção do território brasileiro. Só regressaria em fins de abril.
No mês de março, nasceu Januária Maria Joana Carlota Leopoldina
Cândida Francisca Xavier de Paula Micaela Gabriela Rafaela, que receberia
nome escolhido pelo pai em homenagem à cidade em que moravam. ‘Deus
tirou-me João e deu-me outra filha’, abriu-se com José Bonifácio. Leopoldina
deu à luz de pé, agarrada ao pescoço do marido”.
D. Pedro também depositava grande confiança em Bonifácio, que o levou para a Maçonaria. Em uma das viagens do futuro imperador, para apaziguar as agitações políticas:
“Nos corredores do Palácio de São Cristóvão, alguns cortesãos, fidalgos e funcionários seguiram os últimos momentos e viram os abraços que o príncipe deu em José Bonifácio e na princesa”.
A política também os aproximava: “Além de terem plena confiança um no outro, Bonifácio e Leopoldina tinham liberdade para “tomar todas as medidas necessárias e urgentes ao bem e salvação do Estado”. O clima político se complicava. Via-se o colonialismo desaparecer da América Latina por meio de revoluções sangrentas, dando lugar a repúblicas instáveis e adversárias mas quase todos temiam a anarquia”.
E quando o príncipe se ausentava por muito tempo, sem dar notícias, Leopoldina se desesperava. Em agosto de 1822, ele partia em direção a São Paulo e a deixava como regente:
“Meu querido e prezado esposo, mesmo sendo privada
de notícias suas, que é muito custoso a meu coração, acho meu dever e único
meio de aliviar as minhas saudades escrever-lhe.”
Dias depois, voltava a escrever, sublinhando o abandono em que se
encontrava: “Meu querido e amado esposo! Confesso-lhe que tenho já muito
pouca vontade de escrever-lhe, não sendo merecedor de tantas finezas. […]
Ordinariamente quando se ama com ternura uma pessoa, sempre se acham
momentos e ocasiões de provar-lhe a sua amizade e amor. Todos estamos bons e tudo muito sossegado, graças a Deus. Receba mil abraços e saudades minhas
com a certeza de ser a última carta.” Antes de assinar-se “a amante esposa” insistia na necessidade urgente de saber notícias. Afinal, ele partira havia oito dias.
“E procurava consolo com Bonifácio, a quem confessava seu temor de que
em pouco tempo tudo andaria “em inquietação”, instava sobre a necessidade de “ensinar marotos” e afastar o perigo de “sujeitinhos” ou transmitia cartas de D. Pedro trazidas pelas mãos de escravos: “Todos estavam em perfeita saúde, viajando ao vagar tendo as bestas muito cansadas.”Enquanto isso, D. Pedro apaziguava os ânimos e tranquilizava os exaltados. E, em meio à rotina de trabalho e de alianças políticas, ainda achou tempo para outras coisas.
Foi quando D. Pedro se aproximou de Domitila, que logo se tornaria sua amante. Enquanto isso, a princesa reclamava com Bonifácio: só tinha notícias do marido por um tropeiro recém-chegado de São Paulo.
Apesar das tensões políticas, D. Pedro frequentava os saraus que animavam a noite na casa da bela paulista. Ali fugia do bulício do paço, dos mexericos familiares e dos problemas políticos. Ali ria e, como todo apaixonado, era feliz. As idas e vindas ao Engenho Velho tomavam conta do noticiário especulativo da corte. O concubinato imperial começou a despertar comentários. O embaixador austríaco chegou a escrever ao imperador da Áustria a respeito”, –relata Mary del Priore.
Logo, Bonifácio e Leopoldina teriam algo mais em comum, a antipatia em relação à favorita de D. Pedro. Homem de confiança do agora já imperador, José Bonifácio se desentenderia com o genioso D. Pedro, sendo alvo de intrigas e ataques do grupo ligado à Domitila. “Antes de cair, até José Bonifácio incomodou-se com a presença de Domitila, a quem aprendeu a temer. E depois a odiar. (…) De fato, Bonifácio caiu por querer enfrentar os grandes proprietários contrários à extinção da escravidão, à divisão da propriedade e à rotina predatória da monocultura”, explica Mary.
“Domitila recebeu o título de viscondessa de Santos, com o nome de solteira. Seus irmãos cobriram-se de honrarias. Na França, exilado, José Bonifácio ironizava em versos, chocado com a “michela” – prostituta – que fora elevada a viscondessa da pátria dos Andrada, Santos:
“E das ventas fumando orgulho e sanha
Para fazer alarde as Domitilas
E as fendingas reles.”
E quando Leopoldina morreu, em dezembro de 1826, José Bonifácio, iria profetizar:
“A morte da imperatriz me tem penalizado assaz. Pobre criatura. Se
escapou ao veneno, sucumbiu aos desgostos; mas este sucesso deve trazer
consequências poderosas não só para D. Domitila, mas, talvez para grande parte do ministério.”
E ele tinha razão…
- Texto baseado em “A Carne e o Sangue”, de Mary del Priore. Introdução e edição: Márcia Pinna Raspanti.
Leopoldina: dedicada aos filhos e ao marido.
Não podemos imaginar os fatos do século XIX com a cabeça do século XXI. Não, não houve um affair entre D. Leopoldina e José Bonifácio.
A ficção inventa, sim! É necessário prender a audiência, e só!
D. Leopoldina tinha e preservava valores importantes. Foi educada para governar, era uma estrategista, hábil e diplomática. Conhecia ciências, vários idiomas… Aceitou se casar por procuração com um homem que só conheceu seis meses e uma travessia de oceano depois.
D. Pedro, por sua vez, não tinha metade do preparo de D. Leopoldina. Se fosse tão preparado como ela, talvez, hoje, nossa história fosse outra.
Deve ser dificil pras pessoas do século XXI, tempo em que o hedonismo impera, compreender as noções de dignidade e auto-respeito que dirigiam o comportamento de pessoas da estirpe de Leopoldina.
Filha de nobres, digna e elegante, ela não se entregaria à esbórnia, simplesmente por respeito próprio.
Só lembrando que Bonifácio era quase 40 anos mais velho que a princesa, acredito que não havia nenhum outro tipo de sentimento senão o de pai para filha. Na verdade prefiro creditar nisso rs
O marido não dava atenção, D. Pedro I
Sim, é ficção. Mas muito provável. Dom Pedro chifrava a esposa e ela sabia, além de viajar e ficar muito tempo sem dar notícias. Uma mulher fragilizada e naquela condição de carência e abandono pode muito bem ter se envolvido com seu melhor amigo e conselheiro, que por sua vez era casado com uma mulher insuportável. E há suspeitas sim, de que José Bonifácio seria o pai biológico de D. Pedro ll.
Como ele seria pai biológico de Pedro II? Não sei de onde tirou essas suspeitas! José Bonifácio foi exilado em 1823, Pedro II nasceu em dezembro de 1825. Isso nem faz sentido.
A Globo está contando a verdade que Dom Pedro 2 é filho de Leopoldina e José Bonifácio.
Eu humildemente aconselho essas pessoas que duvidam da completa impossibilidade de ter ocorrido qualquer aproximação íntima nesse sentido entre D. Leopoldina e o Bonifácio, que leiam a história do Brasil que vai além de novelas, filmes ou trechos de internet. Leiam, estudem. E o que dizer da ignorância em pensar na possibilidade absurda de D. Pedro II ser filho do Bonifácio? Amados, quanto a esta última pergunta eu respondo sob a luz da história do Brasil: Bonifácio foi demitido em 1823 e posto em exílio na Europa desde então até 1829. D. Pedro II nasceu em 1825. É só fazer as contas.
Tanta hipocrisia, depois as mulheres reclamam
do machismo dos homens, qualquer mulher naquela situação de fragilidade sentimental e
a sóis com o amigo e confidente de estrema
Confiança, sederia aos caprichos do amor.
Bem provável que nada tenha acontecido entre eles.
A tristeza profunda e a saúde ir se fragilizando com o tempo, são provas mais que suficientes de uma mulher não correspondida em seus sentimentos mais legítimos e em respeito à sua pessoa. Leopoldina ao contrário do marido era uma mulher que tinha respeito por si própria, e mesmo assim ela o amava. E todos sabem que D Pedro nunca a amou e nem a respeitou. Ele a traía descaradamente. Não estava nem aí prá ela. A gente aprende isso na escola… Ela era para ele apenas um útero, para gerar o herdeiro. Exatamente um casamento político.
MULHER nenhuma merece esse tratamento, por mais interesses políticos que existam.
Também não vejo como um desrespeito, afinal, em nada mudaria a moral de Leopoldina e Bonifácio se os dois tivessem realmente se envolvido, em um casamento como o que Leopoldina se encontrava seria perfeitamente compreensível se ela buscasse sua felicidade com outro homem mesmo que dentro do casamento, uma vez que este não passa de uma mera relação social, já que Dom Pedro que não respeitava Leopoldina
Como podemos ter plena certeza que tal fato não existiu? Acho que seria compreensível se ele apaixonasse pela princesa ,pois eles eram amigos ,confidentes ,tinham várias coisas em comum,isso pode gerar uma relação de confiança,amizade,respeito,carinho,ou seja, era onde ela encontrava um porto seguro,quero acreditar que não aconteceu,mas não acho impossivel.
como é uma novela, na minha opinião deveriam ter deixado o bonifácio com a leopoldina.
Totalmente fora de contexto. Tbm achei desnecessário tal insinuação.
Achei um grande absurdo esta insinuação de que haveria um romance entre a Pilrincesa e Bonifácio.
Licenca poética muito sem graça
Sem dúvida. São muitas imprecisões e erros históricos, mas essa insinuação é um desrespeito à figura de Leopoldina e do próprio José Bonifácio. Desnecessário.
Tbm acho!
Também achei, e ao contrário dos comentários aqui de que seria muito provável tal envolvimento de ambos em meio as fragilidades e tristezas da princesa, digo que é absurdo, pois a criação da princesa e suas crenças, jamais dão espaço pra tal conduta. É histórico e as pessoas deveriam procurar saber, antes de fazer tais conjecturas!
Concordo plenamente
Como as pessoas gostam de julgar e acreditar no pior
Obviamente foi um recurso para “esquentar” a trama e satisfazer a gana de vingança do público pela princesa humilhada. No entanto, apesar de ser uma grande viagem, não vejo como um desrespeito. As cenas são de bom gosto e os dialogos entre os dois bem bonitos.