Curioso sobre o novo livro de Mary del Priore? Conheça um pouco do terceiro volume da tetralogia Histórias da Gente Brasileira, cujo lançamento será no dia 4 de outubro:
No terceiro volume de Histórias da Gente Brasileira optamos por conversar com autores da nossa literatura. Suas memórias permitiram agrupar lembranças num álbum de retratos do que para eles importou, na primeira metade do século XX. Trata-se de fonte histórica rica, pois é a voz direta dos atores de um tempo. Eles nos contam o que viram, ouviram e viveram. Não estamos preocupados com o estilo, mas com o testemunho de seu modo de vida: o de uma geração que assistiu passar a História da República Velha e do Estado Novo. Para muitos, e em diferentes partes do país, as mudanças no cotidiano trouxeram maior impacto do que as revoluções ou a vida política. Por exemplo, o advento da radiola ou do Ford bigode ocasionou maior impressão do que a vitória de Getúlio em 1930 ou a revolução constitucionalista de 1932.
A República chegou em 1889, mas, as modificações que vieram com ela, atingiram diferentemente a gente brasileira. Tal como vimos no volume anterior, nem todo o mundo se impressionou com mudanças. Nem todos se beneficiaram com as novidades da telegrafia, da eletricidade, da água encanada. Regiões adormecidas conviviam com outras, onde a fuligem das fábricas e o brilho da fada-eletricidade não deixavam repousar.
Que o diga o amazonense Thiago de Mello, que, à beira-rio, filosofava: esse “Antes de tudo, era um tempo de tempo. Um tempo em que o tempo dava. Dava e ainda sobrava para o que desse e viesse”. Ou seja, um bom tempo… Diferente de Humberto de Campos que, em 1930, morando na capital do país, assim resumia seu sentimento sobre o que via e vivia: “A história do Brasil na República pode ser resumida num álbum de retratos. Figuras, figuras, figuras. Nenhum programa, nenhuma idéia”. Um mau tempo.
Na nova bandeira do Brasil, sob o lema “Ordem e Progresso”, uma constelação de estrelas. Estrelas de intensidade e brilho diverso, assim como diversos eram os estados da nação. O país era feito de vários Brasis. E de Brasis em tempos diferentes. Entre os memorialistas que expressam estas diversas temporalidades, não se vêem conceitos caros aos estudiosos como “cidadania”, “classes”, “modernização”, “elite”, pois seus apontamentos não querem explicar. Apenas descrever: “era assim”.
E suas descrições sobreviveram. São instantâneos preciosos. Suas vozes nos convidam a percorrer o passado e aproximam a literatura da história. E não importam quais histórias tais memorialistas nos contam, pois eles contam também a nossa. E eis a razão pelo qual vale a pena conhecê-los ou relê-los. Por isso mesmo, entre e sente-se, para ouvi-los…
Mary del Priore