Definitivamente, as mulheres são as maiores estrelas na corrida presidencial. Não se sabe se a presidente Dilma Rousseff (PT) vai enfrentar Marina Silva (PSB), em um possível segundo turno, ou se será Aécio Neves (PSDB). Mas, nas últimas semanas a campanha tem sido um duelo entre as duas mulheres. Luciana Genro (PSOL), por sua vez, tem se destacado nos debates e entrevistas, pela firmeza de suas posturas na hora de abordar os adversários. Ela também é a única que aborda de forma mais direta a questão do aborto. Nas redes sociais, as três candidatas estão em evidência.
Hoje, achamos normal ver presidentas, governadoras, prefeitas, deputadas, senadoras, etc. Mas, nem sempre foi assim. O voto feminino, por exemplo, foi uma conquista difícil, resultado das lutas de muitas pioneiras, que buscavam o seu lugar na sociedade. É bom recordar que a primeira mulher a ser eleita no Brasil, foi Carlota Pereira Queiroz, em 1934, para a Assembleia Constituinte. Ela participou ativamente da elaboração da primeira constituição brasileira em que os direitos das mulheres se equiparavam aos dos homens, pelo menos na lei.
Carlota estava otimista com o futuro das mulheres na política – não foi tão simples como ela supunha – porém, estava ciente da sua responsabilidade. Ela acreditava que a aprovação da Constituição esgotaria os problemas do “feminismo”. A deputada era médica, escritora e pedagoga. Vejamos como ela encarava o trabalho parlamentar e a participação feminina na política:
“Embora não me arrogue direitos de líder feminista, mesmo porque sempre fui contrária às organizações partidárias exclusivamente femininas, cabe-me hoje uma pequena responsabilidade no modo porque foi orientada, no seu início, a colaboração da mulher política na política entre nós. E, por essa razão, sinto-me obrigada a fazer algumas considerações a respeito da situação da mulher, em face da nova Constituição Brasileira. Justifica essa minha atitude um artigo recentemente publicado na revista americana Equal Rights (Direitos Iguais), da Comissão Interamericana de Mulheres, que acabo de receber dos EUA. Esse fato, levou-me à convicção de que o posto de única mulher eleita é de repercussão muito maior do que parecia ter à primeira vista, porque representa um passo a mais na evolução de um problema mundial. Assinado pela senhoras Helen Will Wood e Beth Gram Swing, membros da Comissão Intercontinental de Ratificação e Adesão, representa o referido artigo (…) uma grande deferência prestada por aquela agremiação à nova Constituição Brasileira. E, em homenagem à sua diretoria, que assim nos distingue, é que dele me ocupo perante essa Assembleia.
Em relação ao sufrágio universal, aos direitos e garantias dos cidadãos e à legislação do trabalho, consideram, aquelas autoras americanas, que a Constituição Brasileira alcançou fins muito elevados. Julgam-na demasiado longa, mas bastante clara. Afirmam ainda que é obra de um povo progressista e amante da liberdade, porque reconhece a igualdade de todos perante a lei, permite às mulheres o exercício de cargos públicos, institui o concurso obrigatório para admissão aos mesmos e favorece a completa expansão cultural da mulher, admitindo-a nos cursos universitários.
Essa opinião, por todos os modos respeitável, sobre o assunto precisa acabar por nos convencer, a nós, mulheres brasileiras, de que o chamado problema do ´’feminismo’ deixou de existir entre nós com a promulgação da nova Constituição*”.
O discurso de Carlota nos mostra que o feminismo na época estava engajado em questões muito concretas, ligadas aos direitos trabalhistas e políticos. Por isso, ela acreditava que com as mudanças na Constituição – que representaram, sem dúvida, um grande avanço – os problemas estariam praticamente resolvidos. Hoje, sabemos que não é assim. Ainda enfrentamos dificuldades no trabalho e, mesmo na participação política, já que o número de mulheres candidatas ainda é bem inferior ao dos homens. Mas, inegavelmente muita coisa mudou desde os anos 30, quando a simples ideia de uma presidente mulher era impensável. Boa votação a todos!
– Márcia Pinna Raspanti.
Extraído de “Brasil – a História contada por quem viu”, org. de Jorge Caldeira (Editora Marmeluco).
A pioneira Carlota Pereira Queiroz e Luciana Genro: um longo caminho percorrido.