Nos jornais cariocas de 1834, uma parteira diplomada oferecia seus serviços. Seu nome: Josephina Matilde Durocher, mais conhecida como Madame Durocher. A novidade era absoluta. Vestida com casaca e cartola, cabelos curtos ao estilo masculino, muitos pelos entre o nariz e a boca, Madame Durocher se tornou figura conhecida pela excentricidade do vestir, mas, sobretudo, pela competência profissional.
Nascida em Paris em 1816, veio para o Brasil em 1818, na leva de imigrantes que fugiam da volta dos Bourbon ao trono, depois da queda de Napoleão. Seguindo o modelo das parteiras do país de origem, Josephina se matriculou, em 1834, no recém-criado Curso de Partos, na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Paralelamente ao curso regular, completou sua formação com aulas particulares de importantes médicos da corte. Até então, as únicas exigências legais para exercer o ofício eram comprovar experiência e passar por um exame, o que nem sempre era cumprido.
Não havia maternidades, e dar à luz fora de casa, na enfermaria da Santa Casa, por exemplo, era apavorante. Só em caso de partos complicados, e as mortes eram frequentes. Tal como no Brasil Colônia, ajudar no parto e atender aos recém-nascidos com primeiros socorros unia as mulheres. Tais conhecimentos, considerados femininos, eram transmitidos de mães para filhas; senhoras partejavam amigas e escravas, e vice-versa.
Mas, a partir do início do século XIX, benzedeiras, aparadeiras e boticários começaram a ser perseguidos pelos médicos. No Curso de Partos, anexo à Clínica Obstétrica, os médicos se responsabilizavam pelo ensino e estabeleciam normas de ofício para as parteiras (embora os homens continuassem proibidos de entrar no quarto de mulheres, só sendo chamados em emergências). Para a inscrição, exigia-se que as alunas fossem alfabetizadas e falassem francês. Devido a essas e a outras dificuldades, muitas parteiras continuaram a exercer seu ofício sem diploma.
Madame Durocher atendia a famílias ricas e pobres. Ao se recordar, o médico Vieira Souto recordou-se de que, aos oitenta anos, ela entrava “em casebres, por estradas tortuosas, arredando os móveis” para atender às gestantes, além de participar de exames para verificar casos de defloramento, estupro, condições do feto e infanticídio. Em suas memórias, contou que um dia foi chamada pela polícia para dar parecer sobre um defloramento. Para o mesmo fim, também foi solicitada uma parteira leiga que trazia um ovo, o “fala a verdade”. Intrigada, Madame Durocher perguntou para o que ele servia. Resposta da comadre: “Olha, cá eu trago o tira-teima”. Se o ovo entrasse na vagina significava que a moça não era mais virgem. Ao que lhe respondeu a parteira francesa: “Vê que foi bom você não se servir do ovo; agora pode aproveitar para a gemada”.
Em sessenta anos, ela realizou mais de 5 mil partos. Angariou reconhecimento e prestígio – foi a única parteira a ser convidada a integrar a Imperial Academia de Medicina. Em seu Considerações sobre a clínica obstétrica, reuniu fatos e resultados dos anos de trabalho. – Mary del Priore
Sim poderia se dizer que os partos feitos pelas parteiras seria nos dia de hoje o parto humanizado, acho muito lindo, mesmo pq nasci de parto natural com uma parteira sendo assim eu acho mais saudável. Poderia sim voltar as parteiras novamente com muita conscientização… Parabéns pelo texto!!!!