Tenho evitado escrever sobre os temas políticos atuais do nosso país, tanto por desgosto quanto para evitar linchamento por parte de pessoas que não concordam comigo e não conseguem aceitar meu direito à liberdade de expressão. Além disso, como todo profissional da área de humanas atualmente, estou sujeita a ser policiada e tolhida por aqueles que simpatizam com os ideais da Escola Sem Partido, que eu particularmente abomino. E não falo apenas de desconhecidos, incluo aqui amigos e familiares.
Mas há temas que não podem ser ignorados. Há ações que não podem deixar de ser denunciadas. Esta semana foi divulgada uma notícia alarmante acerca de um possível corte o orçamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para 2019, organismo ligado ao MEC. A Capes, acredito, é pouco conhecido pelo público geral mas é um organismo de fundamental importância para a própria existência da ciência no Brasil.
O corte , se realmente acontecer, que irá afetar centenas de milhares de bolsistas de pesquisa em todo o país, incluindo 93 mil bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado, 105 mil bolsas de programas de formação de profissionais da educação básica (como PIBIC e Parfor). Significará ainda a interrupção do Sistema Universidade Aberta do Brasil e do Programa de Mestrado Profissional para Qualificação de Professores da Rede Pública de Educação Básica (ProEB), prejudicando cerca de 245 mil alunos e bolsistas (professores, tutores, assistentes e coordenadores) de 750 cursos (mestrados profissionais, licenciaturas, bacharelados e especializações) de 110 instituições, em mais de 600 cidades de todo o território nacional.
A interrupção das bolsas e dos programas acarretará, com certeza, o fechamento de diversos cursos de pós-graduação em todo o Brasil, bem como o fim de pesquisas importantes realizadas no país e do intercâmbio científico com pesquisadores do exterior.
Caso o corte seja aprovado estaremos assistindo ao desmantelamento da pesquisa científica no Brasil e da própria universidade pública, que já vem sofrendo com o descaso do governo nos últimos anos. Se isso realmente acontecer, a curto e médio prazo, teremos o desaparecimento de profissionais capacitados em todas as áreas e a provável fuga de intelectuais e potenciais cientistas para outro países.
O Brasil sofrerá um esvaziamento científico e intelectual que irá colocar nosso país numa situação política e econômica ainda pior. Os estudantes de graduação também serão afetados, com a limitação da oferta de cursos de pós-graduação. E não apenas os das universidades públicas, mas das privadas, também.
Esqueça por um momento suas simpatias ou antipatias partidárias e pense enquanto cidadão que está sendo lesado, sem poder contar no futuro com profissionais em condições para analisar o contexto político e social do país, sem profissionais capazes de poder pesquisar a cura de doenças, sem profissionais capazes de construir pontes e mesmo estradas. Pense que se você é daqueles que podem pagar por estes serviços eles ficarão muito mais caros. Pense que encontrar profissionais será mais difícil. Não é vantagem para ninguém aumentar a dependência do país, por exemplo, por tecnologia importada.
Pense num país de bestializados que não terão acesso a uma educação com o mínimo de qualidade. Não importa se seu posicionamento político é de esquerda ou direita, não é possível tolerar qualquer ação que prejudique o nosso direito a um serviço apropriado, oferecido por profissionais capacitados.
* Os dados numéricos acima citados foram fornecidos pela Associação de História do Rio Grande do Sul.

Imagem capturada em: encurtador.com.br/hoquU.
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Quem é Natania Nogueira? Esqueceram-se de apresentá-la. Não compartilharei por isso, fica chato se não se pode apresentar quem escreve o artigo. Grata.
Boa tarde, Marta.
Natania é colaboradora antiga de nosso blog: professora e doutoranda em História. Saiba um pouco mais sobre ela: apresentação – Natania Nogueira
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