Prof. Juvenal Lima Gomes
Sou professor desde 2006, tenho 33 anos e amo minha profissão. Entretanto “nem só de amor vive o homem”. Há dois anos, precisei tomar a decisão que de deixar de ser professor em Escola Pública da Rede Estadual de Minas Gerais, para me dedicar exclusivamente a uma escola da rede particular. Felizmente, retornei a rede pública por meio de concurso público no ano de 2013. Entretanto, o atual salário de R$ 700,00 (setecentos reais) – isso mesmo, menos que um salário mínimo – está me colocando em sério risco de desistir da profissão. Sou graduado em História, Especialista em História, Mestre em Sociologia, bilíngue e com experiência de trabalho internacional, mas para o Governo de Minas Gerais, meu trabalho não vale nem sequer um salário mínimo.
O projeto nefasto do governo é que eu não seja professor de crianças pobres, da favela, ou mesmo da classe média, com dificuldades em bancar o filho na rede particular. O que não posso admitir são projetos de governo com objetivo de sucatear a rede pública de ensino em favor de gigantescos projetos de privatização. Entretanto, a exemplo dos cerca de 2.000 professores que pedem exoneração da Rede Pública Estadual de Minas Gerais todos os anos, receio que eu não consiga resistir por muito tempo nesse combate.
Minas Gerais é o segundo estado mais rico do país, mas não paga o piso salarial dos professores, atualmente estipulado em R$1.917,78. O atual governador de Minas Gerais Fernando Pimentel alega, a exemplo do que fez o governo PSDB nos últimos 12 anos, que o Estado esta quebrado e não possui meios para pagar o piso. Entre os professores paira um grande desalento, uma vez que nós fomos protagonistas da derrota do PSDB em Minas e colocamos nossas fichas em um governo que pudesse demonstrar senso de responsabilidade com as crianças e jovens mineiros.
O professor em sala de aula é nossa peça fundamental para transformar a educação de nosso Estado. Se o novo governo não se responsabilizar por assegurar esses profissionais com carreiras e salários dignos, muitos farão o que ando pensando em fazer e desistirão de ser professor. Estamos com dois imensos problemas em Minas e no Brasil. Não só estamos com um grande número de demissões e exonerações entre os professores, como não estão sendo abertas novas turmas de formação de professores nas universidades. Ninguém quer mais ser professor, e as razões disso não são difíceis de serem compreendidas. Em um curto período de tempo, teremos menos médicos, menos advogados, menos engenheiros, e todos os outros níveis superiores e médios de profissionalização. Uma realidade que já é sentida no país e tende a se agravar.
Ser professor da Rede Pública Estadual de Minas Gerais representa para mim a utopia por um país em que não somente os mais ricos tenham acesso à universidade e aos trabalhos de melhor remuneração e qualidade. Significa renunciar ao privilégio de apenas dedicar minha vida, formação e currículo aqueles mais enriquecidos e cujas as escolas particulares se vangloriam de ter mestres, doutores e bilíngues em seu quadro sem lhes pagar um centavo a mais por isso. Ser professor da Rede Pública Estadual significa poder fazer pelos meus alunos mais empobrecidos o que alguns de meus antigos professores fizeram por mim. Entretanto, meu idealismo não consegue combater a inflação, o baixo salário e a ausência de carreira. Sou um professor em risco de desistir da profissão, e assim como eu, milhares pelo Brasil estão compartilhando da mesma angústia.
As primeiras escolas a sentirem nossa ausência são as públicas, em seguida as particulares que já enfrentam índices históricos de pedidos de demissão. O atual plano de Lei 4330/2004 que autoriza a terceirização de todos os serviços prestados por uma empresa e que foi aprovado no dia 08 de Abril de 2015 na Câmara de Deputados Federais, poderá acentuar ainda mais essa crise. Se a Lei for aprovada também no senado e sancionada pela presidente Dilma, são esperadas milhões de demissões em todo país, para que as empresas economizem cerca de 30% com suas folhas de pagamento.
Diante de um futuro repleto de incertezas, faz-se necessário uma grande mobilização de todos os indivíduos de nossa sociedade para que o país não siga na mão de mercenários com títulos de deputado. Cerca de 80% dos parlamentares que foram eleitos no Brasil, o fizeram com recursos oriundos de grandes e médias empresas. Desse modo, seus compromissos são fundamentados pelo interesse das empresas que financiaram sua campanha. A ausência de uma reforma política séria no país ameaça todas as conquistas sociais e trabalhistas que alcançamos nos últimos 70 anos. Entre eles, a própria democracia.
Estamos diante de um cenário em que os indivíduos estão descrentes não somente no governo, mas em todas as suas instituições. O resultado de tudo isso é inevitavelmente a escalada da violência como único meio para solução dos conflitos de interesses. Faz-se urgente que cada indivíduo busque preservar esses direitos recorrendo à mobilização pacífica e criativa para assegurar a democracia e os direitos sociais de todo brasileiro. Nossa revolução será a educação e não temos outra escolha. Ela será a alforria de nosso país.
Juvenal, como sempre, vc consegue dar o recado de maneira muito elegante e prática. É isso, meu caro, só denunciando a educação poderá dar uns pequenos saltos. Saltos gigantes, jamais. Não é do interesse público avançar na tão famigerada educação de qualidade.
Vira-se mais uma página, a cada eleição, mas a prática nefasta continua perseguindo a rota de sempre. Não encontra-se caminho novo. Não querem encontrar o jeito melhor de governar. Querem é manter o sucateamento dentro de discursos novos. Pena, meu caro!
Parabéns pela matéria!
Abraços, com admiração,
Joaquim
Mesmo sendo ainda apenas uma aluna do Curso de Licenciatura em Pedagogia, sinto tanto pela situação real que nossos professores enfrentam, essa falta de reconhecimento, é de fato desumano, e todos perdem com isso! Esperança de que um dia isso mude ou amenize
Conheço vários casos de professoras que tiram o dinheiro do próprio salário para pagar algum material que a escola não adquire, ou promover comemorações (Dia das Crianças, Natal…).
E mesmo com um piso salarial insuficiente para manter a qualidade de vida e o investimento que a profissão docente exige (cursos, livros, participação em eventos, dedicação exclusiva, participação em grupos de estudo, etc.), ainda é possível pagar menos do que o piso salarial nacional segundo texto publicado no site do governo federal:
“Professor que trabalha 20 ou 30 horas semanais pode receber o piso?
A lei que instituiu o piso salarial nacional do magistério prevê que haja proporcionalidade entre o valor do vencimento inicial destinado ao docente que trabalha mais ou menos que 40 horas semanais.
Com base nisso, calculamos que o vencimento inicial para o professor ou profissional que atua no suporte pedagógico em início de carreira, mas possui uma carga horária de 20 horas semanais, deve ser de R$ 958,89 – ou seja, metade do valor do piso. No caso da jornada de 30 horas semanais, o piso é de R$ 1.438,33.”
http://www.brasil.gov.br/educacao/2015/02/tire-suas-duvidas-sobre-o-piso-salarial-dos-professores