Um socialista no Brasil do século XIX

            O Brasil é um país sem memória. E por isto mesmo, temos que lembrar daqueles que não tem tido espaço nos livros de história. Abreu e Lima é um destes nomes. Nascido em Recife, PE, a 6 de abril de 1794 e filho de família abastada, José Inácio de Abreu e Lima teve trajetória singular.  Seu pai, o padre João Inácio Ribeiro Abreu, por apelido Padre Roma, teve uma participação ativa na Revolução Pernambucana de 1817. Preso e condenado, foi fuzilado na frente do filho. Este já era capitão e trazia no sangue as ideias liberais pelos quais seu lutou seu genitor. O drama atingiu a família inteira. Dispersos e arruinados, José Inácio e seu irmão Luís Inácio foram expulsos da corporação militar e feitos prisioneiros.

            Graças a contatos na maçonaria, ambos foram libertados e enviados aos Estados Unidos, recém independentes da Inglaterra. Lá, a cidade de Pensilvânia agregava maçons do mundo inteiro, assim como fugitivos da América Espanhola que lutavam pela liberdade de suas províncias. Uma febre de panfletos e jornais aí publicados estimulavam a independência das diferentes regiões e o rompimento com as monarquias europeias. José Inácio aderiu a esta agenda e, em 1818, separou-se do irmão, viajando para a Venezuela. Juntou-se aos revolucionários que estavam sob o comando de Simon Bolívar. Embora fosse um oficial brasileiro, rapidamente passou a liderar as tropas que lutavam pelo fim do Antigo Regime. Destacou-se nas batalhas que decidiram a libertação da Colômbia, mas, também lutou pela independência do Equador, Peru e Venezuela. Sua coragem rendeu-lhe muitos reconhecimentos. Mas a amizade pessoal de Bolívar foi o maior deles. O brasileiro acompanhou o herói colombiano até sua morte, em 1830.

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         Além da atividade como militar, Abreu e Lima desenvolveu sua verve de jornalista, publicando no Correo Del Orinoco, artigos em favor de outras independências, inclusive a do Brasil. Com o desaparecimento de “El Libertador”, a presença de estrangeiros tornou-se difícil entre as armas colombianas. Coberto de medalhas e ostentando a patente de general de brigada, com os títulos de “Libertador da Venezuela e de Nova Granada”, Abreu e Lima retornou ao solo brasileiro, em 1832. Teve início uma nova fase de sua vida, agora, como político. Era conhecido como “general das massas”. Sempre alimentado por ideais libertários, participou da Revolução Praieira que estourou em Recife, em 1848, e que pregava a autonomia provincial, o fim da monarquia e a instauração da república. O movimento contou com a participação de pobres, oprimidos pela grande concentração de terras nas mãos de alguns poucos. Abreu e Lima foi, então, preso e condenado a prisão perpétua na ilha de Fernando de Noronha, onde passou dois anos, quando aproveitou para fazer observações naturalistas.

            Ele se tornou, também, o pioneiro da divulgação do ideário socialista entre nós, tendo lançado em 1855, o livro “O Socialismo”. Num país escravista, onde nem sequer se falava em trabalho livre e assalariado, o livro caiu como uma bomba. A palavra não tinha então o sentido que lhe será dado ao final do século XIX e o autor assim a definia: “é a tendência do ser humano de formar uma só imensa e só família”. Sua preocupação era com a justa distribuição de riqueza e com a liberdade de crença e fé, o que lhe valeu o ódio da Igreja católica.

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            Faleceu a 9 de março de 1869, sendo enterrado numa sepultura modesta no Cemitério dos Ingleses, em Recife, o único a aceitar receber o corpo de um militar, político e escritor, considerado ateu, mas cuja particular  lembrança merece ser reabilitada. – Mary del Priore

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  1. Viviane
  2. Baldoino

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