Eles preferem as loiras?

Até o meados do século XIX, as brasileiras eram conhecidas pela sua morenice: pele azeitonada, longos cabelos negros ou castanhos, olhos grandes e escuros. Aos poucos, porém, este modelo de beleza foi substituído pela figura da mulher loura, de cabelos e pele claros. Mesmo que o bronzeado tenha voltado à moda, as loiras se tornaram muito populares entre nós, sendo associadas à beleza e à sensualidade. Mas, como ocorreu essa transformação?

No final do período imperial, o Brasil foi invadido por uma série de produtos importados, inclusive inovações técnicas para melhor a indústria local. Importavam -se artigos como descascadores, despolpadores e ventiladores agrícolas. Mas, também gostos e modismos: o hábito de beber cerveja foi um deles. E ainda sapatos escoceses Clark, máquinas Singer e tudo o que havia de chic na França, em termos de cosméticos, perfumaria e artigos para a casa.

Gilberto Freyre lembra que nesta onda das coisas que vinham de fora começaram a chegar as primeiras loiras que encantaram os brasileiros: as bonecas francesas de porcelana. Eram bonecas louras, de olhos azuis, vestidas com seda, que vieram para substituir as antigas bonecas de pano entre as meninas mais ricas. O desprezo pela pele trigueira, entre os mais jovens, também foi agravado pela contemplação dos anjos, santos e madonas de aspecto nórdico que enfeitavam as capelas dos colégios. E ainda, diz Freyre, pela leitura de Chiquinho, herói louro da revista Tico-Tico.

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Depois das bonecas de louça, chegaram outras louras, agora de carne e osso, exibindo pele e cabelos claros: as prostitutas estrangeiras. Muitas das quais eram loiras falsas, e chamavam atenção com seus cabelos pintados. Foram as tais “mundanas” ou “hetairas” europeias que desenvolveram entre os nossos homens certa “consciência sanitária”, participando a seu modo da onda de higienização que varria as grandes capitais da República que nascia.

A moda das louras vai ganhar mais força logo após a proclamação da República por diferentes razões: primeiramente, pelos ideais de branqueamento das elites, incomodadas com o mulatismo da população – que era identificado com o atraso. E também devido à chegada de imigrantes estrangeiros. Os alemães, principalmente, eram vistos como modelos de eugenia.

Finalmente, as teorias arianas haviam conquistado parte dos intelectuais brasileiros. Muitos passaram a acreditar que o “clareamento” dos brasileiros aproximaria o Brasil dos países mais adiantados, pois, promoveria a “melhoria da raça”. Mary del Priore destaca que, neste cenário, é fácil entender a valorização social das mulheres claras. Quem não era branca tentava parecer branca, utilizando pós, pós, pomadas e tintura para os cabelos. Ao longo do século XX, assistiremos ao sucesso de inúmeras divas loiras do cinema americano e europeu, o que consolidaria mais ainda entre nós o apreço belas madeixas claras e douradas.

(Márcia Pinna Raspanti, baseado em “Corpo a Corpo com a Mulher”, de Mary del Priore).

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Marilyn Monroe: estrela que consagrou a beleza das loiras no cinema.

 

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  1. Thiago Milfont

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