QUEM É O PROFISSIONAL DO MAGISTÉRIO DO SÉCULO XXI?

Por Natania Nogueira.

Das lembranças a minha infância algumas remetem aos meus primeiros anos de escolaridade. Meu primeiro dia na escola, minha primeira amiguinha, minha professora do primeiro ano primário, que quando eu tive caxumba me dava aulas de reforço.  Lembro-me dos meus professores com saudade.

Havia um forte laço efetivo entre professores e alunos, algo que contrastava inclusive com o rigor do ensino, nos anos de 1970 e 1980. Disciplina não significava falta de liberdade ou mesmo cerceamento da criatividade. Havia um equilíbrio que, atualmente, é difícil de ser alcançado. É claro, havia críticas ao sistema de ensino, o que é saudável. A crítica, quando bem direcionada, pode conduzir a uma autoavaliação e, posteriormente, a mudanças.

Mas ser professor há 30 anos não é o mesmo que nos dias atuais. Muita coisa mudou e, infelizmente, as críticas não foram tão bem direcionadas. O magistério sofreu muitas transformações, claro, mas que, em sua maioria, não beneficiaram nem professores e nem alunos. Refiro-me à qualidade do ensino/aprendizagem nas escolas e à valorização da profissão docente.

É um grande desafio na atualidade ensinar para crianças e jovens que estão perdidas em um mundo cheio de estímulos visuais e sonoros, onde nada tem verdadeiramente limite.  São jovens que não encontraram seu norte, que não conseguem enxergar para além da redoma onde são criados. Jovens que, independentemente da origem social e econômica, foram iludidos ao achar que “podem tudo”, quando na verdade, sabemos que na dura realidade da vida podemos tão pouco.

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Lidar com esta clientela é muito complicado e exige do professor uma reavaliação drástica da sua metodologia de ensino. A cada ano, os alunos apresentam novas demandas e, também, mais dificuldades. Nossos jovens não sabem ouvir, não gostam de ler e não querem escrever. Como consegue, então, o professor ensinar? É preciso muita criatividade e nem sempre se consegue atingir a todos de forma satisfatória.

O profissional docente no Brasil sofre, a cada ano, com a desvalorização crescente do magistério e a perda do pouco status social que ainda possuí. Episódios recentes como a greve dos professores no Rio de Janeiro e no Paraná demonstram como o magistério vem sendo politicamente perseguido no Brasil. Projetos de Lei em tramitação no Poder Legislativo pretende limitar e até mesmo criminalizar a ação dos professores nas salas de aula.  Vivemos um contexto de crise.

Segundo dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o professor brasileiro tem um dos piores salários pagos no mundo.  Em 2012, dados da OCDE estimavam este valor anual em torno de  16.300 dólares.  Em 2014, a renda anual de um professor do ensino fundamental, no Brasil, era de 10.365 dólares. O professor brasileiro do século XXI inicia sua carreira financeiramente desmotivado e sem muitas perspectivas de melhora.

Com uma carga semanal de até 60 horas, o professor não consegue tempo para investir na sua formação, ler um livro ou mesmo ir ao cinema ou ao teatro. Enfrenta o desinteresse de muitos pais em participar da educação dos filhos, a apatia de alunos, a falta de recursos financeiros e materiais e é massacrado pelo sistema que ainda hoje promove a culpabilização do professor, sobre quem recai todo o ônus da educação.

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 Em meio a tanta truculência o professor do século XXI que herdou os problemas dos professores do século passado e tem que enfrentar novos desafios, munido de uma formação precária e de boa vontade. O professor do século XXI é um professor proletário. Ele é, acima de tudo, um idealista e um guerreiro. Mas mesmo os guerreiros um dia precisam guardar suas armas. Esperemos que elas possam ser usadas por outros professores e que a crise que o magistério enfrenta atualmente torne-se uma oportunidade. Que o Brasil aprenda que ao valorizar seus professores está valorizando, também, seu povo.

 

 

 

 

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