“A história é um romance verdadeiro”, disse certa vez, Paul Veyne. E é. Vou comprová-lo com meu primeiro romance histórico, totalmente inspirado num caso verídico. Mais do que isso, em documentos de época. “Beija-me onde o sol não alcança” – da editora Planeta, nas livrarias a partir de 25 de setembro – trata de um triângulo amoroso que nos conta muito do que foi o Oitocentos no Brasil. De um século em que o café foi a grande riqueza, em que as pessoas se casavam por interesse e que assistiu ao fim da escravidão. Passado entre São Petersburgo onde nasce o protagonista masculino, conde Maurice Haritoff; Pirai, no Vale do Paraíba, onde ele encontra sua esposa, a rica neta do barão de Piraí e sobrinha das maiores fortunas então, os irmãos Joaquim e José Breves, Nicota Breves; a Corte do Rio de Janeiro, onde o casal ganha e perde dinheiro; e Paris, de Napoleão III, em que morava o restante da família Haritoff; a obra trata da história de um triângulo amoroso em que o terceiro personagem é uma negra, filha de escravo alforriado, por nome Regina Angelorum.
Os três existiram, e a história fez escândalo na época, pois Maurice Haritoff se apaixonou por Regina e, depois da morte da esposa, casou-se com ela. Tiveram três filhos e sua relação retrata a situação de muitos senhores que tiveram relacionamentos estáveis e amorosos com suas escravas. A pesquisa me obrigou não só a conhecer perfeitamente a história do fim do Império brasileiro, quanto o do russo, do czar Alexandre II, como também a Paris das reformas do engenheiro Haussmann. A reconstituição dos cenários é rigorosa, bem como das cidades e ambientes pelos quais circula o casal. Nicota é uma menina doentia, ingênua e apaixonada, Maurice um caça-dotes oportunista de família aristocrática e decadente. A dificuldade foi dar a voz de época para os atores históricos. Para isso, percorri centenas de livros repertoriados na bibliografia, a fim de que, em momento nenhum, a narrativa fosse quebrada por uma palavra anacrônica ou fora do lugar. Os dicionários de época foram fundamentais para evitar escorregões. Fui fiel até nas palavras de baixo calão utilizadas. Tive a sorte de ter acesso às cartas escritas por Nicota ao marido e as de Maurice à família em que ele se justifica por casar-se com uma moça pobre e negra que deram o tom da narrativa.
Sobre a oportunidade de ter tido acesso a esses documentos raríssimos e em coleção privada, poderia repetir como Picasso, quando o perguntavam sobre seus temas: “Não procuro, encontro”. Diz meu mestre Gilberto Freyre que “uma espécie de anjo, não da guarda, mas de vanguarda, capaz de levar seu protegido a tesouros encantados, parece às vezes iluminar o caminho não só de artistas, como de historiadores empolgados pelo estudo de algum assunto ou problema”. Pois foi o meu caso. Anteriormente nas mãos de Affonso Romano de Sant´Anna que desejava fazer uma minissérie para a TV, a correspondência em perfeito estado me foi passada com toda a simpatia pelo grande escritor e ensaísta. Depois de tê-la utilizado, convenci a proprietária, uma grande dama baiana, Dona Ieda Borges, de doá-la ao arquivo do IHGB (Instituto Histórico e Geográfico da Bahia). Lá está para quem quiser consultar.
Sob o ponto de vista ficcional, criei dois personagens. Um mulato jornalista, inspirado nas dezenas que atuaram na imprensa, abolicionista ou não, da época. E uma velha escrava, confidente de Sinhá Nicota, que me permitiu mostrar ao leitor as relações entre senhores e os chamados “escravos de dentro”. O jornalista, sobretudo, é a voz que revela a hipocrisia da sociedade ao final do Império, o conservadorismo dos senhores de escravos, mesmo os negros e mulatos que não foram poucos e o provincianismo cultural do país.
Para os críticos da iniciativa, já deixo a resposta: é preciso haver história para todos. O Brasil precisa conhecer o seu passado. Se propostas como essa hão de suscitar muxoxos, haverá, também de conquistar mais aficionados para nosso ofício. Aliás, o que é ser historiador, se não ser um profissional do entusiasmo?
– Texto de Mary del Priore.
Confira a capa do novo livro no link abaixo:
Ganhei este livro do meu amor! Sou fã de Mary Del Priore e ainda adquiri outro livro dela pelo meu amor, é óbvio que irei ler este romance com voracidade.
Boa leitura!
Tudo o que esta incrivel escritora produz, vai enriquecer a nossa historia. Semore bem vindo tudo o que é de Mary del Priore.
Já adquiri o livro e todos os dias quando chego em casa corro para Maurice e Nicota. Já tão acostumada às suas histórias, antes mesmo de terminar a leitura do livro, já sinto falta dessas personagens-pessoas que marcaram época. Uma viagem ao passado que, em muitos aspectos,ainda se faz tão presente em nossos dias atuais. Recomendo a leitura.
Querida Mary, e eis que novamente, já encontro-me… em mais um episódio de, se assim a ex- professora e sempre amiga, me permite, carinhosamente dizer:”ansiedade literária”. Ensinando sobre a história do café na São Paulo oitocentista aos alunos da Educação de Jovem em Adultos no ensino municipal da capital paulista, já me vejo, mergulhando em tal trama , certamente, suntuoso referencial, para que eu teça em sala de aula, riquíssimo encontro entre o público e o privado, a história e a ficção, o ofício do historiador e as fontes, o cenário cafeeiro e os afetos…que movem os sujeitos históricos…Belo poder resignificar a temática pensando-se no referido romance, como mote literário da mais alta relevância. Beijo Grande, Forte Abraço e Sucesso Sempre. Saudades!!!!
Aguardo, ansiosamente, o dia 25 de setembro. Parabéns, Mary! Você é a nossa sacerdotisa de Clio.
Por aqui, aguardo ansiosa!! Vai ser um sucesso!!
Que maravilha! Já no aguardo. E que venham outros, muitos outros. Abraço.
Aguardando…
Aguardando ansiosaaa!!!!
Parabéns!