Por Natania Nogueira.
Na segunda-feira, comemoramos 193 anos da Independência do Brasil. O Dia da Independência é um dos feriados mais importantes do nosso calendário cívico, mas tem cada vez mais, se reduzido apenas a isso: a um feriado. O dia 7 de setembro, assim como outras datas cívicas comemoradas ao longo do ano, não possui significado para o povo brasileiro de uma forma geral.
E como uma data pode ser simbólica se ela não tem significação?
Pergunte a qualquer pessoa que você encontrar na rua qual é o significado da Independência do Brasil. Na pior das hipóteses, corre-se o risco de ter uma outra pergunta de volta: – “Sobre o quê?” Se você der sorte a pessoa irá responder automaticamente: – “É dia em que o Brasil ficou independente de Portugal”. Entretanto, será que as pessoas sabem o que é ser, de fato, independente? Elas reconhecem seu papel neste processo? Entende que a construção de uma nação é um ato ininterrupto?
A tão festejada autonomia brasileira tem perdido em seu lugar na memória do nosso país, na nossa identidade coletiva. O brasileiro comemora seus dias cívicos de forma automática, como uma obrigação. Muitos nem sabem cantar o hino nacional corretamente. Aquele clamor cívico que encontrarmos em outras nações não parece despertar paixão aqui, no Brasil.
Como professora de História, acho isso preocupante. Não que eu defenda o estudo dos grandes heróis ou dos grandes eventos nacionais como base do nosso ensino de História. Longe disso! Mas é necessário entender o significado que estes eventos têm na formação na nossa nação.
O que tenho visto, e me assusta, é uma crescente apatia e desinteresse por parte de jovens e adultos. Os momentos cívicos são marcados por essa indiferença. Observando uma comemoração cívica em uma das escolas onde trabalho, foi fácil perceber que os estudantes não sabiam o que realmente estavam fazendo ali. Nem mesmo tinham noção de como se portar, do decoro, do protocolo exigido nesses momentos. Professores se revezavam para manter a disciplina, algo que não deveria ser necessário nessas ocasiões.
Em meio a mais de 300 alunos, identifiquei apena um. Isto mesmo, um aluno que entoava o hino nacional com paixão, com a mão direita espanada sobre o coração. Ele sabia o significado do que estava fazendo, mas era a exceção, quando deveria ser a regra.
O envolvimento com movimentos cívicos deve ser uma expressão do amadurecimento político de uma nação, algo que nos fortalece. A política faz parte da nossa formação individual. É necessário conhecer a nossa herança política e dar significado a ela. Ser cidadão significa ser político. Nossa história política tem muito a nos oferecer sobre os erros que não devemos novamente cometer. A alienação é nossa maior inimiga, ela nos deixa vulneráveis a discursos demagógicos que não levam em conta os interesses maiores da sociedade.
Afasta-nos da compreensão do significado das manifestações cívicas o desconhecimento do que é política. Confunde-se política com o governo, com o “político profissional”, que se candidata a cargos eletivos e participa de alguma agremiação política. E mesmo estes “políticos profissionais” desconhecem o significado mais amplo daquilo que deveria nortear suas ações.
O conceito de político é fluido. Política é o debate em prol do bem comum, de temas que, de alguma forma, dizem respeito às demandas da sociedade. A política não se faz apenas entre quatro paredes. Ela está nas ruas, nas escolas, nas igrejas e todo espaço que agregue pessoas que se interessam pelo bem comum, que defendem o uso racional dos bens públicos.
Nosso sentimento de pertencimento passa pela tomada de consciência de que somos seres políticos. Essa tomada de consciência é individual, porém, é preciso que se crie condições para que ela aconteça. Uma educação voltada para a formação do cidadão não pode deixar de lado esta formação crítica. É ela que vai impedir que nosso patrimônio público seja dilapidado e que nossa nação seja entregue nas mãos de dirigentes incapazes de colocar em primeiro lugar o bem comum.
Qual o significado das datas cívicas?
Excelente reflexão! Compartilho.
Obrigada, Therezinha!