História para todos

Nesta entrevista de Mary del Priore fala sobre o sucesso dos livros de História nos dias atuais. Existe uma disputa entre jornalistas e historiadores? O aumento da produção de obras relativas à História do Brasil tem efeito positivo ou negativo? Confira as opiniões da historiadora.

-Você percebe que há um interesse maior por parte do leitor pelos temas ligados à História do Brasil? Por que esse interesse? 

Ele está ligado a muitas coisas: na era da globalização e metralhados por informações sobre o mundo, é preciso saber quem somos, de onde viemos, o que é o Brasil. Logo, o interesse está associado a um interesse maior por nossa identidade. Também é importante abrir o espírito das pessoas para o questionamento histórico, por meio de obras lúdicas, fáceis de apreender. É preciso tornar acessível ao maior número de pessoas, não apenas o conhecimento, mas uma maneira de pensar que muitas vezes é vista como elitista. Através da divulgação, é importante propor conteúdos que os permita refletir e argumentar no mundo que os cerca. Ou seja, oferecer uma ferramenta que os permita posicionar-se, de maneira inteligente, em relação às problemáticas complexas da sociedade. Além do que, “conhecer história” fornece o tal “conteúdo” tão cobrado no mundo corporativo, no universo do trabalho e das instituições. O conhecimento de história traz criatividade e inovação atingindo um objetivo fundamental: o de sair do mundo das opiniões para aquele das ideias.

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 – Você acredita que tenha uma grande participação nesse contexto? Como você avalia o fato de seus livros terem boa vendagem? 

Tenho tido excelente resposta em todos os livros que venho escrevendo nos últimos anos. O Príncipe Maldito uma biografia do neto do Imperador D. Pedro II que conspirou contra o trono brasileiro, vendeu 25.000 exemplares. Uma breve história do Brasil figurou na lista dos mais vendidos. Lancei outros livros que venderam um pouco menos: Condessa de Barral – a paixão do Imperador, por exemplo. São resultados excelentes na área de história que preenchem meu objetivo fundamental: fazer mais e melhor história para o maior número de pessoas. Sempre fui preocupada com a divulgação da disciplina histórica e vejo com prazer que o número de revistas e livros sobre a matéria vem crescendo, assim como os leitores. Poder participar deste movimento é uma realização e um grande prazer.

– Acredita que há alguma ‘disputa ‘ entre historiadores e jornalistas que escrevem obras sobre história do Brasil?

Ao contrário. Vejo que existe uma interação e um diálogo amistoso, no qual uns aprendem com os outros. Adoro o Eduardo Bueno e o Laurentino Gomes, cujos livros já tive oportunidade de prefaciar ou resenhar sempre com elogios rasgados. Os livros de Jorge Caldeira são considerados referência para qualquer estudioso. Rui Castro, Nelson Motta e Fernando Moraes vêm dando sua contribuição para o entendimento da sociedade brasileira contemporânea. Nós, historiadores, também temos muito o que aprender com os jornalistas. A narrativa que eles produzem é mais ágil e mais fácil de ler do que a nossa.

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– O que você acha de jornalistas escreverem sobre esse tema?

Acho excelente. Quanto mais gente escrevendo e lendo sobre história, melhor. O importante é que haja história para todos: quem quiser trabalhos mais musculosos, leia ensaios ou teses universitárias. Quem quiser se distrair, aprendendo sobre o nosso passado, não faltam manuais. E as biografias, são deliciosas leituras que ajudam na compreensão fácil de épocas inteiras de nossa história.

–  Na sua opinião, no que os livros de História escritos feitos pelos jornalistas diferem das obras dos historiadores?

Os historiadores têm que respeitar as regras do ofício. Apoiar-se em documentos e bibliografia histórica, analisar a documentação com rigor, estar ao par da produção que se faz na Universidade e incorporá-la, esses são alguns dos procedimentos que devem estar implícitos no seu trabalho, ainda que seja para divulgação.

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“O Príncipe Maldito”: sucesso de vendas.

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