O filme “As Sufragistas” tem causado impacto por retratar a lutas das mulheres britânicas, no início do século passado, pelo direito ao voto. Após décadas de resistência pacífica, sem nenhum resultado prático, as mulheres decidiram partir para a ação: quebraram vitrines, explodiram caixas de correios e intensificaram os protestos. A repressão governamental foi dura e violenta. As suffragettes foram espancadas e presas diversas vezes. Grande parte da sociedade as desprezava e ridicularizava.
O filme usa uma personagem fictícia, Maud Watts (Carey Mulligan), para contar essa história emocionante. Trabalhadoras de uma lavanderia, ela e suas colegas enfrentavam uma rotina estafante de trabalho, ganhavam 1/3 a menos que os homens e trabalhavam 1/3 a mais. E enfrentavam a insalubridade do ambiente (os homens faziam todo o serviço externo) e o assédio sexual. E elas ainda cuidavam dos filhos, sobre os quais não tinham direito, e da casa. Cansada dessa rotina, Maud se junta ao grupo e sofre sérias consequências por seus atos.
O filme mostra a diversidade social das participantes do movimento sufragistas: trabalhadoras pobres, mulheres de classe média e aristocratas lutaram lado a lado. A líder do movimento, Emmeline Pankhurst, interpretada por Meryl Streep, por exemplo, era da aristocracia. “As Sufragistas”, entretanto, tem recebido duras críticas por ter retratado apenas mulheres brancas. É verdade, como justificou a diretora Sarah Gavron, que na Inglaterra da época ainda havia um número reduzido de imigrantes africanos e indianos (que começariam a chegar em massa poucas décadas mais tarde). Mesmo assim, há registro de, pelo menos, duas militantes “de cor”, como se dizia naqueles tempos.
Em países que sofreram com a escravidão, como Brasil e Estados Unidos, essa lacuna causa ainda mais estranheza. Mesmo porque, ao tratar de um tema tão importante como a luta pelos direitos das mulheres, o filme teria uma vocação universal que foi parcialmente inviabilizada pela escolha de um elenco totalmente branco. Perdeu-se parte do impacto que poderia causar em prol do feminismo, infelizmente.
Causou polêmica também a frase de Emmeline Pankhurst, que foi reproduzida nas camisetas usadas pelas atrizes para promover o filme: “Prefiro ser uma rebelde a ser uma escrava”. A frase precisa ser analisada sob o ponto de vista histórico, pois, na época, as mulheres não tinham praticamente nenhum direito trabalhista, ganhavam mal e eram subordinadas aos homens legalmente. Para uma mulher inglesa daqueles tempos, nesse contexto, a alusão às escravas faria sentido. Hoje, isso mudou. A comparação soa preconceituosa e descabida, quando descontextualizada.
Entre tantas frases de impacto que são ditas ao longo do filme, a escolha dessa foi realmente infeliz. Eu, por exemplo, prefiro as palavras de Maud ao ser interrogada pela polícia. “O que você irão fazer? Encarcerar todas nós? Somos metade da população mundial, não há como nos vencer”. Ela não tinha razão?
“As Sufragistas” é um belo filme, com interpretações poderosas e uma história envolvente, apesar das críticas merecidas. – Texto de Márcia Pinna Raspanti.
Assista ao trailer: https://youtu.be/e88IJJv7PLQ
Imagens e trailer: Divulgação.