Por Natania Nogueira.
Antes de os Estados Unidos entrarem na Segunda Guerra Mundial, várias empresas já tinham contratos com o governo para a produção de equipamentos bélicos para os aliados. Com a entrada do país no conflito, a produção aumentou, fábricas de automóveis foram adaptadas para a construção de aviões, houve ampliação de estaleiros e novas fábricas foram abertas. A demanda por trabalhadores ultrapassou as expectativas dos empresários e do próprio governo. Eventualmente, foi necessário apelar para o trabalho feminino a fim de cumprir com os contratos assinados com o governo (SORENSEN).
Bem mais do que substituir os homens enviados para a guerra, as mulheres supriram a demanda de um grande mercado em expansão. A guerra foi lucrativa para os empresários norte-americanos: novos postos de trabalho foram criados, mas faltava mão de obra. Ao convocar a força de trabalho feminina para fábricas, o governo garantia a expansão de suas indústrias e os lucros com a venda de armas, equipamentos e suprimentos militares.
É notável o esforço para se passar a ideia de que o trabalho feminino é uma novidade. O fato é que elas sempre trabalharam, apenas não eram valorizadas, estavam invisíveis. O padrão de família da classe média, que tem a esposa que se ocupa dos trabalhos domésticos e dos filhos, enquanto o marido provedor passa o dia trabalhando, era uma representação idealizada da sociedade norte-americana. Em boa parte das famílias, especialmente as de baixa renda, as meninas trabalhavam desde cedo, em várias atividades. O que a guerra irá fazer é trazer à luz e valorizar essa mão de obra e, em alguns casos, possibilitar a muitas mulheres driblar preconceitos de classe, adquirir conhecimentos técnicos e conquistar independência econômica.
A guerra iria abrir novas possibilidades para a participação feminina no mercado de trabalho, principalmente em áreas dominadas pelos homens, como, por exemplo, a engenharia. Foi lançada uma intensa campanha na mídia a fim de atrair a força de trabalho feminina para o esforço de guerra. Nesse contexto, surgiu uma personagem fictícia, Rosie, a Rebitadora (Rosie the Riveter), o modelo de trabalhadora ideal: leal, eficiente, patriótica, e bonita. O termo foi popularizado em uma canção de mesmo nome, em 1942.
A imagem de Norman Rockwell, na capa do Saturday Evening Post, em 29 de maio de 1943, foi a primeira representação imagética de ampla divulgação de “Rosie the Riveter”. Daí em diante, novas “Rosies” iriam surgir, nas mais diversas atividades, motivando cada vez mais as mulheres a colaborarem com o esforço de guerra.
Quando os Estados Unidos entraram na guerra, havia 11,3 milhões de mulheres trabalhando. Esse número representava cerca de um terço da força de trabalho nacional. Ao final da guerra, eram 18 milhões. Dessas, 4 milhões trabalham nas fábricas de armamentos. Quando o número de mulheres solteiras não foi suficiente para suprir a demanda, as mulheres casadas foram convocadas para trabalhar. Muitas resistiram à ideia, preferindo permanecer em casa. As que aderiram ao esforço de guerra, cerca de 10%, acabaram sofrendo críticas da sociedade sendo, inclusive, responsabilizadas pelo aumento da delinquência juvenil.
Além do trabalho nas fábricas e de ocuparem outras atividades no mercado formal, as norte-americanas também iriam ingressar nas forças armadas, em parte seguindo o exemplo da Grã-Bretanha. Cerca de 350 mil mulheres foram alistadas e serviram tanto em solo americano quanto no exterior. Em maio de 1942, o Congresso instituiu o Women’s Auxiliary Army Corps, mais tarde renomeado Women’s Army Corps.
Na aeronáutica, foi criada a Women’s Airforce Service Pilots, ou WASPs. Essas mulheres já tinham licença para pilotar antes da guerra e realizaram missões de transporte de aviões e cargas para bases militares e participaram de simulações de combate. Mais de 1.000 WASPs atuaram no conflito, e 38 delas perderam a vida durante as batalhas. O general Spaatz, comandante em 1945 das forças aéreas estratégicas do Pacífico, chegou a afirmar que não via diferença entre homens e mulheres, além do fato de as últimas usarem saias.
No entanto, a guerra abrandou, mas não acabou com os preconceitos. Isso ficou claro quando ela terminou. As WASP, por exemplo, eram consideradas pilotos civis e só na década de 1970 receberam status militar completo e todos os privilégios a ele advindos.
Essas mulheres deixaram sua marca na história e, embora nem todas tenham lutado ao lado de homens, muitas estiveram no front, sujeitas aos mesmos perigos. Pilotos foram abatidas por causa de suas cargas, o que as colocou em combate. Enfermeiras tiveram que se arriscar para salvar a vida ou pelo menos diminuir a dor de soldados no front. Atiradoras e pilotos soviéticas causaram muitos danos às tropas germânicas.
O que dizer das mulheres anônimas, que arriscaram suas vidas para esconder judeus? Ou mesmo daquelas que se arriscaram espionando o inimigo, em ambas as frentes, para passar informações importantes para seus exércitos? As mulheres estiveram no conflito de todas as formas. Sem elas os rumos da Segunda Guerra Mundial poderiam ter sido outros.
Duas imagens de Rosie the Riveter. Cartazes instituídos pelo Governo dos Estados Unidos em sua campanha de propaganda para atrair as mulheres em trabalho de guerra.
Olá Márcia, me interessei muito pelo seu texto.
Será que você poderia me passar artigos relacionados à ele, pois estou fazendo um trabalho sobre mulheres na Segunda Guerra Mundial e me ajudaria muito se você pudesse me repassar suas referencias.
Desde já obrigada,
Amanda
Bom dia, Amanda. Esse artigo é da professora Natania Nogueira. Vou entrar em contato com autora para que ela possa ajudá-la.
Bom dia, Amanda!
Entre em contato comigo pelo e-mail [email protected]