O livro “Condessa de Barral: A Paixão do Imperador”, da historiadora Mary Del Priore (Ed. Objetiva), conta a surpreendente história de amor entre a condessa e o imperador D. Pedro II. A obra traz informações preciosas para quem tem interesse em conhecer melhor os hábitos e peculiaridades da elite brasileira no século XIX, além de mostrar bem qual a função da moda para as elites daqueles tempos.
Luísa Margarida Portugal de Barros – que se tornaria a condessa de Barral após o casamento – foi uma mulher que circulou entre a França e o Brasil, sempre nas camadas mais altas da sociedade. Filha de um senhor de engenho, ela recebeu uma educação diferenciada da maioria das mulheres da sua época, o que a aproximou da alta nobreza. Primeiro, foi chamada para orientar a princesa Francisca – irmã de D. Pedro II – que acabara de se casar com o príncipe de Joinville, Francisco D´Orléans, e passara a fazer parte da corte francesa, a mais sofisticada da Europa. O trabalho de Luísa era ajudar Francisca a se portar adequadamente, a fim de não envergonhar o marido e não manchar (ou piorar) a imagem do jovem Império brasileiro. Mais tarde, foi escolhida também como preceptora das filhas de D. Pedro II, o que propiciou o romance dos dois.
Em meio à narrativa envolvente construída pela autora, podemos destacar várias passagens sobre vestuário e, especificamente, sobre a moda neste período. O que mais me chamou atenção é como a condessa sabia tirar proveito da moda, dominando como ninguém as sutilezas do código das aparências, terreno perigoso em que a aristocracia da época deveria se movimentar. Era esta a maior missão da condessa: ensinar as inexperientes princesas como circular com segurança entre a nobreza, sem que fossem engolidas pelas disputas e intrigas. Isto envolvia uma série de conhecimentos, além do vestir-se adequadamente. Mas, escolhendo roupas, penteados, joias e calçados da maneira certa, a pessoa já havia conseguido passar pelo primeiro obstáculo para ser aceita entre os poderosos.
Em uma passagem bastante reveladora do livro, a princesa Francisca seria apresentada à Corte francesa no baile anual oferecido pelos reis. A princesa, que por ser brasileira já era vista como um ser “exótico”, seria avaliada pelas línguas mais perigosas da Europa, prontas para destilar seu veneno e torná-la motivo de chacota. Luísa sabia da importância política e social do acontecimento e teve coragem de ousar: o vestido da jovem foi adornado com a placa da Ordem Imperial do Cruzeiro. As mulheres não costumavam exibir tais condecorações, isso era exclusividade dos homens. A novidade, porém, agradou e a bela princesa fez sucesso no baile, enchendo o marido de orgulho. Foi uma prova importante para Francisca e para a Condessa, que mostrou como dominava a arte dos salões.
No Brasil, Luísa incomodava as mulheres das famílias mais abastadas com seus modos franceses. Sempre à frente da elite local, a Condessa gerou escândalo ao assistir às missas sem tirar a “chapelinha”, espécie de capuz com enfeites de fitas e flores, que era moda entre as francesas. Um grupo de beatas e clérigos, segundo nos conta Mary com muito humor, foi se queixar ao bispo e pedir providências. Sabiamente, o religioso não entrou na polêmica e evitou a discussão sobre modismos femininos. Assim, a Condessa continuou com sua graciosa chapelinha e as rivais só puderam espumar de inveja.
Elegante e longe de ser mais uma “vítima da moda”, como dizemos nos dias de hoje, Barral mostrou como era importante conhecer as regras do jogo de aparências e fazer uso delas a seu favor. As cortes e os salões da época eram campos de batalhas cruéis, que exigiam soldados bem preparados…
– Márcia Pinna Raspanti
Luísa ainda jovem, antes de se tornar condessa.
Muito intetessante ja havia lido sobre a condessa e o filho Dominic no Livro Dom Pedro Ii ,sou Grande Admirador deste Monarca que chamo de Meu Imperador