Sobre a bola e o gramado

Nas últimas semanas, o futebol vai parecer a bobagem mais séria do mundo! Paralelamente aos ditos e não ditos da imprensa, às gafes e previsões fora do lugar feitas por comentaristas, os historiadores há muito vêem o esporte como um grande revelador social. Por trás das bandeiras coloridas, rojões e batucadas, ou seja, da “paixão” pela “gorduchinha”, encontramos uma série de valores que fundam as sociedades contemporâneas.

A “bobagem mais séria do mundo” se enraíza numa série de características: a simplicidade das regras, a exaltação emotiva durante os jogos, a valorização do mérito e da solidariedade, o lugar irredutível da sorte ou do azar. Mas, praticar o esporte ou torcer por um time é também uma questão de identidade. No futebol, mais do que nunca, nos identificamos a um clube, a uma cidade, a um país. Haja vista o cinza das cidades coberto pelo verde e amarelo.

Dizem alguns estudiosos, que o futebol, assim como outros esportes, não seriam mais do que uma forma moderna de barbárie, ou, se preferirmos, um substituto emocional para os grandes espetáculos que outrora se realizavam nas arenas. A diferença é que hoje a máquina capitalista substitui a vontade dos Césares romanos. Daí o lugar cada vez maior do dinheiro, da violência, do populismo, da corrupção e do “dopping”, no espetáculo esportivo. Dizem outros que a lógica dinheirista capaz de irrigar o bolso de cartolas e dirigentes, caminha junto com a vontade de controle social destinada a impor uma falsa consciência das realidades a torcedores e telespectadores. É a lógica do pão e circo. Ou da grana mascarando a fraternidade humana.

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Para além das várias interpretações, o que acompanhamos roendo as unhas, frente à televisão, é um espetáculo de beleza único. Os corpos se estiram cada vez mais alto e mais longe; momentos de graça se alternam com gestos rudes; a coreografia dos músculos se conjuga à serenidade dos campeões; mesmo o caminhar tenso dentro do corredor que leva ao campo, parece um percurso iniciático que termina sob as luzes e os gritos da torcida.

A copa, mais uma vez, é nossa! Graças a ela, enxergamos além dos gramados e vemos uma nação atravessada pelo medo, a violência e a insegurança mostrar um sorriso feliz. Graças a ela, uma equipe de futebol pode ser um vetor de coesão, uma metáfora viva de integração, uma esperança de dias melhores. Graças a ela, o verde da esperança há de se derramar para além do estádio, cobrindo o país. – Mary del Priore.

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