Em homenagem à Copa do Mundo, que começa amanhã, reproduzo parte de uma crônica de Nélson Rodrigues sobre Pelé. A três meses do mundial de 1958, o escritor lançava a expressão “Rei do Futebol” para definir o craque de 17 anos. E aproveitava para ironizar o complexo de “vira-lata” do brasileiro. Após descrever as geniais jogadas de Pelé, Rodrigues concluiu:
“Quero crer que sua maior virtude (de Pelé) é, justamente, a imodéstia absoluta. Põe-se acima de tudo e de todos. E acaba intimidando a própria bola que vem a seus pés com uma lambida docilidade de cadelinha. Hoje, até uma cambaxirra (rouxinol) sabe que Pelé é imprescindível na formação de qualquer escrete. Na Suécia, ele não tremerá de ninguém. Há de olhar os húngaros, os ingleses, os russos, de alto a baixo. Não se inferiorizará diante de ninguém. E é dessa atitude viril, mesmo insolente, que precisamos. Sim, amigos: – aposto minha cabeça como Pelé vai achar todos os nossos adversários uns pernas-de-pau.
Por que perdemos, na Suíça, para a Hungria? Examinem a fotografia de um e de outro time em campo. Enquanto os húngaros erguem o rosto, olham duro, empinam o peito, nós baixamos a cabeça e quase babamos de humildade. Esse flagrante, por si só, antecipa e elucida a derrota. Com Pelé no time, e outros como ele, ninguém irá para a Suécia com a alma dos vira-latas. Os outros é que tremerão diante de nós”.
E não é que ele acertou…o Brasil foi campeão em 1958.
– Márcia Pinna Raspanti.
Seleção de campeã em 1958.
Em pé: Djalma Santos, Zito, Bellini, Nílton Santos, Orlando e Gilmar
Agachados: Garrincha, Didi, Pelé, Vavá e Zagallo, e o massagista Mário Américo.