Capoeiras da Rua Larga

Por Aloysio Clemente Breves Beiler.

Dizia o prestigioso jornal: que funcionários públicos da Tesouraria dos Ordenados estariam sempre com rostos alegres e prazenteiros e que ninguém iria maldizer o tempo que perderam em ir à repartição; que a Cornucópia despejaria dinheiros (se trabalharmos), frutos (se plantarmos) e flores (se regarmos); que será abolido o uso de óculos, porque a maravilhosa “água de tobias” faria curas radicais; que seríamos todos gordos, porque o “xarope do bosque” terá dado conta dos tísicos; que não haverá cabelos brancos por conta da descoberta da linda cor preta e da lindíssima cor de fogo. Falava ainda das belas moças, senhoras e senhoritas – beatas, diletantes, tolas, mal ensaiadas, pobres de espírito, feias, magras e grisalhas -, todas elas com prognósticos alvissareiros.

Insistia o Correio que os Capoeiras deixariam de infestar as praça e ruas da cidade, porque seriam castigados com açoites segundo as ordens da polícia. O jogo da capoeira e os cultos africanos eram combatidos com truculência pela força policial.

Passados mais de vinte anos, o jornal Opinião Liberal de 11 de junho de 1869 noticiava que no dia 9, por volta das 8 horas da noite, aconteceu um encontro entre praças do 5o. Batalhão da Guarda Nacional aquartelados no Campo da Aclamação, e uma malta de capoeiras. Travou-se então uma intensa luta entre os capoeiras e soldados. Muita gritaria, transeuntes correndo tomados de terror e portas que se fechavam. Segundo o jornal os desordeiros promoveram uma “scena selvagem”.

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A luta continuou pelas ruas de São Pedro e Conceição. Reforços chegaram e conseguiram prender os baderneiros: oito capoeiras e dois praças envolvidos na briga. Três horas após o incidente os praças foram libertos e os capoeiras permaneceram presos.

O Opinião Liberal lamentava o triste episódio e sugeria que havia falta de energia das autoridades, pois o “bando de capoeiras” espalhavam susto na população e deixavam quase sempre algumas cabeças quebradas e algum pacífico transeunte esfaqueado.

Ainda em 1869, o jornal Diário do Rio de Janeiro, de 22 de março de 1869, na página policial, noticiou diversas prisões: por furto de roupa lavada, por estelionato e por capoeiras, como o escravo João, propriedade de Manoel Marques Dias. No dia 28, mais prisões: da escrava Felicidade, de José Joaquim Gonçalves, por provocar desordens e proferir palavras obscenas e os menores Ignácio e Joaquim Alves por capoeiras.

Sofreram os africanos por suas crenças, danças e jogos, até o século XIX. Enquanto isso a burguesia se deleitava com a publicação do folhetim extraído da obra do francês Victor Hugo, “O homem que Ri”, e a Câmara Municipal aplicava multas aos proprietários da Rua Larga de São Joaquim por montes de capim acumulados na calçada.

Ô zum zum zum zum zum zum, Capoeira mata um!

 

Aloysio Clemente Breves Beiler

Baú da Rua Larga – Folha da Rua Larga – Instituto Cultural Cidade Viva

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