Vivendo com suas mães, tias, avós e comadres da casa, as crianças, desde cedo eram cercadas de cuidados. Amamentadas até tarde, ganhavam peso comendo comida amassada na boca da mãe. Reproduzia-se, assim, uma velha tradição africana de passar comida da boca da mãe para a da criança.
Seus umbigos eram tratados com pós de folha de murta ou romã seca. Quase não tomavam banhos, pois se acreditava que a sujeira era uma forma de proteção ao corpo frágil da criança. Essa sujeira protetora era acrescida do odor da “estopada”: uma mistura de ovo com vinho em forma de cataplasma, cujo objetivo era reforçar a cabeça dos pequeninos. A cabecinha do bebe era massageada, para tomar uma forma mais agradável e não eram poucas as descendentes de africanas que preferiam achatar o nariz de seus pequenos, pois achavam que a fisionomia ficava mais bonita. Temerosas que bruxas viessem sugar, á noite, o sangue de seus filhinhos, as mães passavam sangue de cobra pelas paredes do quarto e nele distribuíam santinhos e água benta, para protegê-los de todo o mal.
Aos sete anos, as crianças recebiam o sacramento da comunhão e deixavam de ser considerados “inocentes”. Por ocasião da Páscoa eram obrigados a comungar e desde essa idade, iniciavam uma vida de adulto, estudando ou trabalhando. As “Aulas Régias”, criadas no governo do marquês de Pombal, entre 1699-1782, recebiam os meninos livres que quisessem estudar. A evasão escolar era controlada por meio de listas de presença e os jovens utilizavam um livro intitulado “Nova Escola para aprender a ler, escrever e contar”, da autoria do professor capixaba Manuel de Andrade Figueiredo.
Meninas afortunadas eram encaminhadas para Recolhimentos de freiras, onde, aprendiam a ler, contar, escrever e bordar, enquanto esperavam um marido. Se esse não aparecesse e se a família tivesse dinheiro para dar um dote – em dinheiro, escravos ou benfeitorias – ao convento, a jovem continuava como freira.
Entre os mais pobres, os filhos depois de crescidos continuavam a morar com os pais, ajudando-os no trabalho pela sobrevivência. Muitos trabalhavam para ajudar às mães que não podiam fazê-lo. Traziam, assim, para o domicílio, as rendas e jornais que permitissem a todos sobreviver. Assim viviam, ao final do século XVIII, Maria Ferreira de Assunção, jovem de trinta anos que se mantinha com o salário de seus filhos, ambos oficiais de ferreiro. O mesmo se dava com Damásia Maria de Jesus, cujos filhos, eram ambos sapateiros. A mulata Maria de Oliveira subsistia do jornal de um filho carpinteiro e do soldo de outro, “tambor de milícias; um com vinte e outro com dez anos”. A preta Maria Monteiro, por sua vez, mantinha. se de “suas quitandas e do jornal dos filhos, um sapateiro e outro alfaiate”. Mais velhos ou mais moços, sobretudo nas áreas agrícolas, procuravam uma forma de aumentar a renda familiar. Ao casar, se fosse possível, recebiam como presente um pedaço de chão para “arranchar-se” e continuavam a ajudar a família.
Os filhos eram parte importante da família e desde cedo, ajudavam e amparavam seus familiares numa sólida rede de solidariedades.- Mary del Priore.
Cena da familiar pelos olhos de Debret.