Por Natania Nogueira.
Na história da imprensa periódica do Brasil, as imagens ocupam um espaço de destaque. Embora a caricatura já estivesse presente aqui, desde o século XVI, com os trabalhos do Frei Vicente de Salvador, ela e a charge iriam ganhar as páginas dos jornais e revistas e se popularizar a partir do século XIX, graças à promulgação do decreto que cria a Imprensa Régia, em 1808. O humor se torna um instrumento de crítica política e social em periódicos como: A Lanterna Mágica (1844-1845), Diabo Coxo (1864-1865), o Cabrião (1866-1867) ou a Revista Illustrada (1876-1898).
A caricatura é um desenho que prioriza a distorção anatômica do personagem caricaturado. Ela tanto pode ser uma forma de homenagem como pode, também, ser uma forma de deboche. Pode provocar o riso de uns, a fúria de outros. Já a charge tem um aspecto crítico mais visível, ela não tem sutilezas e pode ser agressiva. Geralmente, a charge se baseia em um acontecimento real, em fatos que envolvem polêmicas. Charges políticas e de crítica social nem sempre vêm carregadas de humor. A caricatura ou a charge política podem extrapolar a questão do humor e passar uma mensagem ideológica, defendendo um ponto de vista.
Segundo Alberto Gawryszewski, a imagem, seja na forma de caricatura ou charge, tem poder de formar opinião, de conscientização e de crítica da realidade social e política de uma época. Ela reforça valores populares e auxilia na preservação da herança cultural de um povo, ela é reveladora, desmistificadora e colocar às claras as contradições que envolvem as ações daqueles que detêm o poder.
A charge política também cria ou imortaliza personagens que passam a fazer parte da memória coletiva de uma nação e, que em alguns casos, ficam mundialmente reconhecidos. Um exemplo do poder da imagem e da força ideológica que ela abriga é o Tio Sam, personificação do imperialismo norte americano, imortalizado por meio da charge.
Assim como as articulações entre grupos políticos foram se transformando, se modificando ao longo do século XX, a caricatura e a charge, enquanto uma forma de jornalismo ilustrado, também amadureceram. Prova disso é que podemos notar a partir da década de 1930, no Brasil, o surgimento de uma charge política ainda mais crítica e de uma caricatura que ultrapassava os limites do humor.
SUGESTÕES DE LEITURA:
– BIBLIOTECA Nacional (Brasil). Retratos do Brasil: A Oposição na República Através da Caricatura / Biblioteca Nacional. — Rio de Janeiro: A Biblioteca, 1990.
– GAWRYSZEWSKI, Alberto. Conceito de caricatura: não tem graça nenhuma. Domínios da Imagem, Londrina, ano I, n. 2, p. 7-26, maio 2008.
– LIMA, Herman. História da Caricatura no Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio Ed., 1963.
Caricatura de Nereu Ramos feita por Augusto Rodrigues (LIMA, 1965:1557).
Estou gostando muito do seu site/blog, vou continuar seguindo e compartilhando esses conhecimentos.
Obrigado por compartilhar também essas dicas.
Obrigada!
O Gabinete Real tem feito digitalizações e estudos sobre periódicos do século XIX, o que tem levantado material principalmente de charge política. Recentemente lançaram o livro “O Real em Revista: Impressos luso-brasileiros oitocentistas”, ainda não li, mas parece promissor sobre o trabalho com o arquivo.
Quando comecei, isoladamente, a pesquisar os quadrinhos e voltei ao XIX, me deparei com uma base útil que foram os textos da historiadora Isabel Lustosa. Vale a investigação.
Parabéns por mais um texto, elogiar você tem sido tão repetitivo e lhe acompanhar nos seus escritos são exaustivo… Mas vale cada leitura!
Obrigada, Sávio! Fique a vontade não apenas para fazer elogios, mas, tb, para apontar falhas. 🙂