Política, moda e cultura na Era Vargas

Turbulências marcaram o fim da República Velha (1889-1930), graças ao rompimento do acordo entre São Paulo e Minas Gerais para as eleições presidenciais. Em 1929, o presidente Washington Luís indicou outro paulista, Júlio Prestes, para sucedê-lo. O presidente do Estado de Minas Gerais, Antônio Carlos, em represália, aliou-se aos governantes do Rio Grande do Sul e da Paraíba, e juntos formaram a Aliança Liberal, com a candidatura de Getúlio Vargas e João Pessoa, em uma das mais acirradas disputas eleitorais daquele período.

A crise da Bolsa de Nova York, em outubro de 1929, também afetou diretamente o cenário político, já que as exportações brasileiras de café para os EUA caíram vertiginosamente. Assim, para a oligarquia paulista, a eleição de Júlio Prestes visava garantir no comando do Estado republicano um presidente articulado com os interesses da cafeicultura. Apesar da vitória de Júlio Prestes nas eleições de 1930, outros setores das oligarquias brasileiras, como a burguesia industrial emergente, o Exército e as classes médias não aceitaram a derrota. O assassinato de João Pessoa, candidato a vice-presidente na chapa da Aliança Liberal, foi o gatilho que faltava para o golpe de Estado que colocou Getúlio Vargas no poder, a chamada “Revolução de 30”.

Em 1932, a Revolução Constitucionalista, encabeçada pelo Estado de São Paulo e que tinha por objetivo depor Getúlio Vargas, foi derrotada. Com a instauração do Estado Novo em 1937, o presidente determinou o fechamento de Congresso, outorgou uma nova Constituição, que lhe conferia o controle dos poderes Legislativo e Judiciário. Até 1945, quando termina o período da ditadura Vargas, o governo deu continuidade à estruturação do Estado, orientando-se cada vez mais para a intervenção estatal na economia e para o nacionalismo econômico. Foram criados nesse período o Conselho Nacional do Petróleo (CNP), o Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a Fábrica Nacional de Motores (FNM), entre outros.

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O Brasil manteve um posicionamento neutro na Segunda Guerra até 1941, quando ocorreu a assinatura do acordo com os Estados Unidos, pelo qual o governo norte-americano se comprometia a financiar a construção da primeira siderúrgica brasileira, em troca da permissão para a instalação de bases militares no Nordeste.  Após o torpedeamento de navios brasileiros por submarinos alemães, em 1942, foi declarado o estado de guerra à Alemanha, Itália e Japão. Com o término da guerra em 1945, as pressões em prol da redemocratização ficaram mais fortes e o presidente acabou deposto em 29 de outubro, por um movimento militar. Vargas voltaria ao governo me 1950, eleito de forma democrática, até o seu suicídio em 1954.

Apesar de o Brasil continuar a ter na agropecuária a base da sua economia, houve um esforço para o desenvolvimento da industrialização e a modernização do País durante o governo de Vargas. As lojas de departamentos como o Mappin Stores começam a conquistar os consumidores locais. O cinema americano passa a influenciar a mentalidade do brasileiro, e atores como Fred Astaire, Cary Grant e Clark Gable transformam-se nos grandes modelos de beleza e elegância masculinas. Os Estados Unidos conquistam indubitavelmente a posição de grande polo mundial de irradiação de cultura, tornando-se também referência no mundo da moda.

Nas décadas de 30 e 40, os homens vestiam ternos com jaquetões em tecidos lisos ou em riscas-de-giz, as lapelas eram largas, assim como as bocas das calças que passaram a ter cintura mais alta. Os chapéus eram itens obrigatórios e os sapatos variavam entre os de bico quadrado e os mais arredondados e bicolores. A novidade eram as roupas esportivas e os tênis de lona ou couro. O arsenal de peças disponíveis para os senhores elegantes da época incluía ainda suéteres, pulôveres, blazers, camisas sociais e de mangas curtas, além dos trajes de banho, em lã, inteiriços ou do tipo sungão.

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No final dos anos 40, o jeans começa a se destacar por aqui. Conhecido como “calça rancheiro” ou “faroeste” o jeans podia ser usado com as barras dobradas ou não. Outro item que começa a ganhar status de peça da moda é camiseta branca, até então usada por baixo da camisa social. O cinema americano impulsionou a popularização desses produtos que, nos dias de hoje, são consideradas por homens e mulheres artigos básicos para se “estar na moda”. A camiseta branca, por exemplo, começou a aparecer nas telas retratando os soldados que haviam lutado na guerra.

A história do jeans começou no século XIX, nos Estados Unidos, quando os imigrantes Levi Strauss, da Alemanha, e Jacob Davis, da Letônia, resolveram transformar a lona que era usada na cobertura de barracas em peça do vestuário. Segundo o Dicionário da Moda, de Marco Sabino, assim nasceram as primeiras calças jeans, que inicialmente foram adotadas pelos mineradores do Oeste americano e eram de cor marrom. Davis teve a ideia de colocar rebites de cobre para reforçar as calças que fabricava, usando tecido fornecido pelo comerciante Levi Strauss. E foi Strauss quem registrou a invenção da peça que começou a ser produzida com brim azul, sob a marca Levi’s. Em 1890, a Levi’s criou seu modelo mais famoso, a calça 501.

O nome “jeans” passou a ser usado na década de 1940, nos Estados Unidos, para designar calças de brim índigo blue, que nesse momento já dava os primeiros passos para ser adotado pela juventude. O termo é proveniente do francês Gênes (Gênova), cidade portuária italiana onde os marinheiros usavam calças de sarja grossa proveniente de Nîmes – outra palavra que sofreu alteração para dar origem ao termo denim, que virou sinônimo de tecido para fazer calça jeans. Na década de 1950, o jeans era usado pela juventude rebelde americana, influenciando o mundo todo. A produção estava a cargo das marcas Lee e Wrangler, além da Levi’s. No Brasil, a São Paulo Alpargatas foi a pioneira a fabricar as chamadas calças de brim, uma versão do jeans americano.

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– Márcia Pinna Raspanti

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  1. MARIA APARECIDA

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