“Prende-se ao aspecto demoníaco o misterioso sono do sonambulismo”, decretavam os doutores. Tudo começou com as sessões de magnetismo introduzidas na França por Antoine Mesmer, as quais ganharam aficionados nos primórdios do espiritismo. Os primeiros sintomas eram langor e sonolência agravados pelo silêncio e pela escuridão da sala onde se realizava a operação. A seguir, gemidos do paciente em ataque de sonambulismo. Esse era um fato evidente, di- ziam os médicos. Era possível provocar sonambulismo em indivíduos portadores de certa “neurose de natureza especial”.
Para provocá-lo, bastava, muitas vezes, um pequeno abalo do sistema nervoso. Em meio minuto, podia se adormecer quem já tinha sido magnetizado. Passes com as duas mãos eram realizados na frente do rosto do paciente. Sua fisionomia perdia, então, a mobilidade e ficava sem expressão. Os membros entorpecidos impediam qualquer tipo de movimento, enquanto sensações vagas de calor e frio atacavam-lhe o corpo. Os olhos não mais se abriam e as pálpebras pendiam pesadas. A respiração era calma e lenta, enquanto o corpo parecia congelado.
Proximidade com as endemoninhadas? Sim, pois podia-se espetar um sonâmbulo que ele não reagiria. Se antes tivesse dores, elas cessa- vam. Se ouvisse falar de assuntos tristes, chorava. Era capaz de relatar o que via em sonho, a linguagem se aprimorava e exprimia todos os sentimentos que lhe iam à alma. Os sintomas da “esquisita moléstia” não atacavam apenas mulheres e histéricas. Mas também homens.
Era possível que os sonâmbulos rasgassem a cortina do futuro e desvendassem mistérios graças à lucidez que adquiriam no sono? Para alguns médicos, tudo não passava de fábula. A simples palavra “sonambulismo” os fazia sorrir diante do que consideravam uma “velhacaria”. Os sonâmbulos que se exibiam em feiras e teatros não eram “lúcidos”, mas doentes. Seu lugar: o “hospício de doidos”. Para eles, o sonambulismo era uma moléstia que, sem produzir alienação mental propriamente dita, perturbava profundamente as funções da inteligência. Mas essa era apenas mais uma opinião dos que opunham ciência e sobrenatural.
Pois, num dos maiores hospitais de Paris, o La Salpêtrière, o neurologista dr. Charcot hipnotizava para “sonambulizar”. Com as mãos apoiadas na cabeça das histéricas, massageando-as suavemente, deixando-as mover os braços à vontade, Charcot as adormecia. Ele reabilitou a hipnose como objeto de estudo científico para tentar tratar a histeria, descrevendo seus aspectos somáticos. O sonambulismo ganhava suas cartas de nobreza.
Porém, bem antes de Charcot, desde o fim do século XVIII, na Europa, os doentes recorriam às sonâmbulas (posteriormente chama- das de médiuns) para diagnosticar seus males, medicá-los ou prescrever remédios. Magnetizadores as punham em estado de “lucidez” para suscitar sua clarividência. Pouco a pouco, muitas se auto-hipnotizavam ou modificavam seus estados de consciência para trabalhar sozinhas. E usavam sua vidência tanto para curar quanto para predizer o futuro.
O sonambulismo inseria-se, assim, na cultura popular ao lado de outras tradições de cura, mas com um plus: tinha um caráter científico. E, mais do que benzedeiras ou curandeiras, as sonâmbulas faziam sombra a muitos médicos. As sonâmbulas se queriam filhas da novidade, da vida urbana, do progresso. Sua inserção popular lhes garantia sucesso. Elas cuidavam dos doentes com um vocabulário simples de compreender. Usavam remédios fáceis de aplicar. Algumas buscavam uma dimensão moral ou espiritual para seu trabalho, apostando na criação de novos laços sociais neste e no outro mundo.
“Do Outro Lado – A História do Sobrenatural e do Espiritismo”, de Mary del Priore.
O texto e a história me deixou tão impressionado , que não consegui terminar a leitura. Claro que eu vou reler depois, em sua totalidade.
Eu tenho sonambulismo, e meu marido consegue perguntar e conseguir resposta s ,sobre qualquer assunto que queira. E ,tem falas ou ações que eu lembro . Não é sonho. Chamo como sonhar profundamente , dormindo de fato mas com alguns despertar.
Nada passa se eu tiver segredos. É como anestésico qdo está ficando fraco ,eu não sinto dor mas escuto e vejo muitas falas da equipe médica que faz a cirurgia.
Em casa quase todos os dias, se dá o mesmo. Falo muito o que tô sonhando , e respondo o que meu marido pergunta. Às vezes eu já escutei e vi ações vverdadeira , do que se passa enquanto durmo.
Não sei porque e como tudo isso acontece, mas sei que tem coisa que se passa e eu não percebo. De manhã ,já vi mudança em mim e coisas minhas. Realmente. Isso é mesmo sonambulismo ou sou em parte guiada psicologicamente como se passava na história acima ,no texto dessa história do mundo.