O carnaval da elite: brincadeiras e sensualidade

           No século XIX, as férias de jovens de elite eram repletas de diversão: passeios a cavalo pela fazenda, refeições abundantes, muitos “bolos e biscoitos”, caminhadas ao luar, pic-nics, mesinhas de jogo, excursões pela serra da Cambira, no alto da Bocaína, prosas animadas e anedotas. O ponto alto era o Carnaval, onde os jovens se molhavam uns aos outros!

          No entrudo – nome que se dava ao carnaval – os rapazes perseguiam as moças, procurando seus braços roliços para esmagar os limões de cheiro. A vida religiosa também incentivava encontros. Mas, de longe. Na missa, os olhares trocados revelavam verdadeiros códigos secretos e, com sorte, era possível cochichar algumas frases de amor durante o sermão. Como não havia bailes públicos, eram frequentes as reuniões em residências particulares, onde se juntavam amigos e vizinhos e onde a mocidade dançava e fazia música. Em meados do século XIX, os jovens de ambos os sexos já eram vistos pelas praias e nas palavras de um viajante estrangeiro, o missionário anglicano Kidder, “corriam pela praia soltando gritos de prazer toda a vez que uma onda mais pesada rolava em cima do grupo e os atirava cambaleando à praia.

           Apesar das lentas mudanças, a realidade da maior parte das mulheres ainda era de reclusão. Inúmeros viajantes de passagem pelo Brasil fazem alusão ao modo de vida, no qual elas passavam o dia. Bem diferentes das heroínas de romances, viviam displicentemente vestidas, ocupadas com afazeres domésticos e dando pouca atenção à instrução. Ao ócio e ao trabalho escravo, que em tudo substituía seus movimentos, os mesmos estrangeiros debitavam suas transformações físicas: belas aos treze anos eram matronas aos dezoito. E pesadas senhoras, cercadas de filhos, um pouco depois. As varandas nos fundos das casas serviam para abrigar a família, isolando-a dos rumores da rua, separando moças e rapazes.

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         A janela era mediadora de olhares, de recados murmurados, de rápidas declarações de amor, do som das serenatas.  Ela era o meio de comunicação entre a casa e a rua. Recepções a estrangeiros ou desconhecidos eram raríssimas. Um momento em que se quebrava tal pasmaceira era o do “entrudo”, ou carnaval quando os limões de cheiro serviam para molhar o peito das moças; era nele esmigalhado pela mão do próprio namorado, maciamente, amorosamente, interminavelmente. Fora disto, o evento social mais importante continuava a ser a missa dominical

        – Texto de Mary del Priore. “Histórias da Gente Brasileira: Império (vol.2)”, Editora LeYa, 2016.

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Jogos durante o Carnaval do Rio de Janeiro, de Augustus Earle (1822).

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