Modas e modos de homem

A princípio pode-se pensar que os homens são mais simples e despojados que as mulheres na hora de escolher seu guarda-roupa – pelo menos, é o que diz o senso comum nos dias de hoje. A História nos mostra que não é bem assim: nas civilizações antigas, os homens, principalmente os de classe mais alta, já se preocupavam em exibir trajes, cabelos e barbas aparados de acordo com as tendências da época, além de vários acessórios. Os egípcios – tanto homens quanto mulheres – foram retratados usando túnicas e outras vestimentas de linho drapeado ou plissado, sandálias, cintos, joias e maquiagem pesada. Os gregos também se esmeravam nos elegantes drapeados de lã, linho ou seda, feitos a partir de um pedaço de tecido – no que foram imitados pelos romanos. A vaidade masculina e o culto à beleza dos corpos viris foram traços marcantes destas civilizações. Cosméticos, unguentos, maquiagens, roupas e outros pequenos artifícios sempre foram aliados dos homens na busca pela elegância.

Na Idade Média, as roupas da maioria da população eram feitas em casa, de linho ou lã. A nobreza, porém, possuía um vestuário mais sofisticado, com tecidos nobres, como veludo e seda. Os homens se valiam de alguns truques para realçar as suas formas: usavam o gibão, um casaco curto e acolchoado que enfatizava o peito largo, com mangas bufantes e cintura marcada. Os calções podiam também ser curtos e bufantes, e os sapatos pontiagudos (poulaines). Por cima, uma túnica longa com acabamento de peles de animais, adornada com cinto ou cordão. Muitos usavam um outro tipo de túnica, de comprimento médio e decorada, com bordados e enfeites. Na Itália, era comum o uso de uma espécie de saia pregueada e a tendência de usar preto também foi popular naquela região – estilo que ficou conhecido como “espanhol”. O formato dos chapéus e o material usado neles variaram bastante no período.

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Segundo o filósofo Gilles Lipovetsky, em “O Império do Efêmero, a moda e seu destino nas sociedades modernas”, podemos utilizar o termo moda a partir do final da Idade Média, quando o vestuário adquire um caráter provisório, mudando de acordo com os modismos. Esta inconstância diferenciava as sociedades antigas das modernas, já que as primeiras não aceitavam a desqualificação do passado, condição inerente ao fenômeno da moda. Na primeira fase da sua existência, que duraria cerca de cinco séculos de acordo com o autor (a etapa seguinte se instalaria ao longo da segunda metade do século XIX, quando surgiram sistemas de produção e difusão duradouros), a moda foi restrita à aristocracia.

Se dermos um salto no tempo e analisarmos o Brasil colonial, veremos que a preocupação com a aparência e com a indumentária também era muito presente nas cabeças masculinas, a exemplo do que acontecia na Europa. O luxo e a ostentação no vestir faziam parte da vida da população no Brasil de então, principalmente entre aqueles que sonhavam em integrar a “nobreza” local. A preocupação com os trajes era tão grande entre os homens como entre as mulheres. Como nas civilizações antigas, as roupas funcionavam como uma ferramenta para demonstrar a classe social em que cada um estava inserido.

Os guarda-roupas dos senhores elegantes da Colônia eram compostos por calções e gibões de cetim, linho e tecidos adamascados, roupetas de gourgorão, casacas de seda, camisas brancas, coletes de veludos, lã fina ou sedas, meias e ligas de seda, gravatas e roupas de baixo com rendas, lenços de seda e algodão da Índia, capas; sapatos e botas com fivelas de ouro e prata, botões de metais preciosos, chapéus de lã. Tudo isso, ainda contava com o acabamento de bordados, fitas, brocados, telas e até lantejoulas. As cores dos tecidos costumavam ser escuras e o preto era um dos tons preferidos. O uso das perucas não foi popular no Brasil, apenas os homens de leis, magistrados e alguns nobres europeus insistiam em exibi-las em terras coloniais. A França era a maior irradiadora de modas no período. No século XIX, os ingleses passam a dominar o guarda-roupa masculino, influenciando inclusive os brasileiros.

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Em Portugal, até o século XVIII, a influência francesa na moda era marcante, apesar de as tentativas da Coroa em estimular o uso do traje típico lusitano e dar impulso à produção local de tecidos. D. João V, foi o rei português que mais imitou a corte francesa em seu luxo e ostentação, usando camisas de seda, coletes e casacos com brocados, bordados, fitas, rendas, perucas, ornamentos em ouro e prata, muitas joias e pedras preciosas. A Revolução Francesa modificou bastante os costumes e as modas na Europa, simplificando, em um primeiro momento, a indumentária. As modas pós-revolução chegaram com atraso em Portugal. Mesmo na França, os poderosos, aos poucos, voltaram a rebuscar o vestuário. A corte de Napoleão Bonaparte ficou conhecida pelo luxo e o próprio imperador não dispensava a pompa dos rituais ligados às cerimônias oficiais.

A indumentária também era parte importante da sociedade brasileira, por meio dela era possível identificar o papel de cada indivíduo na complexa cadeia de relações sociais. Portanto, o ato de sair à rua era precedido de um longo ritual para os homens e mulheres mais abastados: os tecidos nobres, as joias, os assessórios, as carruagens e os cavalos, além do número de escravos, todos estes itens eram minuciosamente escolhidos com o objetivo de mostrar aos demais todo o seu poder e riqueza. Outro símbolo de distinção era poder exibir o hábito de uma das Ordens Militares – de Cristo, Santiago ou Avis –, o que representava era uma honraria muito importante para os fidalgos das terras coloniais, mesmo porque representava uma quantia em dinheiro e uma série de vantagens fiscais. Como a maior parte da nossa aristocracia não possuía títulos de nobreza – já que estes eram raros, até a chegada da Família Real Portuguesa, em 1808, quando D. João VI começou a distribuí-los entre os membros da elite – estes hábitos eram muito cobiçados. – Márcia Pinna Raspanti

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“A Escola de Atenas”, de Rafael; arte egípcia: vaidade masculina desde a Antiguidade.

2 Comentários

  1. Julio
    • Márcia

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