Por Natania Nogueira.
A História das Histórias em Quadrinhos (HQs) é um campo de pesquisa que tem crescido nas últimas décadas, chegando aos cursos de graduação e pós-graduação em História, na forma de artigos publicados em revistas eletrônicas, TCCS, dissertações e teses. As mais diversas facetas das HQs, de fonte de pesquisa a instrumento de ensino, estão sendo exploradas.
As HQs estão presentes nas escolas públicas, nas salas de aulas da Educação Infantil e da alfabetização, sendo recursos valiosos para o letramento. Sua introdução nas séries mais avançadas do Ensino Fundamental e do Ensino Médio vem progredindo nos últimos anos, favorecida pelas recomendações presentes nos PCNs e por sua presença cada vez maior nas listas do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE).
Os quadrinhos despontaram como um meio de comunicação no século XIX. Tirinhas eram publicadas em jornais, satirizando situações políticas ou mesmo fazendo críticas aos costumes e aos preconceitos da época. No Brasil, por exemplo, em 1876, Angelo Agostini publicava na Revista Ilustrada HQs que denunciavam a violência nas eleições do Império.
Originalmente publicadas em jornais, as HQs começaram a ser uma forma de lazer para toda a família. No século XX, acabaram se tornando uma grande e lucrativa indústria em países como Estados Unidos, Japão e França. Surgiram vários gêneros, como aventura, ficção científica e superaventura.
Essa diversidade acabou gerando algumas polêmicas que, muitas vezes, são resultado de um equívoco muito comum: achar que todas HQs são para crianças. Na verdade, apenas uma parcela delas é. Existe uma gama variada de gêneros destinados às mais diversas faixas etárias. Fato que ainda é ignorado por pais e professores.
Quem não se recorda da polêmica gerada pela graphic novel Um Contrato com Deus e Outras Histórias de Cortiço, de Will Eisner, ocorrida em 2009? A obra foi distribuída pelo PNBE e possuía cenas de violência e sexo, incluindo estupro. Apesar de ser indicada para um público mais adulto, estava em bibliotecas de escolas onde a faixa etária não ultrapassava os 11 anos de idade. De quem é culpa? Da falta de informação sobre uma mídia presente na nossa sociedade há mais de um século. Uma mídia cuja história é marcada por estereótipos e preconceitos que, em pleno século XXI, ainda persistem.
E no que se refere a preconceito, não podemos ignorar aqueles que envolvem o público feminino leitor de quadrinhos. Apesar dos homens ainda serem a maioria dos leitores, a cada ano o número de mulheres que leem HQs vem aumentado. Em busca deste mercado, as grandes editoras têm investido em personagens femininas fortes, que protagonizam desde quadrinhos biográficos a revistas mais populares de superaventura.
As mulheres não apenas leem quadrinhos como também produzem. E não é de hoje! No final do século XIX mulheres como a estadunidense Rose O’Neill faziam um enorme sucesso. Trina Robbins, nos anos de 1960 foi uma das primeiras mulheres a ingressar no movimento dos quadrinhos underground, nos Estados Unidos. Na década de 1970, Chantal Montellier liderou um grupo de cartunistas que criaram a primeira revista em quadrinhos dirigida e produzida por mulheres na França, Ah, Nana!
E o Brasil também tem suas representes. Da velha geração, podemos citar Maria Aparecida Godoy, que nas décadas de 1960 e 1970, produzia roteiros para quadrinhos de terror. Ela foi uma das primeiras mulheres negras inseridas no na indústria dos quadrinhos no Brasil. Atualmente, temos nomes como os de Ana Luiza Koehler, Cris Peter e Bianca Pinheiro, por exemplo, que são publicadas por grandes editoras e até participam dos mercados europeu e norte-americano.
Muitas outras quadrinistas vêm conquistando seu espaço e cativando leitores por meio de quadrinhos eletrônicos ou publicações independentes. Em entrevista concedida à revista Time, em maio do ano corrente, o renomado pesquisador e cartunista Scott McCloud disse acreditar que nos próximos oito anos as mulheres serão maioria, tanto como leitoras, quanto como produtoras de HQs.
As HQs têm se tornado o espaço de uma verdadeira revolução cultural envolvendo grupos socialmente marginalizados, desfolhando preconceitos e, ainda hoje, influenciando e formando uma parcela significativa da nossa juventude.
Crianças lendo quadrinhos em Nova York em 1943, durante a II Guerra Mundial – Disponível em http://www.terrazero.com.br/2011/10/rio-comicon-2011-analise/, acesso em 05 ago de 2015
Escrevo para lembrar que já tivemos aqui no Rio de Janeiro um Museu da História em Quadrinhos. Ficava na sede da Editora EBAL, em frente ao campo do Vasco, antes Saõ Cristóvão (hoje bairro Vasco da Gama). O prédio continua lá mas o acervo deve estar encaixotado em algum galpão do IPHAN ou outro.
A editora EBAL foi a pioneira no ramo e seu proprietário o Sr. Adolpho Aizem foi um grande editor e impressor de livros para as editoras cariocas. Foi a primeira editora a editar o Tarzan, Flash Gordom, Gin das Selvas e outros; além de várias revistas, inclusive uma especializada em cinema chamada CINEMIN.
Trabalhei na EBAL por 3 anos e tive a oportunidade de conhecer o mestre Gilberto Freire quando este na editora para o coquetel de lançamento da sua obra Casa Grande e Senzala em quadrinhos.
Com o fechamento da editora o seu acervo foi doado, inclusive o acervo do museu que ficava no 4º andar. Fazer o que….
Saudades….
Pois é, eu não tive a oportunidade de conhecer. Imagino o rico material da EBAL, do qual só conheço uma pequena amostra.
🙁