Grandes navegações: a vida dos grumetes

A maior parte dos grumetes, que cruzava os mares em direção à Colônia, vinha de famílias pobres que moravam nos arredores de Lisboa. Um ou outro era órfão ou fora arrancado de uma família de pedintes. Tinham de nove a dezesseis anos. Para os pais, essa era uma maneira de aumentar a renda da família. Eles recebiam o soldo ou pagamento que os pequenos ganhavam e se esses viessem a morrer em alto-mar, livravam-se de uma boca para alimentar. Também não se assustavam em saber que 39% da população de um navio, não voltava. A maioria cresceu com pancadas e fome.

Embora não passassem de adolescentes, eles realizavam a bordo todas as tarefas de um homem feito. Porém, recebiam de soldo menos da metade do que um marujo na mais baixa posição. Embora só tivessem que prestar contas ao chamado guardião – cargo abaixo do contramestre – eram explorados por marinheiros e até mesmo por pajens da nobreza. Apesar da mesma idade, os pajens tinham um cotidiano menos duro e chances de alcançar um posto na Marinha, servindo a algum oficial da embarcação.

Além do capitão, representante do rei de Portugal no navio, os demais tripulantes geralmente eram: o piloto que determinava tudo o que tinha a ver com navegação. O mestre que comandava todos os marinheiros, grumetes e pessoal de serviço. O mestre bombardeiro, encarregado dos canhões e da munição. O capelão, obrigado a rezar missa todos os domingos. O escrivão, que guardava todas as informações do que acontecia. Quem fizesse coisa errada, ia para a prisão: uma célula pequena, onde malfeitores tinham ferros amarrados aos pés ou enfiados em furos nas tábuas.

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Todos dormiam juntos no convés, ficando trancados, sob chuva ou sol. Não tinham direito a camas ou baús para guardar seus pertences. A comida era pouca: biscoito e um pote de água, por dia. Uma libra e meia de carne seca, peixes secos, cebolas e manteiga, por mês. Nada de desperdício. Higiene? Os navios não dispunham de banheiros. Nas longas travessias, não havia lugar para elegância nem olfatos delicados. Teriam que usar pequenos assentos dispostos sobre as amuradas. Como os marinheiros, eles usariam a mesma roupa, meses a fio e esta só seria lavada pela água da chuva. Aos poucos, os trapos se transformariam numa segunda pele, de cor indefinida e cheiro ruim. A pele, propriamente dita, ia acumular crostas de sujeira. Piolhos, pulgas e sarna fariam parte do cotidiano. As mãos ficariam como bolos de carne sangrenta e as unhas, quebradas e descoloridas. – Mary del Priore

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  1. Ronaldo Rubens

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