Uma das eleições mais disputadas da República Velha foi a de 1910, em que o marechal Hermes da Fonseca, sobrinho de Deodoro, disputou com o intelectual baiano Rui Barbosa. As fraudes eram comuns naqueles tempos e as eleições eram vistas como mera formalidade, já que os resultados eram tramados nos bastidores. Mas este pleito foi diferente, pelo menos, no que se refere à campanha. Nas ruas das principais cidades do país, era impossível ignorar que uma eleição presidencial se aproximava. Os meetings, hoje conhecidos como comícios, reuniam adeptos de uma e outra candidatura em teatros e outros locais públicos. Era programa popular entre os que tinham direito ao voto – privilégio de poucos – acompanhar discursos dos candidatos ou dos seus cabos eleitorais.
Quem lesse jornais ou revistas também seria bombardeado com as informações e debates eleitorais. O assunto não ficou restrito às colunas políticas e passou a ocupar outros espaços na imprensa. E não era só no Rio de Janeiro que a campanha se desenrolava. Pela primeira vez na história republicana do Brasil, os candidatos promoveram excursões eleitorais. A campanha de hermistas contra os civilistas, representados por Rui Barbosa, recolocou na cena política os militares, que tinham se afastado desde 1898. As casernas, antes silenciosas, se manifestaram na defesa do soldado-cidadão, salvador da pátria mergulhada em corrupção, coronelismo e cangaço.
De nada adiantou os paulistas financiarem a campanha de Rui, que percorreu o país procurando o respaldo popular, fato inédito na vida republicana brasileira. Hermes da Fonseca, apoiado pelas oligarquias de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, foi o primeiro militar a se eleger por voto direto. Ao assumir utilizou tropas federais para garantir a “política das salvações”. As “salvações” substituíam nos governos locais, sobretudo no Norte e Nordeste, candidatos favoráveis ao governo central, em detrimento de oligarquias que mandavam e desmandavam em benefício próprio. Entre intelectuais e camadas desfavorecidas da população, engordava um sentimento de desgosto com o conservadorismo político representado pelo presidente Hermes.
Márcia Pinna Raspanti/Mary del Priore.
Marechal Hermes da Fonseca: autoritarismo.
A trama nos bastidores continua a mesma.