DIÁRIO DE UMA MESTRANDA

Por Natania Nogueira.

Fui convidada a escrever minhas impressões sobre o mestrado que concluí esta semana. Pois é gente, sou mestra. Ainda não me acostumei com isso. Vejo as pessoas me cumprimentando com uma grande animação, enviando recados pelas redes sociais, me parando na calçada, dentro de uma loja ou numa lanchonete. Acho que nem quando tirei minha graduação recebi tantos cumprimentos. Olho para trás e penso: passou tão rápido!

Fiz meu mestrado bem mais tarde do que a maioria. Estou com 44 anos. Tenho mais de duas décadas de magistério e não tinha mais perspectivas de retornar às salas de aula como estudante. Mas eu pesquisava. Estava sempre participando de congressos, apresentando comunicações, disposta a aprender um poucos mais. Tentei durante algum tempo a seleção para o mestrado em História, mas não consegui. Eu não tinha encontrado ainda a minha paixão, aquele tema que iria resultar num projeto de pesquisa que poderia render uma dissertação de mestrado.

Minha avó, em sua sabedoria acumulada em 95 anos de existência gosta de dizer que as coisas acontecem no momento em que precisam acontecer. Foi mais ou menos assim comigo. Quando eu tinha quase desistido, não é que consegui?

Confesso que não consegui sozinha. Basicamente foram meus amigos que me colocaram no caminho do mestrado. Eles confiaram muito mais em mim do que eu mesma. Tive a sorte, também, de ter uma ótima orientadora, que sempre me incentivava a escrever e a pesquisar. É claro, que, nem tudo foram flores.

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Fazer uma pós-graduação exige sacrifícios. Nós sacrificamos fins de semana, férias, festas de família e saídas com os amigos. Mas tudo que se conquista com sacrifício tem um gostinho especial. Foram dois anos de muito leitura, escrevendo e reescrevendo o mesmo capítulos muitas vezes.

Enfim, o mestrado não é fácil, mas com certeza é uma experiência que vai ficar marcada para toda a vida. É uma etapa na formação profissional e pessoal que vai definir os rumos que vamos tomar na nossa carreira. No mestrado nós nos localizamos, nos encontramos enquanto pesquisadores.

A pior fase, na minha opinião, é o final. Por várias razões. A primeira delas é aquela sensação de vazio, de estar abandonando algo que fez parte da sua vida por 24 meses. Durante este período criamos relações afetivas com colegas e professores. Muitos passam a serem nossos amigos e confidentes. A segunda é aquela insegurança que bate no finalzinho. Você sabe que já passou pela qualificação e que seu trabalho está bom, mas na reta começa a fase do “se”. E se a banca não gostar do resultado? E se encontrarem alguma falha grave e eu tiver que refazer tudo? E se o revisor deixou passar algum erro gramatical? E se as referências não estiverem corretas?

Chega, então, o grande dia, o dia da defesa. Lá estão você, seus amigos e parentes que puderam comparecer e os professores que vão compor a banca. Naquele momento, o tempo parece que entra em colapso e as leis da física vão por terra. Primeiro, vem a sensação que tudo está acontecendo rápido demais. Em seguida, parece que o tempo para e, quando finalmente acaba, tudo fica em câmara lenta. Usando uma linguagem bem coloquial, a “ficha demora para cair”.

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Muito mais do que um título, o mestrado me trouxe mais confiança e me estimulou a ousar, a buscar na história o prazer da pesquisa. Então, findada esta fase, superado o cansaço e o estresse dos dias finais, fica a sensação de ter cumprido um rito de passagem.

Natania

Natania Nogueira: as dificuldades e alegrias do mestrado.

 

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