Dia de São João: religião, tradições pagãs e festa

Para o ciclo junino são consagrados três santos do mundo católico durante o mês de junho. São eles: Santo Antônio, São João e São Pedro, que alegram as festas juninas. Hoje é Dia de São João, um dos santos mais queridos do Brasil. Câmara Cascudo, em seu Dicionário do Folclore Brasileiro, destaca que o São João é festejado com alegrias transbordantes de um deus amável e dionisíaco com farta alimentação, músicas, danças, bebidas e uma marcada tendência sexual nas comemorações populares, adivinhações para casamento, banhos coletivos pela madrugada, prognósticos do futuro, anúncio de morte do curso do ano próximo… Segundo a tradição o Santo adormece durante o dia que lhe é dedicado tão ruidosamente pelo povo, através dos séculos e países. Se ele estiver acordado, vendo o clarão das fogueiras acesas em sua honra, não resistirá ao desejo de descer do céu para acompanhar a oblação e o mundo acabará pegando fogo. O seu nascimento coincide com o solstício de verão, quando as populações do campo festejavam a proximidade das colheita e faziam sacrifícios para afastar pestes, desastres naturais e a esterilidade.

No Brasil, cantava-se:

Se São João soubesse

Quando era o seu dia,

Descia do céu à terra

Com prazer e alegria

Minha mãe quando é meu dia

_ Meu filho, já se passou

_ Numa festa tão bonita

Minha mãe não me acordou

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Acorda, João!

Acorda, João!

João está dormindo

Não acorda, não!

           Os portugueses trouxeram da China, na segunda metade do século XVI, os foguetes, petardos, bombas, as bichas-de-rarbear, que se divulgaram em Portugal…No Brasil espalhou-se o costume em finais do século XVIII. (…) A maneira de se comemorar o santo era a mais sugestiva e fácil para o proselitismo. Os indígenas ficaram seduzidos. Em 1538, o jesuíta Fernão Cardim, indicando as três festas religiosas celebradas pelos indígenas com maior alegria, aplauso e gosto inicial, escreveu:

A primeira é as fogueiras de S. João porque suas aldeias ardem em fogos, e para saltarem as fogueiras não os estorva a roupa ainda que algumas vezes chamusquem o couro. (“Tratado da Terra e Gente do Brasil”, Rio de Janeiro, 1925). O franciscano Frei Vicente do Salvador, na segunda década do século XVII, informava que “os indígenas só acodem todos com muita vontade nas festas em que há alguma cerimônia, porque são muy amigos de novidades, como Dia de S. João Batista, por causa das fogueiras e capelas” (“História do Brasil”, São Paulo, 1918).

As simpatias também são típicas das festas juninas. Câmara Cascudo cita algumas simpatias amorosas:

  • Em noite de São João passa-se sobre a fogueira um copo contendo água, mete-se no copo sem que atinja a água um anel de aliança preso por um fio, e fica-se a segurar o fio; tantas são as pancadas dados no anel nas paredes do copo quantos os anos que o experimentador terá de esperar pelo casamento.
  • As moças passavam em cruz sobre as brasas copos cheios d’água, dentro dos quais quebravam ovos, e iam expô-los ao sereno: de manhã os examinariam: e conforme às posições tomadas pela clara e a gema, formando mais ou menos aproximadamente uma igreja, um navio, uma joia, significariam: casamento, viagem, riqueza, e assim por diante.
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Texto de Márcia Pinna Raspanti.

 

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Os índios ficavam fascinados pelos fogos na festa de S. João.

 

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