Por Felipe Pereira Rissato.
Na pesquisa iconográfica que realizei sobre Machado de Assis, a ser publicada na Revista Brasileira (da Academia Brasileira de Letras), encontrei aquela que pode ser a única fotografia conhecida de uma sessão da ABL ainda presidida pelo escritor, seu primeiro presidente! Surpreendentemente, pois julgo ser a mais importante de sua carreira literária, a fotografia jamais foi referenciada ao longo dos anos e muito menos republicada (estampada originalmente em Leitura para Todos, Rio de Janeiro, ano 1, n. 2, Dezembro, 1905).
Ela retrata, nada mais, nada menos, que a sessão de 31 de outubro de 1905, realizada no Silogeu, na qual Mário de Alencar foi eleito para ocupar a cadeira nº 21, vaga pela morte de José do Patrocínio. Mário de Alencar, que era discípulo de Machado de Assis e por este foi instado a se lançar candidato, ficou desgostoso com a eleição porque a imprensa desaprovou duramente o resultado, não entendendo como um jovem escritor teria derrotado alguém mais experimentado como Domingos Olímpio. Alencar teve 17 votos; Olímpio, 10 e o Padre Severiano de Rezende, 1 voto.
A própria Academia registra como documento iconográfico mais antigo de uma sessão pública a fotografia da sessão realizada em 17 de maio de 1909, já presidida por Rui Barbosa, na qual estava presente o literato francês Anatole France (publicada na revista Careta, Rio de Janeiro, ano 2, n. 51, de 22/05/1909); nada mencionando a respeito da imagem feita na sessão “privada” de 1905, ora resgatada.
Infelizmente, a imagem é “ingrata” e pouco se vê do rosto de Machado, de perfil, entre os acadêmicos Alberto de Oliveira e Silva Ramos, que na companhia de José Veríssimo o auxiliavam no andamento da sessão. Entretanto, mesmo que pouco se perceba da face de Machado, reputo o registro como sensacional. De frente para a mesa, na primeira fila, sentados da esquerda para a direita, estão: João Ribeiro, Sousa Bandeira, Raimundo Correia, Filinto de Almeida, Araripe Júnior, Salvador de Mendonça e Lúcio de Mendonça; na segunda fila, no mesmo sentido: Guimarães Passos, Arthur Azevedo, Olavo Bilac e Coelho Netto.
Os acadêmicos Alcindo Guanabara, Inglês de Souza e Rodrigo Octavio, também participaram da sessão (conforme registra o livro de atas), mas provavelmente ali chegaram somente após ter sido tomada a fotografia. A revista Leitura para Todos equivocou-se em mencionar a presença do barão de Loreto (que não participou da sessão) no lugar de Salvador de Mendonça.

Imagem mostra o escritor presidindo a sessão (seta).
Felipe Pereira Rissato é pesquisador independente, que se dedica atualmente a pesquisas sobre os escritores Machado de Assis e Euclides da Cunha.
Um achado e tanto, trabalho magnífico de garimpo e um tesouro em um país como o nosso onde a memória é coisa escassa. Parabéns Sr. Felipe P. Rissato por revelar essa preciosidade.
Muitíssimo obrigado, Sr. Luís Freitas. Espero poder encontrar e divulgar muito mais, em prol da memória de nosso querido país.
Um forte abraço,
Felipe
Nossa, que bom ver que é de um pesquisador independente.
Estava aqui justamente me lamentando da dificuldade de financiamento. Principalmente logo depois da entrevista do presidente da fapesp a Folha.
Inspirador.
Prezada Gabriela,
Obrigado pelo comentário.
Realmente, pesquisar em nosso país é muito difícil. Sem uma bolsa então, imagine. Mas faço-o com muito gosto, pelo prazer do resgate de nossa cultura, infelizmente apreciada por uma parcela mínima. Mas é justamente esta centelha que me faz seguir em frente!
Um grande abraço,
Felipe