Edição do dia 02/01/2015
02/01/2015 22h08 – Atualizado em 02/01/2015 22h08
Quase meio século depois, Roberto Farias revê ‘carnaval quatrocentão’.
“Parece um milagre”, diz Roberto Farias.
A TV Globo funcionava em fase experimental, antes da inauguração.
“Eu peguei todo o grupo de cinegrafistas da Globo e mandava um para cada lugar. Você vai pro teatro, você vai pra Presidente Vargas”, conta o diretor Roberto Farias.
Mulher do tricô era uma das figuras do carnaval
E eles registraram a festa do povo nas ruas, o desfile das escolas debaixo de chuva, as beldades nos bailes do Theatro Municipal e o lança-perfume, depois proibido.
No concurso de fantasias, Wilza Carla, Clóvis Bornay e as celebridades da época.
“Romy Schneider e Jorginho Guinle. Olha lá, Di Cavalcanti”, aponta Roberto Farias ao assistir as cenas.
Na praça, com visão privilegiada. Uma das figuras do carnaval: a mulher do tricô.
“Ah, essa mulher era tradicional. Ela ficava em pé no Theatro Municipal fazendo tricô durante o carnaval. Oh, o carnaval comendo e ela ali em pé fazendo tricô.”, lembra Roberto Farias.
Imagens mostram pessoas saindo da prisão na quarta-feira
As equipes registraram os últimos a sair dos bailes. E uma queda na escada. Os nobres desfilam na carruagem, mas o reinado de Momo chega ao fim.
“Silenciam-se as orquestras, guardam-se os pandeiros e calam-se os tamborins. É o fim da magia”, diz o locutor Aluísio Pimentel na gravação do filme.
Inconsolável, um jovem insiste em se enroscar na chave da cidade. “Isso é Cinelândia. Um cara num pileque bárbaro.”, comenta Roberto Farias.
E, na quarta-feira, um grupo amanhece na praia. “Deu um clima tão bonito. Tem um palhaço ainda tomando um chope.”, diz o diretor Roberto Farias.
Imagens também mostram pessoas saindo da prisão, na quarta-feira. Cenas guardadas desde 1965 até que começou o esforço para que elas voltassem a ser exibidas.
Laboratório francês concluiu que a restauração não seria possível
“É o primeiro filme que a Globo fez. É o primeiro filme do jornalismo. Ele foi feito em março de 1965, em função dos 400 anos da cidade do Rio de Janeiro. E eu acredito que este seja o primeiro registro que a Globo tenha de jornalismo”, afirma Rita Marques, gerente Centro de Documentação – TV Globo.
Um laboratório francês com grande experiência em recuperação de filmes antigos fez uma avaliação e concluiu que a restauração não seria possível. Mas a equipe de um laboratório no Rio resolveu aceitar o desafio. Foi um trabalho artesanal, que demorou um ano para ficar pronto.
A única cópia, em 16 milímetros, não tinha condições de rodar numa máquina, porque tinha deformado e perdido as faixas nas laterais. Francisco refez 312 metros de bordas e mais de 50 mil perfurações.
Filme de 26 minutos mostra um carnaval memorável
“Porque em caso contrário, você não poderia digitalizá-lo, não poderia ser passado por nenhum processo de telecinagem e você não poderia gerar nenhum arquivo digital”, conta o restaurador Francisco Moreira.
Em 26 minutos, um carnaval memorável. O Rio comemorava o aniversário de 400 anos.