Mary del Priore para a revista Aventuras na História.
No passado colonial, a tarefa mais importante para os pais era a doutrinação cristã dos filhos. Segundo os educadores da época eles tinham que estabelecer com sua prole uma relação de “entretenimento honesto, educação e bom exemplo”. O padre João Filipe Bettendorf, por exemplo, escrevia no século 17 que seriam considerados grandes pecadores os pais e mães, padrinhos ou madrinhas que não se aplicassem em ensinar o catecismo aos seus filhos ou afilhados.
Desde pequeninas, as crianças deviam aprender a rezar o Padre-Nosso e a Ave-Maria, beijando o chão, para lembrar-se da existência do inferno. Depois de 7 anos, deviam rezar um rosário pela manhã, um à noite, outro ao deitar. Não deviam comer, nem beber, sem rezar uma Ave-Maria em louvor à mãe do Senhor.
A educação das meninas devia evitar que elas se tornassem “um instrumento do demônio” – como dizia um padre da época. Por isso mesmo deveriam seguir regras particulares que lhes dariam certos “divertimentos e a certos pecados ocultos”. Já um manual pedagógico de 1783 recomendava às mães que amassem “o retiro de sua casa e a ocupação”, pois apenas o trabalho e o enclausuramento serviriam como remédio para o seu temperamento desregrado. As mães deveriam, também, conservar as meninas em sua companhia, evitando o contato com outras meninas “que lhes ensinem o que nunca devem saber sobre os meninos”! Deveriam ensinar-lhes a falar pouco, com discrição e apenas sobre assuntos “úteis e honestos”.
Não podiam vestir-se para agradar os rapazes, nem ler “romances, nem comédias, nem poesias perigosas onde se pintam as paixões com representações imodestas”. Dançar seria considerado “indigníssimo”, pois a dança é um “laço do Demônio do qual raramente se sai tão puro quanto se entra”. A mãe que conduzisse sua filha a espetáculos, como a ópera ou o teatro, a estaria “conduzindo a um precipício”. Era, ainda, considerado um defeito gravíssimo uma menina olhar fixamente um homem. A preocupação em preservar a pureza da jovem relacionava-se com a preocupação em torná-la um “bom partido”, sobretudo se pertencesse à elite senhorial. Mantendo-a alheia a toda informação que o teatro ou a leitura pudesse trazer, a família garantia seu comportamento submisso ao pai, e, mais tarde, ao esposo.
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