As mudanças comportamentais que se deram no Brasil em meados do século XX não chegaram da mesma maneira, em toda a parte. As áreas mais urbanizadas sofriam as influências do cinema de Hollywood, das revistas e das “modernidades”. No interior, o peso da moral chegava a espantar padres jesuítas que, em 1925, percorriam vilarejos em “missão” espiritual, Um deles, escrevendo aos superiores comentava que tinha dificuldade em confessar os jovens, não porque houvessem “consciências enredadas”. Mas porque esses eram ignorantes, e não tinham conhecimento suficiente para pecar. E acrescentava: “E com que ingenuidade respondem ao padre que os interroga, com essa expressão admirativa e repulsiva, “Virgem Nossa Senhora!”.
A Igreja também acreditava que pessoas mais velhas não pecavam. O diálogo do confessor, captado por Nelson Rodrigues, é fotográfico:
“E súbito o padre pergunta: “Que idade tem a senhora”. Disse, espantada: “Sessenta”. “Sessenta” o outro insiste: – “Sessenta? A senhora disse sessenta?”. Percebeu que o padre ia num crescendo de irritação. Ele continua: “E a senhora vem para cá com sessenta anos?”. Aterrada balbuciou: “Como? O que é que o senhor está dizendo?”. E o padre “Isso não é idade de se pecar, minha senhora. Aos sessenta anos ninguém peca. Quer dar o lugar á próxima. Passar bem, minha senhora”.
O Brasil dos anos 50 viveu um período de ascensão da classe média. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o país assistiu otimista ao crescimento urbano e a industrialização sem precedentes que conduziram ao aumento das possibilidades educacionais e profissionais. As distinções entre os papéis femininos e masculinos, entretanto, continuamente nítidas; a moral sexual diferenciada permanecia forte e o trabalho da mulher, ainda que cada vez mais comum, era cercado de preconceitos e visto como subsidiário ao trabalho do “chefe da casa”.
Se o país acompanhou, à sua maneira, as tendências internacionais de modernização e emancipação feminina – impulsionadas com a participação das mulheres no esforço de guerra e reforçadas pelo desenvolvimento econômico – também foi influenciado por campanhas estrangeiras que, com o fim da guerra, passaram a pregar a volta das mulheres ao lar e aos valores tradicionais da sociedade. –Texto de Mary del Priore.
“Homem Velho”, de Vincent Van Gogh.