O jornalista Franklin Martins “garimpou” mais de 1.100 obras musicais para escrever a trilogia “Quem foi que inventou o Brasil?” – título inspirado em uma marchinha de Lamartine Babo. Serão três volumes (dois deles já lançados) contando – com relatos, letras e imagens – a história da República. Além dos livros, o autor disponibilizou um site onde é possível ouvir verdadeiras preciosidades da nossa MPB, desde o primeiros anos do novo regime.
Podemos encontrar curiosidades, como a canção de Arthur Azevedo, “As Laranjas de Sabina”, sobre um protesto contra a retirada da ambulante, negra, que vendia as frutas diante da Academia de Medicina, no Rio de Janeiro. Ou “A Vacina Obrigatória” de Mário Pinheiro, que conta o drama a campanha obrigatória de vacinação contra a varíola, que causaria a Revolta da Vacina,no Rio de Janeiro, em 1904.
“Anda o povo acelerado com horror à palmatória
Por causa dessa lambança da vacina obrigatória
Os manatas da sabença estão teimando dessa vez
Em meter o ferro a pulso bem no braço do freguês”
Também podemos ouvir obras compostas para campanhas políticas como “Varre, Varre Vassourinha”, que foi tema da candidatura de Jânio Quadros à presidência da República em 1960. Ou o “Retrato do Velho”, de Haroldo Lobo e Marino Pinto, na voz de Francisco Alves, que marcou a campanha de Getúlio Vargas, em 1950. Há também inúmeras marchinhas e canções que tratam de temas importantes em diferentes épocas. A deliciosa Sinhá Lurdinha, do soldado Natalino Cândido da Silva, fala das dificuldades enfrentadas pelos soldados brasileiros na 2ª Guerra Mundial (Lurdinha era o apelido da metralhadora Alemã MG-42).
“Subindo ao monte
Eu encontrei Sinhá Lurdinha
Tava toda afobadinha
Querendo me pegar
Joguei-me ao solo
E comecei a rasteja-la
Farejava, farejava
Mas nada de me encontrar”
O acervo também traz obras bastante conhecidas, como as músicas compostas durante a ditadura militar, entre elas, a belíssima “Para não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré, e a ufanista “Eu te amo, meu Brasil”, de Dom e Ravel, na voz dos Incríveis. O final do regime é anunciado com “O Bêbado e o Equilibrista”, que se imortalizou com a interpretação emocionante de Elis Regina. A Nova República foi celebrada com ironia por Juca Chaves:
“O povão está preocupado e chora
o fantasma que seria presidente
mas ninguém preocupou-se até agora com a piora
do nosso brasilzinho tão doente
pois é clinicamente não é segredo
o que preocupa o povo isso eu sei
não é somente a ausência do simpático Tancredo
é o excesso de saúde do Sarney, chorei”
A expansão da chamada “cultura da periferia” ou “do gueto”, com a popularização do rap e do funk, é outro tema importante, que não foi esquecido. “Brasil com P”, escrita pelo rapper Gog em 2000, é um bom exemplo. O “Rap da Felicidade”, de Cidinho e Doca, marcou época com o refrão:
“Eu só quero é ser feliz
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar”.
Enfim, é bom ter bastante tempo para explorar o rico acervo. As obras de domínio público, as de campanha política e aquelas cujos autores deram autorização estão disponíveis na íntegra. Das outras, infelizmente, só podemos ouvir um pequeno trecho, como determina a legislação. O material também foi utilizado em uma exposição, no Instituto Tomie Ohtake, já encerrada.
Para acessar o portal e o site:
http://quemfoiqueinventouobrasil.com/
Texto de Márcia Pinna Raspanti.
Importantes momentos da História do Brasil: “Revolta da Vacina”, 1904 (charge publicada em “O Malho”); campanha de Jânio Quadros, em 1960; Getúlio Vargas no poder; ditadura militar.
Adorei amo historia.