O tema da redação do Enem deste ano foi “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”. Isso é um grande avanço, pois, levou sete milhões de estudantes a parar para pensar cuidadosamente no assunto e organizar suas ideias em um texto. Acho que já passou da hora de tratarmos da violência (sexual ou não) contra a mulher com a seriedade que ela merece. É preciso combater as ideias e tradições que incentivam a inferiorização do sexo feminino. As mulheres devem se mobilizar, independente de suas posições ou simpatias políticas, para combater esse mal. E sensibilizar os homens em relação ao problema, mostrando que uma “inocente” brincadeira ou ironia é ofensiva, nos incomoda e serve para minimizar a seriedade deste tipo de crime.
Para a historiadora Mary del Priore, as mulheres devem liderar esta movimentação. “Precisamos de uma mobilização que agrupe grupos de mães, feministas, profissionais organizadas em sindicatos, vereadoras e deputadas, professoras e estudantes, religiosas, enfim, de mulheres de todos os segmentos para dizer, diariamente, não à violência; e para pressionar, sem tréguas e por todos os meios, as autoridades. Mulheres dispostas a lembrar-lhes, incansavelmente, que qualquer forma de constrangimento físico viola um valor sagrado de nossa sociedade: a integridade do indivíduo”, destaca.
A mulher sempre foi vista como objeto do desejo na maioria das culturas e, em pleno século XXI, ainda não conseguimos nos desvencilhar dessa amarra. Claro que queremos ser atraentes, mas não podemos mais ser tratadas como objeto ou mercadoria. Historicamente, a beleza e a sensualidade femininas sempre foram valorizadas e, ao mesmo tempo, temidas:
“Sexo belo ou sexo frágil, tais denominações vinculam-se às imagens que nossa sociedade fez deles, de sua beleza ou de sua saúde. No passado, o corpo da mulher era visto com as marcas da exclusão e da inferioridade. Cristalizada pelas formas de pensar de uma sociedade masculina, a evocação das imagens do corpo e da identidade feminina, na pluma de diferentes autores, refletia apenas subordinação: ele era menor, os ossos pequenos, as carnes moles e esponjosas, e o caráter, débil. A subordinação expressava-se, ainda, na capacidade de reproduzir, quando solicitada pelos homens. Contudo, na outra ponta dessa submissão, a mulher era senhora de beleza e sensualidade – aliás, beleza considerada perigosa, pois capaz de perverter os homens; sensualidade mortal, pois se comparava a vagina a um poço sem fundo, no qual o sexo oposto naufragava. As noções de feminilidade e corporeidade sempre estiveram, portanto, muito ligadas em nossa cultura”, diz Mary del Priore.
Lutamos contra séculos de inferiorização e dominação. Não é uma batalha fácil, mas não podemos mais nos acovardar e esperar que as coisas melhorem por si. – Texto de Márcia Pinna Raspanti.
Saiba mais:http://goo.gl/jS8Efh
O Enem também trouxe uma questão sobre o feminismo, com uma citação de Simone de Beauvoir. Confira:
“Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino.
Na década de 1960, a proposição de Simone de Beauvoir contribuiu para estruturar um movimento social que teve como marca o(a)
a) ação do Poder Judiciário para criminalizar a violência sexual.
b) pressão do Poder Legislativo para impedir a dupla jornada de trabalho.
c) organização de protestos públicos para garantir a igualdade de gênero.
d) oposição de grupos religiosos para impedir os casamentos homoafetivos.
e) estabelecimento de políticas governamentais para promover ações afirmativas.”
Resposta C.
Não acho que seja distorcida de forma alguma. É cabível argumentar contra uma questão como a legislação pró-mulher que muitos acreditam ser obra do “demoníaco” governo do PT. Mas não é, isso é uma tendência internacional. Defendo essa tese pelo fato de presenciar a situação de homens e mulheres vítimas de homens e mulheres! Ou seja, o que Hobbes diria numa situação de intervencionismo exacerbado do Estado em prol de um gênero só? Seria o ser humano – homem- tão cruel, machista, patriarcal, estuprador em potencial para ter sua conduta constantemente monitorada por causa de uma demanda? Sei dos números que mostram mulheres violentadas e estupradas… nojento, abjeto! Por homens? Somente por homens? Temos uma geração inteira (de meninos) sendo criada sob um estado de determinações psicossociais, que acreditam piamente que são culpados pela condição de “inferioridade” da mulher por causa de… bem, não vou repetir, cansei, todos sabemos. Onde está o chamado “princípio da isonomia”, tão conclamado para a defesa de leis em favor do gênero feminino? A lei Maria da Penha funciona muito bem… pergunte aos milhares de homens que estão afastados de seus filhos por medidas protetivas expedidas em prol de mulheres vingativas e alienadoras. A lei abarca a todos e, como você escreveu, é mantida para um bem comum. Mas será que as mulheres realmente ameaçadas estão sendo atendidas por ela? Tem algo que não se encaixa.
Bem, Márcia, como você me interpelou sobre essas falsas acusações de que falei, vou te passar alguns endereços eletrônicos para que você verifique pessoalmente.
http://michelhmartins.jusbrasil.com.br/noticias/172035472/aluna-de-pedagogia-da-usp-faz-registro-falso-de-estupro?ref=topic_feed
Esse é relativo a um processo de divórcio, no qual a mãe acusou o pai de ter estuprado a própria filha
http://avfdas.blogspot.com.br/
Site de pais e mães vítimas de Alienação Parental. Sim, as maiores alienadoras são as mulheres. Mas homens também alienam. http://www.apase.org.br/62003-livrofalsasacusacoes.htm
Sobre o mau uso da Lei Maria da Penha http://www.folhavitoria.com.br/policia/noticia/2012/04/mulher-faz-mau-uso-da-lei-maria-da-penha-para-prejudicar-companheiro-em-vitoria.html
Mais um parecer jurídico sobre falsas acusações (de mulheres contra homens, tendo como base a Lei Maria da Penha).
http://www.conjur.com.br/2011-ago-04/mulher-condenada-acusar-ex-marido-falsa-agressao
Jurisprudência entendendo que homens podem requerer para si o uso da Lei
http://direito-publico.jusbrasil.com.br/noticias/157860/lei-maria-da-penha-e-aplicada-para-proteger-homem
Se você quiser fontes confiáveis, te aconselho a visitar sites como o JusBrasil e os especializados em pessoas vítimas de Alienação Parental. No mais, um abraço.
Começo repetindo parte da minha resposta anterior: “Sempre existe a possibilidade de haver pessoas mal intencionadas que façam acusações levianas – isso se aplica em todo o tipo de legislação -, o que não invalida as leis em questão. Existem mecanismos legais para evitar que isso ocorra – inquérito policial, exame de corpo de delito, direito de defesa, etc”. Obviamente existem acusações falsas. Se fizermos uma breve pesquisa encontraremos também exemplos de pessoas que acusaram outras indevidamente de roubo, furto e até de homicídio. Isso não significa que devemos simplesmente acabar com a legislação sobre esses crimes. Casos de estupro, abuso e violência doméstica devem ser investigados com todo o cuidado – como deve ocorrer com todas as ocorrências graves. Eu poderia também colocar aqui inúmeros links com notícias de crimes graves cometidos contra mulheres-, assassinatos, mutilações e outros fatos chocantes-, mas acho absolutamente inócua a discussão. O que eu havia questionado – e continuo a questionar – é o fato de você acreditar que as mulheres seriam mais propensas a fazer acusações falsas. O número de estupros ocorridos no Brasil é assustador, assim como de violência doméstica – não há como negar. Agora, recusar-se a sequer discutir o assunto ou achar que abordá-lo é uma opção ideológica, me parece uma leitura completamente distorcida.
Estive sentado na primeira cadeira da Faculdade de Odontologia da UFMG esperando a minha prova (mesmo já tendo concluído o meu curso superior). Quis verificar como está o meu nível de conhecimento acerca de temas gerais. No sábado, dia 24/10, constatei que a questão referente à feminista Simone de Beauviour causou reações orgiásticas em uns e de desconfiança em outros. Afinal de contas, como a prova era de Ciências Humanas e suas tecnologias, não se sabia se aquela era uma questão de História, Sociologia ou Filosofia. Se for pelo viés da competição inerente ao exame, pouco importava, uma vez que a prova serve para medir as competências dos alunos e sua capacidade de reflexão e concatenação de processos sócio-culturais no tempo e no espaço. Por outro lado, incomoda a escolha de Simone de Beauviour para a questão, pelas suas ideias, posições políticas bem conhecidas por uns (e não tão conhecidas pela maioria) e pela vida controversa que ela teve, desde sua atuação na Rádio Vichy na França colaboracionista até a sua participação no movimento pró-pedofilia na França (junto com Satre e Foucalult) o chamado Front de libération des Pédophiles. Ainda sobre a tentativa de entendimento do motivo do MEC ser tão particularista ( uma vez constatada a crise nas democracias ocidentais contemporâneas que afetam de maneira negativa os direitos humanos de todos os segmentos da sociedade), me dirigi para o segundo dia de prova. Pelo menos pela prova de humanas, a posição ideológica do MEC foi clara. Situação essa que se confirma com o tema da redação, que destaca a violência contra a mulher numa escala crescente. Não entro no mérito se a mulher merece ou não mais ou menos intervenção do Estado para a sua própria proteção (até por que a agressão em todas as suas formas é um atentado à condição de qualquer ser humano). Só me pergunto se existe a consideração de que vivemos numa crise do chamado Estado de Direito, no qual homens e mulheres são linchados por justiceiros sociais, homens e mulheres são separados de seus filhos pela justiça (note, as mulheres detém a guarda dos filhos na maioria das vezes no divórcio), a legislação da lei Maria da Penha coloca o homem como o alvo a ser perseguido e várias outras características que são bem vívidas na existência de homens e mulheres. Por que não se considerar a situação da família no casamento? Por que a persistência de que o homem é o maior responsável pelos conflitos domésticos? Se essa é uma questão controversa, porque utilizá-la em uma prova que visa inserir o jovem em um ensino superior? Fora as outras provas em que não tive um conhecimento aproveitável ( mais precisamente, Matemática e as Ciências da Natureza) questionei a minha própria formação como ser humano. Pois sempre acreditei que somos feitos de atitudes e sentimentos, homens, mulheres, crianças e idosos. Não entendo o porque do MEC não considerar que estamos todos no mesmo barco que está afundando, como o Titanic. A máxima era ” mulheres e crianças primeiro”, nada mais do que justo. Mas, diferentemente do famoso transatlântico, o nosso navio do cotidiano que está afundando diz ” mulheres primeiro”. O resto… bem… (silencio)… Deveria ter ficado em casa nos dois dias e curtido o meu filho.
Oi, Wellington. Malgrado qualquer controvérsia relativa à biografia de Simone de Beauvoir, o feminismo é um dos mais importantes fenômenos ou movimentos do século XX, e faz todo o sentido que seja cobrado em um exame do tipo Enem. Se apenas os personagens que não estivessem envolvidos em qualquer polêmica fossem objeto de estudo e reflexão, restaria pouco da História para ser estudado. No que se refere à redação, acredito que não dá para ignorar o número crescente de estupros (50 mil por ano no Brasil) e de feminicídios (homicídios causados por questões de gênero), o que mostra, infelizmente, a relevância do assunto. Sim, os homens também sofrem com a violência, mas um tema de redação precisa ser específico – poderia ser mortes no trânsito, violência contra idosos ou crianças, contra animais, etc, mas qualquer que fosse a escolha, haveria críticas e aplausos. Vivemos tempos muito difíceis para quem estuda ou ensina ciências humanas, pois, qualquer linha ou objeto de pesquisa é sempre acusado de ser “ideológico”, no sentido pejorativo da palavra. A Lei Maria da Penha veio para proteger as mulheres que sofrem agressão física, não vejo como isso faz dos homens alvos a serem perseguidos – afinal, não acredito que alguém defenda o direito à violência doméstica. Há um grande exagero nessas acusações contra o Enem: o exame existe desde 1998 e quando, em 2015, surge uma questão relativa ao feminismo e o tema da redação é sobre violência contra a mulher, faz-se todo um drama sobre um suposto viés ideológico. É bom destacar que vários autores apareceram nas provas, como Friedrich Nietzsche, Max Weber, Sérgio Buarque de Holanda, Paulo Freire, Carlos Drummond de Andrade, o cartunista Ziraldo, entre outros. Obrigada.
O motivo de tanta polêmica em torno desse assunto? Pergunte para o judiciário abarrotado de falsas denúncias de violência contra a mulher, que desencadeia uma reação como esta que estamos presenciando. Por causa dessas acusações, milhares de vidas estão sendo destruídas todos os dias nos tribunais desse país. Cá pra nós: isso é uma avaliação do Ensino Médio. Já pensou que isso pode ser um símbolo de indignação que ultrapassa os meios político e acadêmico? Faça uma pesquisa nas delegacias de mulheres que você vai constatar isso. Nunca aguardei com tanta euforia o resultado da redação do ENEM. Pra rir muito do deboche que fatalmente vidas destruídas por essas falsas acusações farão do tema.
Oi, Wellington. Não conheço (e não sei se existe) algum levantamento confiável sobre falsas denúncias de violência contra a mulher (se houver, seria importante que você trouxesse ao nosso conhecimento). Sempre existe a possibilidade de haver pessoas mal intencionadas que façam acusações levianas – isso se aplica em todo o tipo de legislação -, o que não invalida as leis em questão. Existem mecanismos legais para evitar que isso ocorra – inquérito policial, exame de corpo de delito, direito de defesa, etc. Parece-me que você está afirmando que as mulheres são mais desonestas que os homens ou mais propensas a “inventar” ocorrências. É isso mesmo? Como você pode afirmar que as acusações são falsas? Milhares de vidas são destruídas por estupros, abusos, agressões e assassinatos – disso tenho certeza. É realmente muito triste que você ache que um assunto tão sério mereça risadas e deboche. E isso mostra como é necessário que o tema seja discutido por toda a sociedade e também como o Enem acertou em sua escolha.